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Denúncias mostram assédios, abusos e irregularidades na Embaixada do Brasil no Kuwait; veja trechos

CNN tem acesso a denúncias feitas por funcionários, parentes e diplomatas ao Itamaraty; embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda é acusado de má conduta e conivência, ele nega
Foto: Divulgação

CNN teve acesso a denúncias feitas por funcionários, parentes e diplomatas da Embaixada do Brasil no Kuwait ao Itamaraty com acusações contra o embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda.

As denúncias apontam má conduta e conivência com condutas inapropriadas de um subalterno, o oficial de chancelaria Paulo Sallas, acusado de abuso moral, sexual, e de se utilizar do cargo para realizar negócios proibidos pela legislação local e brasileira.

As principais denúncias foram feitas por e-mail pela brasileira Erika Lobianco à Corregedoria do Itamaraty em 14 de setembro de 2022.

Muçulmana, ela é casada com o engenheiro kuwaitiano Arshed Al-Moosa e reside no país desde 2010. Ela trabalha como assistente administrativa na embaixada desde 2014.

Com gravidez de risco, atualmente está em licença médica. Nas denúncias, Erika acusa o oficial de chancelaria Paulo Sallas de assédio moral, sexual e conduta abusiva.

O marido de Erika também denunciou Sallas por meio de um e-mail em inglês encaminhado diretamente ao embaixador do Brasil no Kuwait, Francisco Mauro Brasil de Holanda, no dia 24 de novembro de 2022.

Na mensagem, ele acusa o oficial de assédio moral em um jantar do qual participou o então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro, almirante Flávio Rocha.

O marido de Erika ainda afirma que Sallas lhe propôs fazer negócios à margem das legislações local e brasileira, tendo em vista sua condição de funcionário em uma embaixada.

Como resposta às acusações, o embaixador disse que as encaminharia às autoridades brasileiras.

Uma diplomata que atuava na embaixada brasileira na época dos supostos crimes formalizou uma denúncia contra o embaixador no dia 22 de setembro para a Ouvidora do Serviço Exterior do Itamaraty, Rosimar da Silva Suzano.

Essa diplomata o acusa de má conduta e conivência com as supostas irregularidades cometidas pelo oficial. No final do ano passado, ela pediu sua remoção do cargo e hoje trabalha em Genebra.

Uma funcionária brasileira da embaixada também fez um depoimento dentro da sindicância aberta pelo Itamaraty para apurar a atuação do oficial de chancelaria Paulo Sallas. Ela confirma as acusações.

Procurado pela CNN, o embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda disse que tem 42 anos de serviços prestados e durante todo esse período sua conduta se pautou pelo cumprimento da lei e pelo respeito intransigente aos princípios ético morais, inclusive frente aos colegas de trabalho.

“Sobre as injustas acusações que me foram feitas, asseguro que todas foram devidamente respondidas em procedimento administrativo instaurado contra a minha pessoa.”

“Considero este assunto superado e nada mais tenho a declarar senão o fato de que jamais admiti qualquer ato que desborde da legalidade, da impessoalidade e da moralidade pública e quem quer que venha a manchar a minha imagem pessoal e profissional haverá de responder por isso”, finalizou o embaixador.

O oficial de chancelaria Paulo Sallas afirmou à CNN que as denúncias já foram objeto de medidas administrativas cabíveis por parte do Ministério da Relações Exteriores e resultaram infrutíferas.

“Não há qualquer fundamento em acusações de abuso moral e sexual, muito menos da utilização de minha condição funcional para realizar quaisquer atividades proibidas tanto aqui como no Brasil. Ressalto, entretanto, que a condição reservada das respectivas medidas e da legislação aplicável, não me permite tecer maiores comentários, muito menos abrir espaço para quaisquer discussões”, reafirmou.

À CNN, o Ministério de Relações exteriores disse ter instaurado sindicância investigativa sobre o caso, “que resultou em abertura de processo administrativo disciplinar (PAD) em desfavor do Embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda, com vistas a apurar denúncias de assédio moral e falta de urbanidade, a qual resultou em pena de suspensão de 5 dias, conforme previsto na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990”.

Sobre a denúncia de assédio moral contra o Paulo Sallas, o ministério informou que também foi instaurada sindicância investigativa, “que culminou com a assinatura de termo de ajustamento de conduta”.

