Siga nas Redes Sociais

Olá, o que procuras?

Manaus,

Bastidores

Ex-cunhado de Bolsonaro diz que via pacotes de dinheiro vivo pela casa do então deputado federal

Ex-cunhado de Jair Bolsonaro revela ter visto “caixas de dinheiro vivo” na casa do então deputado federal durante o período em que o agora presidente foi casado com Ana Cristina Siqueira Valle
Crédito: Divulgação

Se os esquemas das “rachadinhas” do clã Bolsonaro até agora aparentemente passavam ao largo da figura de Jair Bolsonaro (PL), um novo elemento mostra que o presidente era peça central da fraude — e se beneficiava pessoalmente do dinheiro desviado, ao lado da segunda esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, com quem foi casado até 2007. Então cunhado de Jair, o irmão mais novo de Ana Cristina, André Siqueira Valle, relatou a amigos que o casal guardava “caixas de dinheiro vivo” em sua mansão na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A revelação feita por André está no livro “O negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro”, da jornalista Juliana Dal Piva. “Pô, você não tem ideia como que é. Um monte de caixas de dinheiro lá. Você fica doidinho”.

A obra chega em setembro às livrarias, mas o trecho que trata da relação de André com o ex-cunhado foi publicado com exclusividade no UOL pelo jornalista Chico Alves no último final de semana. O próprio André Valle era peça importante do esquema das rachadinhas, que por anos arrancou de assessores parlamentares da família, vários deles fantasmas, a maior parte de seus salários. André foi demitido do gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados por não devolver ao chefe o valor acordado: deveria ficar só com 10% do salário. Por vias transversas, a história já havia vindo à tona no ano passado, também pelas mãos de Dal Piva, no podcast “UOL Investiga – A vida secreta de Jair”, quando a jornalista trouxe gravações telefônicas em que outra irmã de André, a fisiculturista Andréa Siqueira Valle, contava a história da demissão do irmão caçula. “O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil”, relatou Andréa. “Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’”. Andrea admitia ainda nas gravações que ela própria devolveu 90% do salário durante os dez anos em que ficou nomeada no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente, entre 2008 e 2018.

á André ficou lotado no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara por pouco menos de um ano, entre novembro de 2006 e outubro de 2007. Antes disso, já tinha trabalhado como assessor do vereador Carlos Bolsonaro, o filho 02, de agosto de 2001 a fevereiro de 2005 e durante a maior parte do ano de 2006. Atualmente, trabalha com eventos em Volta Redonda, no Sul fluminense. André e a irmã Andrea estão entre os 18 parentes da família Siqueira Valle que foram nomeados em um dos três gabinetes parlamentares dos Bolsonaro – Jair, Flávio e Carlos – durante os 20 anos de funcionamento da fraude, a partir de 1998. Ao longo de 2018, os servidores em situação irregular foram sendo exonerados à medida que a candidatura de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto ganhava viabilidade – e visibilidade.

As suspeitas de rachadinha nos gabinetes dos Bolsonaro e o salto patrimonial da família estão diretamente relacionados com a chegada de Ana Cristina Valle ao clã. Ela entrou sem nada no casamento com Jair, depois de engravidar do então deputado – eles são pais de Jair Renan, o filho 04. Na época, o patrimônio de Jair Bolsonaro se resumia a um apartamento na Zona Norte do Rio. Mas depois disso cresceu exponencialmente: ao longo de dez anos, o casal adquiriu outros 14 imóveis – cinco deles quitados com dinheiro vivo. Assim que entrou para a família, Ana Cristina também passou a se envolver com as atividades parlamentares dos enteados. Entre 2001 e 2008, foi chefe de gabinete de Carluxo na Câmara dos Vereadores do Rio, e está sendo investigada por envolvimento do esquema das rachadinhas do filho 02.

Até emergir a história das caixas de dinheiro vivo na casa de Jair, o personagem de mais destaque das rachadinhas era o senador Flávio Bolsonaro. De acordo com o Ministério Publico do Rio de Janeiro, o esquema criminoso liderado por ele na Assembleia Legislativa do Rio desviou R$ 6 milhões dos cofres públicos, o que só foi possível graças a Fabrício Queiroz, homem de confiança da família que operacionalizava a arrecadação de parte dos salários dos assessores do então deputado estadual. O mais perto que o dinheiro das rachadinhas tinha chegado de Jair Bolsonaro, até então, curiosamente, passou por Queiroz: eram dele os três cheques num total de R$ 89 mil depositados na conta da atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, entre 2011 e 2016. O caso dos cheques segue sem explicação plausível, assim como a história das caixas de dinheiro na casa de Jair e Ana Cristina.

André seguia a rotina combinada, mas não gostava de entregar tanto dinheiro ao cunhado. Passou a desabafar com amigos, em sigilo, que aquilo era errado. E observou com atenção algumas caixas de dinheiro vivo que o casal guardava em casa.

Certa ocasião, contou: “Pô, você não tem ideia como que é. Chega dinheiro? Você só vê o Jair destruindo pacotão
de dinheiro. ‘Toma, toma, toma’. Um monte de caixa de dinheiro lá [na casa]. Você fica doidinho”.

Quem frequentava aquela casa não conseguia ignorar tanta grana. (…) O casal mantinha um cofre no quarto, bem abastecido quando das campanhas eleitorais.”

 

Clique para comentar

Envie seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *