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Manaus,

Colunista

José Melo

Criar peixes, uma solução amazônica para combater a escassez de alimentos.

Sou do tempo da fartura de peixes.

Lembro-me dos incontáveis cardumes de peixes que subiam o rio Juruá, lutando contra a correnteza.

Eu ficava na beira do barranco, horas a fio, vendo as piracemas passarem: pacu, sardinha, branquinha, pescada, peixe-cachorro, matrinxã, tambaqui, mapará; como era lindo ver aquela natureza exuberante!

De repente, eram peixes pulando para todos os lados, numa fuga frenética dos predadores — surubim, caparari, peixe-lenha, dourado, jaú e os botos (tucuxi e vermelho) — no processo natural de sobrevivência.

Vi tudo isso na minha infância, nas barrancas do rio Juruá!

Como dizia o poeta: “tempos que não voltam mais”.

Sei que outros adolescentes como eu, que habitavam os rios Madeira, Purus, Jutaí, Javali, Içá e Negro, também se deleitavam com esse espetáculo da natureza pródiga — os cardumes de peixes em arribadas!

Hoje, tudo mudou: a população cresceu; o homem descobriu petróleo; de uma matéria-prima do petróleo fizeram as malhadeiras, motores, fábricas de gelo e enormes barcos de pesca. A pesca se tornou intensiva e predatória, e os cardumes de peixes estão cada vez menores.

Pior, reagindo às agressões do ser humano, eventos extremos têm contribuído também para a redução de peixes na natureza — secas extremas matam bilhões de peixes adultos e os em crescimento, que são mais vulneráveis.

Embora reconheça que os nossos irmãos ribeirinhos — pescadores — precisam pescar para o seu sustento e o de suas famílias, tenho absoluta certeza de que, se continuar dessa forma, em menos tempo do que se imagina, não teremos peixes na natureza para manter o sistema.

Quando assumi o governo do Amazonas, tive como primeira providência criar alternativas econômicas que viessem mudar essa situação, não só para os irmãos ribeirinhos, mas também para transformar o modelo de desenvolvimento do Estado, até  então alavancado pela Zona Franca de Manaus.

Elaboramos, com a colaboração de especialistas multidisciplinares, da sociedade civil organizada, de associações de classe, de ecologistas e de representantes do governo federal, a MATRIZ ECONÔMICA AMBIENTAL. Com a participação efetiva da Assembleia Legislativa, aprovamos o arcabouço jurídico (Lei 4.419, de 29.12.2016). Agora, no governo Wilson Lima, foi acrescentada a Lei de Biodiversidade (Lei 7.303, de 17.01.2025).

A Matriz Econômica Ambiental abriu um leque de oportunidades para explorar, de forma sustentável, as enormes riquezas naturais (mineração, madeira manejada, piscicultura, frutas tropicais).

A criação de peixes em cativeiro era um dos pilares da Matriz.

O Amazonas tem as melhores condições para a piscicultura, seja em tanques escavados (usando as áreas já degradadas), em tanques-rede ou no leito dos igarapés.

O projeto previa a instalação de uma grande fábrica de ração, utilizando o farelo de soja da fábrica em Itacoatiara, pois o preço da ração era um gargalo; prévias articulações com o BNDES, Basa, Banco do Brasil e os fundos internacionais e bancos de desenvolvimento no exterior também foram realizadas para o financiamento.

A piscicultura seria desenvolvida em todo o Estado, desde que em áreas já desmatadas ou em capoeiras, respeitando o adensamento florestal.

Essa ideia não pode morrer; é urgente a sua implementação, porque mais de 700 milhões de pessoas passam fome no planeta Terra; no Brasil, são 8,4 milhões de brasileiros que também passam fome.

A piscicultura permitiria a recomposição dos peixes na natureza, daria aos nossos irmãos ribeirinhos uma alternativa para o sustento de suas famílias e proporcionaria ao Estado do Amazonas uma nova atividade econômica.

Sonho com o dia em que o Brasil seja o campeão mundial de criação de peixes de água doce em cativeiro e que o Amazonas seja o maior produtor do Brasil.

 

Professor José Melo

Ex-Governador do Estado do Amazonas

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