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Demissão de ministro não afetará relação de Lula com militares, mas governo enfrentará desafios, avaliam especialistas

Planalto e PT, porém, mudam postura e devem aceitar instauração da CPMI para apurar atos criminosos de 8 de janeiro
Divulgação/ GSI

O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República teve a primeira queda de ministro nesta quarta-feira (19). Após imagens reveladas pela CNN da presença de Gonçalves Dias no Palácio do Planalto durante os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro, ele pediu demissão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Ele havia se reunido nesta quarta-feira com o presidente, pouco antes da CNN confirmar seu pedido de demissão. Dias era tido como um militar próximo do presidente, por ter atuado em sua segurança pessoal durante os primeiros mandatos, de 2003 a 2009, e também durante a campanha de Lula para as eleições de 2022.

Especialistas ouvidos pela CNN ponderaram que, ainda assim, a relação entre Lula e as Forças Armadas não deve ser abalada, por mais que a administração federal ainda enfrente alguns desafios e uma “zona nebulosa” no processo de apaziguamento.

Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação de Relações Institucionais e Governamentais do Mackenzie Brasília, explica que a demissão de um ministro do GSI, em tese, “não impacta nenhum governo“.

Entretanto, o impacto político é grande devido aos atos criminosos do dia 8 de janeiro, o que também acaba fortalecendo, segundo o especialista, a tese da oposição para instauração da CPMI.

Coimbra pontua que o GSI era, durante a Ditadura Militar, a Casa Militar — um gabinete do Planalto, como a Casa Civil. Ela perdeu importância e foi rebatizada como Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Fernando Henrique Cardoso. Durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL), reconquistou relevância.

Eduardo Grin, cientista político e professor da FGV, entende que a demissão de Dias “é mais um episodio dentro desse processo de despolitização das forças de segurança” e mostra um processo de “depuração” das Forças Armadas.

Grin destaca ainda que houve, em sua opinião, radicalização política e instrumentalização das forças de segurança durante o governo de Jair Bolsonaro. Pondera também que “há ainda muita indefinição, confusão de militares que seguem tendo muita resistência com o governo lula, adeptos de um discurso autoritário”.

“Isso tudo mostra que a relação do governo Lula vai tomar um tempo, que não se sabe qual, para equilibrar essa situação”, observa. “O governo ainda vai enfrentar outros desafios de conter ânimos das FAs, mais especificamente do Exército, que tem concepção ainda de que funcionam como um quarto Poder”, avaliou.

Christopher Mendonça, doutor em Ciência Política e professor do IBMEC Belo Horizonte, analisa, por sua vez, que, por mais que a saída de Dias não interfira diretamente na relação entre Lula e as Forças Armadas, coloca o governo em uma situação sensível.

“Em um momento que o chefe do Executivo lida com demandas essenciais como a aprovação do arcabouço fiscal e a reforma tributária, não estava planejado gastar forças explicando se houve ou não envolvimento – ainda que por inação – do governo no maior ato de depredação pública dos últimos anos”, diz.

Mendonça também ressalta que Dias era um dos homens de confiança do presidente Lula desde o seu primeiro mandato, o que gera um desgaste na imagem da figura presidencial que ainda precisa ser mapeada.

Ao mesmo tempo, Márcio Coimbra avalia que o agora ex-ministro ser “descolado das Forças Armadas” e visto como opção pessoal do presidente é um dos motivos para não impactar a relação com as FAs.

“O que pode surpreender é a escolha de um nome que não seja militar. Ele enfraquece as Forças Armadas e manda uma sinalização muito importante. Seria a primeira vez na história com um civil”, diz, pontuando que Lula teria que “bancar” essa mudança, que pode não agradas as Forças.

Além de Gonçalves Dias, também foi exonerado o secretário-executivo do GSI, general Ricardo José Nigri. Assim, foi escolhido Ricardo Cappelli, um civil jornalista de formação, para o comando interino do órgão.

Ele é braço-direito do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e foi secretário de Estado no Maranhão. Também foi interventor na segurança do Distrito Federal após os ataques aos Três Poderes.

O presidente, porém, só deve definir quem assumirá definitivamente o Gabinete a partir do dia 26 de abril, quando volta de agenda em Portugal e Espanha.

Eduardo Grin complementa que as investigações continuarão e que é possível que os militares não lutem contra possíveis punições contra alguns integrantes, em uma maneira de “mostrar que não queremos impunidade” e de dissociar o indivíduo que possa ter cometido possíveis crimes da instituição.

CPMI dos atos criminosos de 8 de janeiro

Conforme noticiado pela CNN, o Palácio do Planalto e a cúpula do PT, antes reticentes com a instauração de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), mudaram de estratégia de pressionar pela retirada de assinaturas para investigação dos atos criminosos de 8 de janeiro.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), adiou para a próxima semana a sessão do Congresso em que deverá fazer a leitura do ato de criação da comissão.

Para Márcio Coimbra, a CPI se torna “inevitável” para avaliar as duas narrativas que podem ser disputadas: de que Dias seria ligado ao bolsonarismo ou de que o PT teria influência nos atos antidemocráticos.

“A oposição ganha um presente que cai no colo dela, porque ela não está sabendo se organizar para assumir um protagonismo dentro do Congresso Nacional tentando colar o PT aos atos antidemocráticos”, diz, adicionando que isso “joga combustível em todas as teorias da conspiração”.

Christopher Mendonça também entende que o quadro muda com os fatos desta quarta-feira (19), com parlamentares aliados do Planalto que consideram como necessária a abertura de uma investigação sobre o caso, podendo gerar um “rearranjo de preferências no Congresso Nacional”.

Eduardo Grin, por sua vez, avalia que a instauração da CPI seria um “tiro no pé” da base aliada, pontuando que “o que já tem de evidências serve para o governo mostrar que não houve negligência” no 8 de janeiro.

Assim, na análise do especialista, a demissão não gera mais força para o governo neste ponto, na verdade, enfraqueceria ainda mais a “lógica da CPI”.

Inicialmente, ele caminha sozinho no terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, tenta abrir duas portas e depois entra no gabinete.

Após alguns minutos, o ministro aparece caminhando pelo mesmo corredor com alguns invasores. As imagens sugerem que ele indica a saída de emergência ao grupo de criminosos.

Em seguida, surgem nas imagens outros integrantes do GSI, que parecem indicar também o caminho de saída para os invasores que estavam no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Também é possível ver um capitão do Exército, integrante do GSI, circulando entre alguns invasores. Em uma das câmeras, na antessala do gabinete presidencial, ele faz um gesto a uma invasora e abre uma porta.

O capitão do Exército aparece conversando com alguns invasores e, em seguida, os cumprimenta com um aperto de mão.

Outra câmera do terceiro andar, em outro momento, registra o mesmo capitão do Exército tentando conter um dos vândalos. No entanto, o responsável pela segurança não reage quando outro criminoso pega um extintor de incêndio.

Segundo apuração da reportagem, o capitão do Exército e responsável pela segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, atualmente, não integra mais a equipe do GSI.

 

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