As previsões para o IPCA deste e dos próximos dois anos estão piores, segundo boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (03).
Com esta deterioração, as estimativas para a taxa Selic também foram ajustadas para cima, indicando que pode demorar mais tempo para o Brasil voltar a ter juros de um dígito. A piora na perspectiva dos agentes de mercado aumenta pressão sobre as decisões do Copom.
As informações da pesquisa Focus são guia importante para o Comitê, mas estão sob críticas e questionamentos dentro do governo e entre alguns economistas. A dúvida é se as previsões dos economistas do mercado ajudam ou atrapalham o BC na tomada de decisão sobre os juros. As críticas tendem a aumentar quando as expectativas entram em ciclo de piora, como é o caso agora. Como se o problema fosse o termômetro e não a doença.
“O Focus ainda é uma baliza importante para o Copom e não é tão volátil assim. Depende do ciclo econômico e da confiança dos agentes na condução da política monetária. Em algumas situações, a confiança pode piorar antes dos fatos, como é o caso da política fiscal no Brasil. E isso mexe com as expectativas para inflação. Aliás, esse tem sido o principal motivo da piora recente”, afirma o economista de um dos maiores bancos do país.
A pressão política e a incerteza sobre quem será o novo presidente do BC em 2025 também são apontados como justificativa para as revisões negativas para o IPCA. Se a mudança no comando do Copom indicar mais tolerância com uma inflação fora do centro da meta de 3%, a contaminação das expectativas pode piorar, como aconteceu durante a gestão de Alexandre Tombini no governo Dilma Rousseff.
“Se houver divergência novamente vai aumentar a desconfiança sobre a condução do BC no ano que vem. Desde o estrago causado com a divisão dos votos na última reunião, os diretores tentam explicar que a decisão foi técnica e que todos concordavam com piora do cenário. De lá para cá, o cenário não melhorou, ao contrário”, disse ao blog um experiente gestor de investimentos.
O Focus coleta dados de cerca de 130 bancos, casas de análises e gestão financeira que atuam no Brasil. Há pelo menos 5 semanas que as previsões para inflação pioram. Nas estimativas para os juros, as revisões são menos constantes porque é preciso mais tempo para avaliar a perenidade das mudanças nos cenários prospectivos para inflação.
Os novos patamares previstos para inflação e juros nesta segunda-feira (03) indicam que a desancoragem das expectativas para o IPCA se consolida acima da meta de inflação de 3%. Segundo Focus, o índice de inflação deve fechar em 3,88% este ano (de 3,86%). Para o ano que vem, com a quinta revisão seguida, o IPCA deve ficar em 3,77% (de 3,75%), e em 2026, em 3,60% (de 3,58%).
Para a Selic, as previsões aumentaram para 2024, 10,25% (de 10%), e para o ano que vem, agora em 9,18% (de 9%). A taxa básica está hoje em 10,50% e o mercado se divide entre a manutenção deste patamar até o fim do ano, ou pelo menos mais um corte de 0,25pontos percentuais.
Segundo economistas ouvidos pelo blog, o Focus não é a única fonte de informações para o Copom decidir a taxa de juros. Os preços dos ativos, como os títulos atrelados à inflação ou até mesmo os DI’s, a média do custo de empréstimos feitos entre bancos, também influenciam a ação do BC.
“A taxa Selic futura está de uma forma ou de outra implícita nesses títulos. Se o mercado quiser, ele pode convencer o BC por esses preços, não é só pelo Focus. Além do que, quem responde o Focus são os economistas, não são os operadores que tomam posição no mercado. Então não tem porque desacreditar, ou desconsiderar o relatório”, alerta um economista ouvido pelo blog.
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