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Seca e morte: desafios e os improvisos para tentar sobreviver grande estiagem no Amazonas

Tefé-AM, o município que teve diversos botos mortos devido à seca, com temperaturas elevadas da água, o espera após a grande seca histórica de 2023?
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Foto: Alessandra Aline Martins - Tefé/AM - Rio Tefé em período de estiagem.

Em junho de 2024, o Amazonas apresentou estiagem, no município de Tabatinga (a 1.114 quilômetros de Manaus). O secretário da Defesa Civil do Amazonas, coronel Francisco Máximo, afirmou que os impactos poderiam ser percebidos no mês de julho, estimou-se que 150 mil famílias seriam afetadas, e a seca se apresentou um mês antes. Diante disto, poderia prever que seria a pior seca da história do Estado.

Segundo a Defesa Civil, a estiagem já afeta 767.186 pessoas no Amazonas, conforme o Boletim divulgado no início de outubro deste ano. Neste cenário, 190 mil famílias sofrem com os impactos da seca.

Em julho, Tabatinga, Alto Solimões, já apresentava redução de 37 centímetros do nível do rio Solimões. Diante deste fato, era notório a antecipação da vazante no Amazonas. No município alcançou a menor cota com −2,30 metros, conforme a EBC. 

Em Tefé (a 522 quilômetros de Manaus) estava apresentando alguns pontos secos, como o final da Floresta Nacional de Tefé (FLONA), e outros consideram normal. Conforme os dados da Régua do flutuante base do Instituto Mamirauá, entre 24 horas (De 20 e 21/06), o nível do Lago de Tefé baixou 0,4 centímetros.

Como conta o ribeirinho, Randrelyson Santiago da Silva, 29 anos, agente comunitário de Saúde, que mora na comunidade Morada Nova, localizada no município de Tefé-AM, sobres diversos desafios na época da seca, desde da caminhada da comunidade até o local, onde ainda há um pequeno rio, ao  mantimentos que são levados para suprir a necessidades dos moradores.

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Foto: Randrelyson Silva

 

“O nosso maior desafio é que a gente tem que andar, quase meia hora da comunidade até a beira do rio, conforme vai secando. Quando tá cheio, não as embarcações encostam na comunidade. E quando Seca tem que andar toda aquela  área seca lá, então, tem a dificuldade para pescar, também para carregar nossa produção de farinha”, contou o ribeirinho.

Randrelyson Santiago, mora e trabalha na comunidade Morada Nova, à Reportagem do Em Pauta Online, afirmou que trabalha na comunidade, na época da seca, com  dificuldades, principalmente quando há algum paciente que precisa de atendimento mais específico, logo, para levar aonde fica a embarcação, carregam.

“Então, quando o paciente não pode andar, a gente tem que carregar o paciente até a beira do rio para poder remover o paciente até a cidade. Aí sem contar com a dificuldade que a gente encontra no rio, também da comunidade para cidade de Tefé,  a gente gasta quando tá seco em média 4 horas. Tem toda dificuldade no rio, tem parte que não dá para passar com a lancha, tem que remar, toda uma dificuldade, isso afeta muito a nossa vida”, relembrou o ribeirinho das dificuldades vividas na seca de 2023.

Conforme Randrelyson Santiago, a comunidade Morada Nova tem 14 famílias, no total  55 pessoas, no período de seca, sofre com a ausência da Unidade Básica de Saúde (UBS) Fluvial Vila de Ega, que não consegue chegar até a comunidade.

“Ela passa todo o período de seca sem ir. Então, a gente não tem assistência, pois não consegue chegar até a nossa comunidade. Quando a gente precisa de algum atendimento  tem que se locomover da comunidade até a cidade, em busca de atendimento, porque a UBS não pode ir neste período de seca. Existe dificuldade para se locomover no rio, porque nem todo lugar dá para a gente passar. Tem lugar que é preciso parar o motor e começar a remar. Quando não dá para remar,  tem que puxar a canoa”, conta o ribeirinho sobre as dificuldades e improvisos que realiza para sobreviver à época da seca.

 

Randrelyson Santiago  destaca, ainda, que passam estas dificuldades em todas as secas e cada vez, com a severidade a situação piora. “Várias vezes a gente passou por essa situação de puxar a canoa pela lama até chegar no lugar mais fundo, para poder chegar até o nosso destino. Bote, embarcação de pequeno porte, como barco, a gente não consegue passar porque fica muito difícil, e cada seca fica pior”, acrescentou o ribeirinho.