Abaixo, veja os principais trechos das denúncias que cada envolvido fez às autoridades:

E-mail da funcionária Erika Ossaima Lobianco à Corregedoria do Itamaraty em 14/09/2022:

1) Acusa de assédio moral do oficial de chancelaria Paulo Sallas a uma funcionária em um jantar no Crowne Plaza com a presença do ministro Flávio Rocha:

“Ainda no dia 26 de maio deste ano, durante o término do jantar oferecido à Delegação que visitava o Kuwait, a Sarah Elbaltimi sentou-se para finalizar a logística de retorno dos visitantes ao hotel, eu estava próximo a ela com meu esposo, pois ele havia chegado para me buscar, quando o OC Paulo Sallas, sentou-se com a cadeira virada para o lado da Sarah, e com as pernas praticamente mantendo a Sarah entre suas pernas, ele começou a tocar o cabelo da mesma, onde a mesma sentindo-se claramente com seu espaço invadido e assediada, pediu pra que ele se afastasse, e ele ainda tocando seu cabelo de forma irônica disse: ‘Eu também sou casado, baby’.”

2) Acusa o oficial de chancelaria Paulo Salles de assédio moral:

“No início de junho do corrente ano, após meu horário de trabalho, pois eu estava esperando a hora certa para ir buscar meu filho na escolinha, o OC Paulo me ligou no setor de contabilidade solicitando vários documentos e relatórios, onde eu disse que não poderia fazer naquele momento, pois meu horário de trabalho tinha terminado e em 5 minutos eu deveria deixar a Embaixada para ir buscar meu filho.

Ele insistiu que precisava para aquele momento, porém eu sabia que não era verdade, pois ele havia tido toda a manhã daquele dia pra solicitar os mesmos.

Então, eu disse que não poderia fazê-lo, e que por sinal já havia dado a hora de eu pegar o bebê e ele respondeu: “eu não quero saber o que você vai fazer, eu quero esses documentos agora!”, esbravejou.

Eu disse: “Sinto muito não vou fazer nada agora”.

3) Relata um possível acordo entre o embaixador e o oficial pelo qual o oficial ficaria com um posto relevante na Embaixada em troca de não promover um depoimento contra o embaixador ao Itamaraty:

“É importante Salientar ainda que, desde que chegou ao posto, o OC Sallas e o Embaixador não se dão bem.

O embaixador já afirmou varias vezes, inclusive pessoalmente a mim, que não confia no OC Sallas para exercer qualquer função na Embaixada. Houve, também, diversas discussões acaloradas entre os dois.

Por sua vez, o oficial de chancelaria tambem já afirmou não gostar do embaixador por causa da atitude dele no episódio de sua compra de bebida alcoólica, que ensejou a Sindicância Investigativa número 4.

E inclusive estava preparando depoimento contundente na sua oitiva, que está sendo realizada hoje.

Contudo, para surpresa generalizada, imediatamente após o retorno do embaixador ao trabalho, em 11 de setembro, constatamos que ele e o OC Sallas tinham se posto de acordo.

O embaixador, apesar da desconfiança já tantas vezes manifestada, agora repentinamente cedeu o que o OC Sallas queria (chefia do setor consular e me manter na contabilidade para fazer o trabalho pesado para ele).

Com isso, o OC Sallas passou a se sentir ainda mais importante e invulnerável, o que fez com que piorassem ainda mais os seus modos.”

4) Acusa o oficial Paulo Sallas de não querer ser responsável pela contabilidade da Embaixada:

“Senhores, eu não estou aqui me esquivando das minhas obrigações, entretanto, é sabido que para que a contabilidade seja feita com excelência e para que o Embaixador não tenha problemas fiscais futuros, é necessário que esta seja feita por um funcionário bem treinado, competente e sobretudo experiente, que tenha recebido treinamento diretamente no Itamaraty e que também possa se responsabilizar por equívocos e erros que possam acontecer, e eu não sou essa funcionária treinada, competente e experiente.

Eu nunca recebi qualquer tipo de treinamento para tal, eu não sei fazer prestações de contas, eu não sei fazer conciliação bancária, o que é fundamental para uma contabilidade e sobretudo eu não tenho autorização da SERE para desempenhar tal função.

