Para Espírito Santo, é preciso tentar conciliar os objetivos de colocar a inflação dentro da meta e fazer com que o país tenha crescimento econômico, sem comprometer a atuação do Banco Central contra a alta dos preços.
“A harmonia entre as políticas econômicas é necessária para o país avançar. Portanto, diálogos entre Haddad, Campos Neto e a Tebet são fundamentais para a realização de uma agenda econômica robusta, visto que são três integrantes do CMN [Conselho Monetário Nacional]. Este seria um cenário muito positivo, em que todos os objetivos seriam entendidos e aprimorados para se chegar às conclusões”, pontuou.
Já para Flávio Conde, analista de Ações da Levante Ideias de Investimentos, as tensões entre o presidente da República e o presidente do Banco Central sobre o nível dos juros não são atípicas no Brasil, e em determinado grau “são discussões saudáveis” para a democracia.
Conde acredita ainda que, além de uma âncora fiscal crível e o andamento da reforma tributária, o cenário ideal para o início da queda da Selic são divulgações do IPCA rondando em torno de 0,3% e 0,4% ao mês.
“Se tivermos três meses consecutivos do indicador neste nível, a parte técnica para a Selic ser reduzida começa a ser viabilizada. Mas se o indicador não conseguir chegar a este patamar não é aconselhada a redução”, afirmou.
A troca de farpas entre governo federal e Banco Central não fez o Inter mudar sua projeção para a taxa Selic – que, na projeção do banco, tem ainda espaço para começar a cair em agosto, conforme a inflação perde força rápido, e terminar 2023 aos 12%. A taxa está, atualmente, em 13,75%.
O erro, na visão da casa, esteve em inflamar a discussão antes de o governo apresentar a nova âncora fiscal, o que pode dificultar o caminho de descompressão dos juros.
“O principal erro no debate é antecipar uma discussão sobre a meta de inflação antes da apresentação da nova âncora fiscal”, disse o Inter em relatório a clientes, assinado pela economista-chefe Rafaela Vitória.
“As incertezas no cenário acabaram se acentuando com relação à condução das políticas econômicas do governo, que, a que tudo indica, devem ser mais expansionistas e manter inflação maior no longo prazo, o que pode resultar em Selic terminal maior”, conclui.
Copom x Fomc
Os especialistas destacaram que a alta da inflação, e consequentemente dos juros, é um problema enfrentado no mundo todo, mas particularidades de BC e Fed dão contornos diferentes para as discussões no Brasil e nos Estados Unidos.
“A questão nos Estados Unidos é diferente, pois no mandato do Fed é especificado que ele precisa controlar a inflação e pensar na atividade econômica, no emprego. Aqui, o Banco Central tem como objetivo apenas fazer com que a inflação chegue à meta”, explicou Flávio Conde.
O analista reforçou que a herança inflacionária “pesada” do Brasil justifica a atuação exclusiva do BC no controle dos preços, cabendo à Fazenda e aos ministérios econômicos correspondentes a função de explorar o crescimento da atividade econômica do país.
O movimento do Fed é acompanhado de perto pela equipe do Banco Central, sendo extremamente impactante na decisão da entidade brasileira em relação à política monetária adotada, segundo os economistas.
“O Fomc [equivalente ao Copom no Brasil] é dividido entre aqueles que são mais hawkish e aqueles que pensam mais no impacto à atividade econômica”, explicou Alexandre Espírito Santo.
Hawkish é um termo utilizado para dizer que os integrantes compartilham de uma visão mais dura sobre os juros, de aumentos sucessivos até a inflação estar sob controle. Segundo Espírito Santo, o teto de altas do Fed pode ditar o rumo da magnitude de decisões dos outros bancos centrais do mundo.
“Caso o Fed pare o aumento em 5,25% ao ano, isso é bom porque o mercado internacional começa a ver os mercados emergentes como mais atrativos, porque o dólar perde potência e isso ajuda o Brasil”, explicou.
“Acredito que este é um cenário provável. O Fed anunciando duas altas de 25 pontos-base e encostando em 5,25%, mantendo este patamar elevado inalterado por um tempo”, concluiu.
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