Por sua vez, o pescador Lidomar Tavares, 28 anos, que trabalha no ramo há mais de 12 anos, também aborda os desafios que se depara durante a seca  no município de Tefé. “Dependo muito da navegação para me locomover com meu pescado, para outros municípios devido o preço ser mais viável, na seca. É um desafio dobrado pois todos os anos a navegação muda com a variação da localização das praias e dos baixos”, relatou o pescador.

Lidomar Tavares contou ao Em Pauta Online, que as últimas secas no município dificultaram muito na navegação, em contrapartida, se torna uma época boa para o pescado, pois a quantidade de peixe é maior, que é uma época de estiagem.

“Chamamos de safra do peixe, varia um pouco devido ao nível do rio, mas, é em torno entre os meses de agosto a dezembro. O rendimento do pescado aumenta em torno de 60 %, porém, devido ter que navegar por caminhos mais longos por conta das praias, acaba aumentando os custos de despesas em 40% a mais, do que na época do rio cheio”, afirma o pescador.

O pescador disse que para se salvar do  calor excessivo, ele e os companheiros de trabalho apelaram por entrar dentro do frigorífico, como salvação.

“Como escape da elevação da temperatura na seca em Tefé, e ao levar os pescados a outros municípios, já ficou dentro do frigorífico com os colegas de trabalho”, disse o pescador. 

Desafios de levar saúde aos ribeirinhos 

Tefé fornece atendimento de Unidade Básica de Saúde (UBS) Fluvial Vila de Ega. A unidade foi ativada na gestão  do prefeito Nicson Marreira (União Brasil), preocupado com a logística de atendimento à saúde das comunidades ribeirinhas da cidade de Tefé. 

Na seca, existem desafios para os profissionais que realizam o atendimento aos ribeirinhos. A Unidade Básica de Saúde possui consultório odontológico, atendimento médico e de enfermagem, sala de procedimentos, laboratório e farmácia. 

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Unidade Básica de Saúde (UBS) Fluvial Vila de Ega (Foto: Alessandra Aline Martins)

O médico Patrick Narciso Porto, responsável pela UBS fluvial, informou ao Portal Em Pauta Online, que o transporte é o maior meio de atendimento fluvial em Tefé, logo, durante a estiagem fica inviável  e o serviço mais complexo.

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Foto: acervo UBS Fluvial Vila de Ega

“Como o maior meio de transporte é Fluvial. Durante a estiagem esse serviço fica a maior parte inviabilizado e a logística para oferecer esse serviço fica mais complexa. Assim temos que montar planos específicos para cada comunidade”, conta o médico. 

Patrick Narciso Porto narra que junto com a equipe envia kits para pacientes com diabetes e hipertensão. Além de kits com medicação variadas para cada comunidade e insumos diversos para situações de saúde, através de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e técnicos dos pontos de apoio, os tratamentos são contínuos por meio de teleconsultas.

“Em meio a situação de seca, mediante aos desafios de levar serviços à saúde dos ribeirinhos. Eles vêm na nossa equipe esperança, pois levamos saúde, mesmo em meio a complexidade da estiagem”, destaca Patrick Narciso Porto. 

O médico assegura que com a surpresa da grande seca histórica, do ano passado, aprenderam bastante e a equipe já tem planos para enfrentar esta desde ano.

“Com a surpresa do ano passado ser uma estiagem histórica, aprendemos muito e já temos vários planos para enfrentar esse ano. Por exemplo, já temos uma parceria com a defesa civil e um comitê de estiagem montado da secretaria de saúde e várias instituições”, declarou o médico.

Patrick Narciso Porto destaca que ninguém é treinado para essas situações, porém, tem que enfrentar com coragem e por a prova a profissão de cada um que compõem a equipe. 

“E enfrentar esse desafio diários que a é locomoção em lugares de difícil acesso. Nossa equipe é multiprofissional. Temos médico, enfermeiros, dentista, biomédicos, fisioterapeuta e técnicos de enfermagem. Além da tripulação, somos 24 pessoas embarcadas, ou seja, 18 ACS e 6 técnicos em ponto de apoio”, acrescentou Patrick Narciso Porto.

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Foto: acervo UBS Fluvial Vila de Ega

Vale ressaltar que o resultado das grandes secas dos últimos anos, é reflexo da ação do homem no planeta terra, desde das pequenas queimas, como descartes de lixos de formas inapropriadas até a derrubada de pequenas árvores, que causam danos, influenciando no aquecimento global.