Contudo, é percebido pelos colegas da Embaixada que o OC Paulo, não quer as responsabilidades, mas apenas os títulos, ou seja, ele quer que eu continue fazendo a contabilidade pra que ele apenas imprima e assine.

Porém, veja que por trás disso tem o título de chefe da administração, que ele carrega e que ele dá muita importância para tal, ou seja, ele quer o “bônus” apenas, mas o “ônus” ele quer incumbir a outra pessoa.”

5) Acusa o oficial de chancelaria Paulo Salles de dizer não ter receio de processos do Itamaraty:

“Quando o OC Paulo Sallas, se sentindo o segundo da Embaixada me chamou em sua sala, pediu pra que eu fechasse a porta, o que eu fiz, e ali com comportamento claramente destemperado e falta de profissionalismo, começou a me ofender dizendo que eu não era profissional, que eu errava questões da contabilidade de propósito para sair daquele departamento.

Que eu não sairia dali, que ele faria de tudo pra que eu ali ficasse. Quem eu pensava que era, momento o qual eu peguei meu celular e me levantei e ele disse:” quer gravar o que eu estou falando pode gravar, eu não tenho medo! Eu tenho 6 processos contra o Itamaraty! Não tenho medo de processo! Se você não me obedecer você vai ver! Então você não vai me obedecer? Vamos ver então!”

6) Relato do impacto físico e emocional do ambiente da embaixada:

“Desde que o OC Paulo Sallas começou a me assaltar, alguns sintomas como adoecimento psicológico e físico, aumento de peso por compulsão alimentar e crises de ansiedade, depressão, problemas no ambiente familiar, estresse, falta de motivação para desempenhar minha função, aumento da perda de concentração, baixa autoestima, diminuição do meu rendimento, aumento de erros que comprometam o trabalho como aconteceu com a prestação de contas de 2021, baixa produtividade e diminuição da qualidade do meu serviço, aumentaram de forma exacerbada, pois eu já percebia alguns desses sintomas aparecendo paulatinamente devido ao estresse e pressão que passamos diariamente com o embaixador Francisco Mauro.

Contudo, agora eu estou grávida e por ter tido dois abortos anteriores, onde eu quase perdi a vida, após o último episódio de assédio moral do OC Paulo em frente a diplomata que atuava na época no local, quase me acarretou o terceiro aborto, pois comecei a ter cólicas, contrações e sangramento como demonstra o meu laudo medico em anexo.

Por esse motivo a médica precisou me afastar pelo período de 14 dias do trabalho, para que eu evite passar por estresse para que a gestação continue pois os atos hostis, a tentativa de me prejudicar todo o tempo em meu ambiente de trabalhando, o terror psicológico do OC Paulo juntamente com o embaixador (principalmente agora após minha oitiva no PAD), são frequentes e por Parte do OC Paulo , já duram por volta uns 8 meses pelo menos.”

E-mail de Arshed Al-Moosa, marido da funcionária Erika Ossaima Lobianco, ao embaixador do Brasil no Kuwait no dia 24 de novembro de 2022:

1) Acusa o oficial de chancelaria Paulo Sallas de assédio moral a uma funcionária em um jantar no Crowne Plaza com a presença do então ministro Flávio Rocha:

“Mais tarde naquela mesma noite, no Crowne Plaza, presenciei o sr. Paulo Sallas sentado em uma mesa extremamente próxima de uma das ex-funcionárias da Embaixada, a sra. Sarah El Baltimi.

Durante esse tempo, o sr. Paulo Sallas parecia estar se inclinando para a sra. Sarah El Baltimi dizendo algo para ela enquanto tocava seus cabelos com a mão.

Percebi que ela reagiu de forma perturbadora às ações do sr. Paulo Sallas. Após deixar o hotel e na companhia de minha esposa Sra. Erika Ossaima Lobianco, recebi um telefonema de sua colega sra. Sarah El Baltimi que expressou sua extrema frustração com as ações do Sr. Paulo Sallas.

A sra. Sarah El Baltimi descreveu gravemente para a Sra. Erika Ossaima Lobianco como o Sr. Paulo Sallas inapropriadamente e sem avisar invadiu seu espaço pessoal e a si mesma enquanto acariciava seus cabelos.”

