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Bicentenário da Independência: “Governos são circunstanciais”, diz embaixador português

O Ministério das Relações Exteriores de Portugal busca minimizar o impacto das celebrações dos 200 anos da Independência do Brasil no contexto eleitoral,
Imagem: Divulgação

Portugal se associa ao Brasil para comemorar os 200 anos da Independência do Brasil com uma intensa programação cultural em Lisboa, Porto e Coimbra, entre outras cidades. Apesar da controvérsia gerada pelo mórbido traslado do coração de D. Pedro I a Brasília e da instrumentalização política que Jair Bolsonaro pretende dar às comemorações do Bicentenário, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, irá ao desfile militar na manhã do dia 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios.

O Ministério das Relações Exteriores de Portugal busca minimizar o impacto das celebrações dos 200 anos da Independência do Brasil no contexto eleitoral, apesar de faltar menos de um mês para o primeiro turno das eleições no Brasil. Mais do que o desfile militar de 7 de setembro em Brasília, a atenção de Lisboa está voltada para a cerimônia solene prevista na quinta-feira (8), no Congresso Nacional.

Políticos próximos do presidente Jair Bolsonaro não escondem a intenção de utilizar os eventos do Dia da Independência para conquistar votos nas urnas. A convite do governo brasileiro, confirmaram presença em Brasília os presidentes de Portugal, Cabo Verde, Guiné Bissau e Moçambique. Os demais países de língua portuguesa, ex-colônias de Portugal, declinaram da viagem por razões diversas.

O embaixador português Francisco Ribeiro Telles, coordenador da programação do Bicentenário em parceria com o Itamaraty, diz ter ouvido as críticas manifestadas contra a instrumentalização dos eventos por Bolsonaro e seus apoiadores. No entanto, Ribeiro Telles defende que a história irá registrar algo maior sobre os festejos dos 200 anos da Independência do Brasil do que o atual governo no poder.

“Nós não temos que estar sempre atentos à espuma dos dias. Eu costumo dizer que os governos são circunstanciais, obedecem a um determinado espaço de tempo, mas o que a história registrará no futuro foi que o coração de D. Pedro I, que afinal proclamou a Independência do Brasil, teve uma participação simbólica nas comemorações”, argumentou Ribeiro Telles, em entrevista à RFI. “Depois que regressou do Brasil, D. Pedro I teve uma influência decisiva na construção do liberalismo em Portugal”, recorda o diplomata.

Historiadores apontam, no entanto, que ficou difícil não recordar da celebração dos 150 anos da Independência, em 1972, quando outras partes do corpo de Dom Pedro I, que personifica o ato político da separação da colônia de sua metrópole, foram trazidos de Portugal para o Brasil durante a ditadura.

Discurso no Congresso

No dia 8, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa fará um discurso durante a cerimônia solene comemorativa do Bicentenário no plenário da Câmara dos Deputados. “Eu penso que será o único chefe de Estado estrangeiro a fazê-lo”, observa Ribeiro Telles. Segundo o embaixador, Lisboa recebeu “com muita honra” o convite do Brasil para organizar conjuntamente a programação de eventos ao longo do ano de 2022.

“Eu penso que, do lado português, nós estamos de certa forma em paz com a nossa história colonial. Temos uma relação muito especial com o Brasil. Há uma intensidade nesse relacionamento”, assinala Ribeiro Telles. Ele nota com satisfação a redescoberta dos brasileiros em relação a Portugal, e o aumento da imigração nos últimos dez anos. “Os brasileiros que ainda tinham alguns estereótipos em relação a Portugal, nos consideravam um país atrasado, descobriram um país que se desenvolveu”, afirma. Na avaliação do embaixador, apesar das frequentes denúncias de racismo e discriminação por parte de brasileiros residentes em solo português, “esta nova onda de imigração é bastante positiva”.

No contexto do Bicentenário da Independência, Ribeiro Telles, que já foi embaixador em Brasília e secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), organiza com a Universidade do Minho, em Braga, a criação de um projeto de análise dos fluxos migratórios entre os dois países.

“Eu quero fazer, digamos assim, um estudo comparativo de como é que foi essa evolução ao longo dos 200 anos, quais foram os picos de imigração, como as pessoas foram acolhidas aqui e lá, quais eram as profissões dos portugueses que iam para o Brasil e de brasileiros que vinham para Portugal. Eu acho que toda essa história ainda está por fazer”, avalia o diplomata.

A cidade de Braga, a 363 km ao norte de Lisboa e a menos de uma hora de trem do Porto, atraiu uma grande comunidade de brasileiros nos últimos anos pela boa qualidade de vida e o custo de vida mais acessível.

Futuro comum

Duzentos anos após a Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, a diplomacia portuguesa vê os dois países traçando projetos em comum no mundo globalizado. “É evidente que Portugal está inserido na União Europeia, mas a projeção externa de Portugal vale muito mais com o Brasil”, nota o embaixador. “Esta amizade tem de ser regada todos os dias”, enfatiza.

“Houve muitos projetos que ficaram por fazer, algumas desilusões e alguns fracassos ao longo destes 200 anos. Mas também houve sucessos”, avalia. Na lista de projetos de particular interesse para Lisboa e Brasília, neste momento, está a implantação do Acordo Comercial entre o Mercosul e a União Europeia, concluído em junho de 2019, mas bloqueado em sua aplicação devido à política ambiental de Jair Bolsonaro na Amazônia.

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