Como por exemplo, no município de Tefé, tem ocorrido queimas frequentes, e com alguns desmatamento, como por exemplo na estrada da Agrovila, onde as imagens naturais vem constantemente se tornando geográficas, o que influencia na temperatura do município, que encontra-se mais elevadas que anos anteriores.

Comunidades isoladas

Ademais, estes comportamentos prejudicam a todos, principalmente na época de seca, destacando que em Tefé-AM, algumas comunidades ficaram isoladas, na época da grande seca de 2023, sem água potável e alimentos, como as comunidades indígenas: Porto Praia e Nova Esperança do Arauiri, do povo Kokama. Além dessas, no Uarini, a Terra Indígena Jaquiri, e o povo Kambeba. Ademais, as comunidades receberam ajuda da Greenpeace Brasil, na missão da iniciativa Asas da Emergência 2023.

Preparação, parcerias e cuidando dos botos em Tefé-AM

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Foto: Miguel Monteiro /INSTITUTO MAMIRAUÁ

Com a morte de 209 botos-vermelhos e tucuxis, no lago de Tefé, pela temperatura elevada chegar a 40°C, na grande seca de 2023, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá vem se preparando para a seca de 2024.

A pesquisadora titular e líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Miriam Marmontel, confirmou ao Portal Em Pauta Online,  que existe uma preparação da instituição com outros parceiros para o enfrentamento a um possível efeito sobre os botos, na seca de 2024. 

“Para isso estamos monitorando as condições ambientais e os animais desde o início do ano, preparando protocolos, adquirindo insumos, equipamentos e observando as mudanças nas condições”, disse Miriam Marmontel.

Dificuldade, logística e horas de caminhada pela saúde indígena na seca

O médico Otávio Augusto Braga, que trabalha nos interiores do Amazonas há anos pelo Ministério da Saúde do Brasil (MS), cuidando da saúde indígena, também relata as dificuldades enfrentadas na época da estiagem para chegar até as aldeias.

“Trabalhei quase 4 anos no polo de Beruri e Anamã, na boca do Purus, e fazíamos atendimentos até nas proximidades de Tapauá. Agora, estou na região de Nova Olinda, dos Rios Mari Mari e Abacaxi, os atendimentos são realizados todos os meses  conforme o Ministério da Saúde determina. Porém, quando chega nessa época da seca, não temos logística, os barcos não entram em vários cursos, até mesmo as lanchas da equipe, não consegue chegar em certas aldeias. Durante a cheia é uma maravilha chegar, mas quando seca tudo, precisa ser na pernada”, disse o médico Otávio Augusto Braga. 

Otávio Augusto Braga destaca que as dificuldades estão totalmente relacionadas à logística, porque são locais distantes, e os meios de locomoção são os barcos e lanchas, e na seca não consegue ter acesso com estes meios de transportes. Então, caminha até às aldeias. 

“Levamos equipamentos e medicamentos, somente, a minha bolsa pesa mais de 10 kg. Atolamos, entra lama dentro das botas. Quando caminhamos fica lama até no joelho. Atravessamos o rio a pé. Andamos na mata, porque a lancha não chega até as aldeias. Tudo para poder acessar as comunidades. Mas, toda dificuldade é relacionada à logística por conta da seca”, disse o médico. 

Conforme Otávio Augusto Braga, a equipe é composta por médico, profissional de enfermagem, técnico de enfermagem, dentista, técnico dentista e piloto fluvial. E a quantidade de aldeias varia com o Polo Base, por exemplo, antes eram 23, agora, são 12.

Educação é um desafio às comunidades na estiagem

A educação é um desafio para muitas comunidades, e na seca, este cenário dobra. Esta é a afirmação da professora Rosangela Peres de Oliveira, 56 anos, que trabalhou na cheia e seca na comunidade Morada Nova, localizada no município de Tefé-Amazonas.

“As aulas municipais em Tefé, iniciam no mês de março. Então, quando chega o dia de irmos para a comunidade, saímos 5 horas da manhã, no barco Raimundo Sobrinho, com chegada entre 11 horas e 12 horas. Esta rotina realizamos durante a cheia”, relata a professora, que trabalhou por 2 anos na comunidade.

Na seca, a docente Rosangela Peres conta que os professores têm que pegar lancha, pagar passagens e andar, onde precisam de um bom preparo físico. “Temos que andar bastante, na seca, para isso precisamos de bom preparo físico, porque missão  é para ser cumprida. E temos muitas dificuldades para carregar nossas coisas, e as merendas na escola. Precisamos ser firmes, nada é impossivel”, relata a professora Rosangela Peres.