2) Acusa o OC Paulo Sallas de esconder oferecer os serviços de uma refugiada filipina contrariando as leis locais:

“O sr. Paulo Sallas mencionou que estava procurando ajudar uma empregada doméstica filipina no Kuwait a buscar melhores oportunidades de trabalho e ofereceu seus serviços para ajudar minha mãe idosa e doente. Durante essa discussão, fiquei surpreso por ele me dizer que a ajudou a fugir de seu empregador.

Informei ao sr. Paulo Sallas que isso poderia ser considerado uma ação ilegal aqui no Kuwait e poderia prejudicá-lo, ele me disse para não me preocupar e ele conhece ‘pessoas’ em altos cargos aqui no Kuwait.

Considero esta conduta, conforme descrita pelo próprio sr. Paulo Sallas, imprudente e desrespeitosa com as leis e regras locais do país anfitrião, o Kuwait.”

3) Acusa o oficial de chancelaria Paulo Sallas de oferecer negócios a ele à margem da legislação brasileira e local:

“O sr. Paulo Sallas, aparentemente conhecendo o envolvimento de minha família no comércio e no comércio, propôs-me que ele pudesse fornecer vários produtos, incluindo produtos à base de carne, a taxas de exportação competitivas. Imaginei que ele iria me apresentar empresas que lidam com isso.

Mas, em vez disso, o Sr. Paulo Sallas novamente me surpreendeu com sua falta de profissionalismo, mencionando que ele precisa fazer alguns negócios sendo um avô que precisa de dinheiro para sustentar sua família devido ao aumento de custos.

E, como não sabe por quanto tempo vai manter o cargo no Itamaraty devido a vários processos administrativos que tem.

Não respondi à proposta e às declarações do sr. Paulo Sallas porque, em primeiro lugar, que eu saiba, funcionários que servem em serviços governamentais no exterior não estão autorizados a realizar comércio e negócios para ganho financeiro pessoal e, em segundo lugar, sua menção de processos administrativos pendentes com o Itamaraty apenas diminuiu minha confiança nele, obrigando-me a encerrar educadamente aquela linha de conversa com ele.

Alguns dias após o jantar por volta de 29 de maio de 2022, durante uma visita à estimada Embaixada do Brasil para acompanhar minha esposa Sra. Erika Ossaima Lobianco a um compromisso, encontramos o Sr. Paulo Sallas que me convidou para seu escritório no primeiro andar.

Lá dentro, o sr. Paulo Sallas me perguntou o que eu achava de sua proposta de negócios no jantar de recepção convidando-me para sua residência para discutir essa proposta com um ‘drink’.

Perturbado, não respondi, acreditando que ele sabia que nossa cultura não é tipicamente de consumo de álcool e a achou particularmente insensível de sua parte, especialmente por não me conhecer pessoalmente.

Ao sentir minha reação, o sr. Paulo Sallas rapidamente mudou sua declaração e riu dizendo: “uma xícara de chá … pode ser”. Seja qual for o caso, o encontro me deixou desconfortável. Agradeci o convite, não troquei contatos com ele e saí do escritório.”

Depoimento de uma funcionária à sindicância aberta pelo Itamaraty para apurar a atuação do oficial de chancelaria Paulo Sallas:

1) Questionamentos sobre assédio sexual e misoginia. Funcionária responde sobre assédio a jantar com a presença do ministro:

“Pergunta: A senhora presenciou atitudes humilhantes e constrangedoras do OC Paulo Sallas em relação às pessoas que trabalham no posto? Em caso positivo, ocorreu mais de uma vez? Poderia descrever sucintamente as situações e quando teriam ocorrido?

Resposta: O OC Paulo Sallas se expressa normalmente utilizando palavras grosseiras e verbetes inadequados sempre.

Ocorreu em um momento, estarmos todos os colegas reunidos e o OC Paulo Sallas fazer um comentário, referindo-se a minha maneira de vestir, dizendo que “muçulmanas de véu não combinam com salto alto, tendo em vista em que o salto alto transforma a mulher”.

Tal comentário soou como ofensa à mim, dando a entender que o uso deste simboliza vulgaridade.

