“Não existe coral na foz do Amazonas. Isso não é verdade. Isso é fake news científica. Existem rochas carbonáticas semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, contesta Anjos, que, na última semana, requentou o debate numa palestra na Coppe/ UFRJ. Há nove anos, a Petrobras vem pesquisando e não identificou, nesse período, a presença de corais na região. O estudo de impacto foi feito com o Cenpes, o centro de pesquisa da empresa, e mais dez instituições científicas.
Em resposta, a coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade, respondeu que a região da Foz do Amazonas já é alvo da exploração de petróleo e gás há anos. “Insistir nessa atividade em uma região de tamanha sensibilidade ecológica e de importância para a conectividade biológica na região do Atlântico é um equívoco estratégico e ambiental”. A mensagem que o Brasil transmite ao se apressar para explorar petróleo na Foz do Amazonas sugere, diz ela, “negacionismo científico”.
O Brasil tem condições de liderar pelo exemplo uma transição energética global e ser protagonista na agenda climática, mas poderá ir de herói a pária climático caso o governo insista na abertura de uma nova fronteira de petróleo na Amazônia.
Os dois lados admitem que a água da região é turva, devido a enorme quantidade de sedimentos e nutrientes que a foz do Amazonas recebe, o que reduz a penetração da luz solar. Descoberto em 2016, o recife de corais ainda precisa ser mais estudado e catalogado pela ciência. Tanto a Petrobras quanto o Greenpeace lançaram mão de derivadores, equipamentos oceanográficos que emitem sinais de localização, como “boias com GPS”, para detectar a ocorrência ou não dos corais. Os resultados vão em sentidos opostos.
Os estudos feitos pelo Greenpeace, em parceira com Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), indicaram que, num eventual vazamento próximo aos sistemas recifais do Amazonas, o óleo pode chegar na costa da Guiana Francesa, cuja boa parte do litoral é coberta por manguezais. “Os impactos ao meio ambiente não reconhecem fronteiras”, afirma Andrade, reconhecendo que a área abriga rochas calcárias, mas também peixes, corais e muitos organismos sensíveis a perfurações como a exploração de óleo e gás.
Os acidentes, segundo Sylvia, ocorrerem, com mais frequência, no transporte dos insumos. Disse ainda que a Petrobrás já perfurou mais de 5,4 mil poços marinhos, sendo 3 mil deles em águas profundas, e que “não é no momento da perfuração que ocorrem os acidentes”.
“O Brasil tem condições de liderar pelo exemplo uma transição energética global e ser protagonista na agenda climática, mas poderá ir de herói a pária climático caso o governo insista na abertura de uma nova fronteira de petróleo na Amazônia”, declarou a diretora de Campanhas do Greenpeace Brasil, Raíssa Ferreira, em resposta a acusação de “fake news” pela diretora da Petrobras.
O fim do debate depende do novo parecer do Ibama, que ainda não tem data para sair. Se o órgão der o aval, o debate mudará de patamar, colocando um ponto final na briga de narrativas. O vínculo entre clima e economia é indissociável, mas, dependendo do assunto, a polêmica entre visões de mundo cria uma separação entre os temas.
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