Situação econômica na Seca

A economista Denise Kassama afirma ser evidente que, havendo seca, corre o risco de desabastecimento ou de redução da oferta de produtos. Sendo assim, com a baixa oferta, tende um aumento de preços porque haverá uma demanda insatisfeita, mas, a dimensão desta situação, apenas com a chegada da seca.

“Infelizmente todos os prognósticos de meteorologia sinalizam que a seca, deste ano, vai ser pior, referente a de 2023. Esta informação vem do próprio governo do Estado,  que aliás o governador Wilson Lima anunciou uma série de medidas, para tentar minimizar a seca ”, disse a economista.

Estiagem, economia e sociedade 

O antropólogo Clayton Rodrigues, que vive em Tabatinga-AM, relatou ao Portal  Em Pauta Online, algumas observações sobre a estiagem do ano de 2023 e a próxima que vem sendo alertada pelos órgãos públicos oficiais. 

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Foto: Clayton Rodrigues, antropólogo

‘As grandes secas, após grandes cheias, vêm fazendo parte cada vez mais do cenário hidrográfico amazônico. Vivendo às margens do grande rio Solimões, na tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia, essa realidade tem um aspecto um tanto quanto peculiar. Três países se encontram em um determinado ponto deste grande rio”, relatou o antropólogo.

Clayton Rodrigues destacou que a população peruana que vive na fronteira com o Brasil, no Amazonas, depende quase que exclusivamente do transporte e abastecimento fluvial.

“Letícia, na Colômbia, por exemplo, só consegue isso via aérea ou com produtos peruanos e brasileiros que também na sua grande maioria chegam via fluvial. Este é um aspecto socioeconômico, mas também nos deparamos com as questões de saúde e segurança. As três cidades fronteiriças amazonenses são: Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte. Pela distância do grande centro Manaus que é a capital do estado já tem encarecido o seu custo de vida por conta da dependência de abastecimento por via fluvial”, destacou Clayton Rodrigues. 

Para o antropólogo, que já presenciou a seca histórica de 2023, com o decorrer dos anos, o Amazonas terá cada vez mais secas severas, as calamidades se repetem e as regiões não conseguem se recuperar entre um período e outro de estiagem.

Clayton Rodrigues aponta os impactos e desafios da realidade no Amazonas na época de estiagem.“São vários impactos: fragilização e limitação de transporte de pessoas e cargas, isolamento de comunidades ribeirinhas e indígenas, além de isolamento das cidades, aparecimento de diversas doenças relacionadas à qualidade das águas e na questão ambiental o aparecimento de fenômenos que comprovam emergências climáticas nesta região da Amazônia”, disse Clayton Rodrigues.

Segundo o antropólogo, o Amazonas ainda está se recuperando da grande seca de 2023, e a deste ano, pois ficou com diversas sequelas.

“Com a grande seca do ano passado, 2023 ficaram ainda várias sequelas, e já se aproxima uma nova estiagem também muito agressiva. Os governos tanto municipais quanto estaduais não conseguem promover planejamentos minimamente mitigatórios para os impactos previstos e previsíveis. Só há justificativas sobre baixo orçamento, omissão de partes responsáveis, e no caso da região da tríplice fronteira também faltam estratégias federais, dada sua particularidade transfronteiriça. A verdade é que não estamos preparados para lidar com as previsões das emergências climáticas, sendo incerto nosso futuro próximo frente a esses eventos cada vez mais comuns”, afirmou o antropólogo Clayton Rodrigues.

Seca 2024 -Dados  

De acordo com a Defesa  Civil do Amazonas, em relação às variáveis meteorológicas, há uma distinção em comparação ao ano anterior. Este ano, as condições meteorológicas do Estado estão sujeitas à influência do Atlântico Tropical Norte, enquanto no ano passado houve também o impacto do El Niño, o que prolongou a estiagem. 

Ao Em Pauta Online, a Defesa Civil informou que pode-se esperar uma estiagem mais breve, com duração de 3 a 4 meses, porém, intensa devido às projeções que apontam para uma influência significativa no regime de chuvas de agosto a outubro. Isso tenderá a afetar o padrão de precipitação, reduzindo o volume de chuvas.