Nesta mesma ocasião o OC também fez comentários vulgares e inadequados sobre mulheres de determinada nacionalidade.

Houve ainda um episódio em 26 de maio deste ano, durante evento organizado pela Embaixada, em que o OC Paulo Sallas se aproximou de uma das funcionárias, alisou seus cabelos e ainda teve a intenção de abraçá-la dizendo que ela estava sob muito estresse.

A funcionária sentiu-se extremamente desconfortável e disse a ele que era casada e este agiu satirizando a situação naquele momento.

Mesmo não informando naquele momento, ela se sentiu desrespeitada, já que mesmo que ela não seja adepta ao uso de vestimentas que cobrem todo o seu corpo e também o véu, ela é muçulmana e gostaria de ser respeitada como tal.”

2) Acusa o OC Paulo Sallas de assédio moral. Cita xingamentos constantes dele com funcionários:

“A senhora presenciou situações entre o OC Paulo Sallas e a Erika Lobianco em que ele a tratou desrespeitosamente, com gritos e palavrões? Em caso positivo, quantas foram as situações? Pode citar o vocabulário utilizado pelo OC Paulo Sallas nestas situações?

Resposta: Na situação mencionada na questão 2.

Todavia o OC Paulo Sallas tem o costume de chamar as funcionárias em sua sala e pedir para fechar a porta e fiquei sabendo de outras vezes que ocorreram situações de desrespeito dele para com a Erika, porém ele é muito cuidadoso para que quando essas situações, que eu julgo de assédio moral acontecessem não tivesse testemunhas.

Contudo, na situação informada na questão 2 ele não conseguiu controlar sua fúria e se descontrolou de forma que todos os funcionários do primeiro andar conseguissemos ouvir seus gritos e palavrões.

Me sinto envergonhada de repetir o vocabulário que o OC Paulo Sallas usou no dia em que eu presenciei a discussão com a Erika, por ser extremamente vulgar, mas preciso aqui enfatizar que esse vocabulário não foi apenas utilizado pelo OC Paulo nessa ocasião, mas também em seu cotidiano dentro do ambiente de trabalho: São palavras como, Vai tomar no c*, Porr*, Caralh*, no C* Marilu, nem fodend*.”

3) Nova acusação de assédio moral contra Paulo Sallas:

“A senhora já presenciou o OC Paulo Sallas agindo com comportamento agressivo e desrespeitoso em relação à Erika Lobianco? Em caso positivo, a senhora poderia descrever alguns desses comportamentos? Esses atos aconteciam com qual frequência?

Resposta: Situação mencionada na questão 2. Sim, o OC Paulo Sallas usa frequentemente palavrões e comentários a diminuir o sexo feminino, inclusive na minha frente.”

“Gostaria de expressar aqui que nenhuma de nós funcionarias locais que temos que trabalhar diretamente com o OC Paulo nos sentimos confortáveis, por ser ele uma pessoa de vocabulário extremamente vulgar e nos sentimos extremamente ofendidas com seus comentários que muitas vezes soam misóginos.”

4) Relata como o oficial Paulo Sallas evitava se responsabilizar pelas contas da administração:

“Mas o OC Paulo Sallas, mesmo sendo o Chefe da Administração, ele não quer se responsabilizar pela mesma, pois ele mesmo disse que não quer o nome dele nas prestações de contas.

Logo, eu entendi que ele quer jogar a responsabilidade daquele setor em alguém mais vulnerável, como eu e a  Erika, por sermos funcionárias locais.

O OC Paulo Sallas disse, mais de uma vez, que não pretende assumir a contabilidade na situação em que se encontra, mesmo tendo ele sido nomeado chefe da Administração pelo Embaixador Francisco Mauro em maio deste ano e ter se comprometido a assumir a contabilidade de 2022 desde janeiro deste ano.”

E-mail encaminhado pela diplomata que atuava na época na embaixada no dia 22 de setembro a Ouvidora do Serviço Exterior do Itamaraty Rosimar da Silva Suzano:

1) Acusa o oficial de chancelaria Paulo Sallas de assédio moral a uma funcionária em um jantar no Crowne Plaza com a presença do ministro Flávio Rocha:

“Nessa mesma noite, de 26 de maio de 2022, houve um jantar aqui para uma numerosa missão comercial encabeçada pelo Almirante Flavio Rocha, chefe da SAE.

Nesse jantar Paulo se comportou de forma totalmente inaceitável com relação a outra contratada local, a secretária do embaixador Sarah ElBaltimi, o que foi entendido por elas como assédio sexual.

O marido da Erika, Sr. Archeed, estava sentado à mesma mesa, presenciou a cena e manifestou posteriormente preocupação com o fato de sua mulher trabalhar com aquele homem.

Só então, alguns dias após esse episódio, as contratadas locais trouxeram ao meu conhecimento o ocorrido e o comportamento inadequado que o OC Sallas tinha apresentado desde o início, e que eu desconhecia.”

2) Acusa o embaixador e o oficial de fazerem um acordo pelo qual o oficial se manteria em uma função relevante em troca de não fazer um depoimento contra o embaixador:

“Na minha opinião, que comuniquei à Comissão do PAD, havia nessas decisões do embaixador Francisco Mauro não só medidas de retaliação contra a Erika mas também um esforço para cooptar o OC Paulo, já que o depoimento dele se daria em 19 de setembro.

O embaixador reassumiu a embaixada em 11 de setembro e, já no dia 12, presenciei cena em que ambos, embaixador e Paulo Sallas, tinham mudado por completo de atitude, um em relação ao outro.

Se antes o relacionamento deles era feroz, não podiam se falar sem gritos e berros, agora ambos estavam solícitos e gentis um com o outro. Paulo conseguira o que queria (chefiar o consulado sem a presença da Erika “para atrapalhar”, e manter Erika como sua subordinada fazendo o trabalho diário da contabilidade sob suas ordens).

Se até então ele vinha preparando um depoimento duríssimo contra o embaixador, inclusive apresentando documentos comprovando a incapacidade administrativa do embaixador, a partir desse momento comentou com a Lourdes que não mais prejudicaria o embaixador em seu depoimento, a realizar-se nos próximos dias (ocorreu no último dia 19).”

3) Acusa embaixador de retaliar a funcionária Erika por ela ter feito um depoimento contra ele:

“Erika prestou seu depoimento perante o PAD (processo administrativo) em meados de agosto e foi um depoimento muito sério, muito grave, contra o embaixador.

A partir daí, parecia a todos nós evidente que ela não teria mais condições de trabalhar com ele, que estava afastado na ocasião.

Acreditamos que seu afastamento seria prorrogado por mais 60 dias, após o que seria removido do Kuaite, porque evidentemente haveria revanche se ele voltasse à chefia do Posto, como de fato aconteceu: ele canalizou toda sua raiva (da qual todos aqui já fomos alvo, em algum momento) contra a Erika e, não satisfeito com isso, jogou o Paulo Sallas em cima dela.

4) Relata rompimento do embaixador com o oficial Paulo Sallas após este apontar compra errada do embaixador:

“Pouco depois de chegar ao Posto em outubro 2021, já em novembro o Paulo atraiu a raiva do embaixador, quando este lhe apresentou uma nota de compra de material de consumo para a residência e Paulo respondeu não poder contabilizar artigos de uso pessoal.

O embaixador reagiu com muita agressividade, convocou reunião com Paulo, Erika e eu, com o único objetivo de expressar que tinha se sentido insultado.

A partir daí, passou a ignorar o Paulo, a situação escalou e se instalou um ambiente de confronto aberto entre os dois, com discussões acaloradas. Esse era o clima entre o embaixador e o Paulo Sallas.”

5) Relata episódio de suspeita de compra de bebida alcóolica a margem da lei na embaixada:

“Quando o embaixador Francisco Mauro retornou ao posto em meados de fevereiro, houve diversas discussões muito acaloradas entre o OC Paulo e o Embaixador, em função desse visto à síria grávida e a respeito de outro episódio, de compras de bebida alcoólica pelo OC Paulo Sallas — que, como portador de passaporte diplomático, tem o direito reconhecido pelo governo kuaitiano de adquirir bebida alcoólica pelo procedimento instalado e aceito para compras de bebidas alcoólicas por membros do corpo diplomático.

Portanto, nesse episódio da compra de bebidas o OC Paulo nada fez de errado.

Mas o assunto chegou ao embaixador de forma atravessada, ele sequer se dirigiu ao Paulo para saber o que tinha acontecido e, ainda em férias, lá do Paraguai (a embaixatriz é paraguaia) baixou determinação segundo a qual, doravante, Paulo e eu teríamos que apresentar a ele quaisquer faturas de compras nossas de bebidas alcoólicas e que a empresa fornecedora, em Dubai, não confirmaria as compras sem a autorização expressa do embaixador, caso a caso. Essa determinação obviamente causou forte reação no Paulo e em mim, que me vi envolvida nisso.

Não satisfeito com isso, ao retornar o embaixador Francisco Mauro achou por bem notificar a administração do Itamaraty, mediante email à embaixadora Fatima Ishitani.

O embaixador me informou que tinha notificado a administração mas não me mostrou o texto enviado.

Diante disso, eu também julguei necessário enviar e-mail meu à mesma destinatária, relatando o que de fato tinha acontecido aqui.

A embaixadora Fatima Ishitani enviou os dois e-mails à corregedoria e foi aberta Sindicância para apurar possível comportamento inadequado do Paulo com relação à compra de bebida alcoólica e também com relação à concessão de visto à síria grávida – eram esses os dois episódios que foram investigados pela Sindicância n. 4 da COR.

Algum tempo depois essa Sindicância foi arquivada por não encontrar sinais de irregularidade. Contudo, ao prestarmos nossos depoimentos tivemos oportunidade de levar ao conhecimento da COR que o verdadeiro problema aqui é o Embaixador Francisco Mauro.

Paulo, Sarah e eu depusemos; Erika não estava envolvida, mas pediu para depor à COR. Foi, então, instaurada outra Sindicância, de número 18, contra o embaixador Francisco Mauro.

Quando o relatório foi apresentado ao Corregedor, ele enviou TAC para o Emb. Francisco Mauro assinar. Como este se recusou a assinar, foi automaticamente aberto PAD.”

6) Relata como o oficial Paulo Sallas queria evitar se responsabilizar pela contabilidade da embaixada:

“No final daquele ano, 2019, um OfChan foi ao Kuaite em MT para fazer a prestação de contas do ano. Desde então Erika vem pedindo para sair da contabilidade, tarefa difícil e para a qual ela não tem habilidade e nunca foi treinada. A situação se agravou com a chegada do embaixador Francisco Mauro, que tem o hábito de telefonar para a casa dela tarde da noite, inclusive aos fins de semana, para questionar pagamentos e contas, o que a deixava alarmada e afetava sua vida familiar. Com a chegada ao Posto do OC Paulo Sallas, pareceu-me que se resolveria a situação, já que ele tem larga experiência em contabilidade e concordou em assumir esse setor. Mas havia duas dificuldades:

a) o embaixador não confiava nele desde o episódio da nota de compras de material de consumo da Residência, agravada por outros episódios posteriores e diversas discussões acaloradas entre os dois; ele disse a mim que não poria o Paulo na contabilidade porque não confiava nele; decidiu manter a Erika na contabilidade;

b) o OC Paulo concordou em assumir a contabilidade, MAS queria que a Erika continuasse a fazer o nitty-gritty diário da contabilidade, cabendo a ele apenas imprimir e assinar as prestações de contas.”

7) Relata o impacto da postura do embaixador na Embaixada:

“O comportamento do embaixador Francisco Mauro gerou atmosfera tóxica na embaixada e tem provocado problemas de saúde (disfunções de sono, dores musculares, dores lombares) e psicológicas (sobressaltos permanentes, sentimentos de desqualificação e de baixa autoestima) nos funcionários.

O comportamento do OC Paulo, que seria fácil de resolver, agora não tem mais jeito, diante da posição privilegiada que ele alcançou junto ao embaixador, um dia após o retorno do embaixador ao posto. Na minha opinião, ele dominou o embaixador.”

8) Relata o impacto da postura do embaixador na gestação da funcionária Érika:

“Foi esse o quadro que, em conjunto com o comportamento nitidamente agressivo do embaixador com relação a ela, provocou na Erika o episódio de quase perda do bebê.

Os médicos disseram que o incidente foi causado por “estresse hormonal”. Esse relatório médico, determinando repouso absoluto, se deu na quarta-feira última, 14 de setembro.”

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