“Observa-se chuvas abaixo da média em junho, julho e agosto, especialmente no sul do Amazonas, e outras previsões indicam que grande parte do estado também terá chuvas abaixo do normal. É importante ressaltar que o Amazonas ainda lida com os efeitos da seca histórica do ano passado, ou seja, o nível dos rios ainda não se recuperou completamente, mesmo durante a estação chuvosa os níveis de algumas calhas continuam abaixo da média, resultando em déficit hídrico. Não se espera uma seca prolongada, mas sim um trimestre seco e intenso. Tanto a seca quanto as chuvas escassas no sul do país são eventos extremos que requerem atenção e planejamento adequados”, afirmou a Defesa Civil ao Em Pauta Online.

Impactos esperados da estiagem de 2024 

A Defesa Civil destacou que a situação hídrica é fortemente impactada devido à escassez de chuvas, que interrompe o fluxo dos rios, afetando diretamente a mobilidade das comunidades que dependem dessas vias fluviais. Além disso, a vegetação torna-se cada vez mais vulnerável às secas frequentes, sem tempo suficiente para se regenerar.

“Está em andamento a construção do plano de trabalho estadual para que as secretarias atuem no planejamento prévio para minimizar os efeitos da estiagem. A Defesa Civil tem realizado desde o mês de janeiro reuniões com setores como indústria e comércio, poderes públicos, empresas de telecomunicações e concessionárias de água e energia para fornecer informações e coordenar ações de prevenção diante da possibilidade de outra severa estiagem em 2024”, disse a Defesa Civil.

Na nota ao Em Pauta Online, a Defesa Civil confirmou que em maio, o governador Wilson Lima anunciou a emissão de licenças ambientais para a dragagem em quatro trechos de rios do Amazonas e destacou que o Governo do Estado tem agido de forma antecipada para minimizar os impactos da estiagem deste ano, cuja previsão é de que seja tão ou mais intensa quanto a de 2023.

“O trabalho de dragagem será feito pelo Governo Federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), com previsão de início imediato a partir da emissão das licenças. A dragagem atende um pleito do governador que desde o início do ano vem se reunindo com ministros de Estado, a exemplo dos ministérios de Portos e Aeroportos, de Integração e Desenvolvimento Regional e de Meio Ambiente e Mudança do Clima, solicitando apoio na antecipação de ações”, confirmou em Nota.

A Defesa Civil aponta que o serviço de dragagem consiste na retirada de sedimentos (como areias e outros materiais) do fundo dos rios para facilitar a navegação de embarcações e evitar que encalhem. Entre os trechos que receberam as licenças ambientais, emitidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), estão: Manaus-Itacoatiara (rio Madeira); Codajás-Coari e Benjamin Constant-São Paulo de Olivença (rio Amazonas) e Benjamin Constant – Tabatinga (rio Solimões). 

Investimentos e adaptação climática  

O Governo do Amazonas estabeleceu o Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental para coordenar as ações dos órgãos envolvidos na prevenção, preparação, mitigação e resposta ao desastre da estiagem em 2023. Esse comitê teve como objetivo a preservação de vidas, a redução dos impactos dos desastres, a conservação do meio ambiente e dos sistemas coletivos, o estímulo à economia nos municípios afetados, a restauração da normalidade social e a prevenção para evitar ou minimizar futuros desastres.

Como parte dessas iniciativas, o governo do Amazonas está planejando um projeto de adaptação climática, visando enfrentar os desafios impostos pelas mudanças no clima e proteger as comunidades vulneráveis da região.

Ao Em Pauta Online, a Defesa Civil afirma que está intensificando a implementação de medidas preventivas e o uso racional de recursos naturais para a população dos municípios que residem em áreas de risco, com o objetivo de minimizar os impactos da estiagem neste ano. 

“Algumas orientações importantes incluem: manter-se informado com informações oficiais sobre a estiagem e alertas de emergência; seguir sempre as orientações das autoridades locais para garantir a segurança pessoal e comunitária; praticar o uso racional de água e energia, desligando aparelhos quando não estiverem em uso, optando por lâmpadas de baixo consumo para economizar energia, armazenando água potável, fechando torneiras, consertando vazamentos e reutilizando a água sempre que possível”, afirmou a Defesa Civil.

Entre as iniciativas está o Projeto Água Boa, ação da Defesa Civil do Amazonas que até o momento já distribuiu cerca de 500 purificadores de água nas comunidades do interior do estado. A ação visa garantir o acesso à água potável e contribuir para a saúde e bem-estar das populações locais, especialmente durante os períodos de estiagem, quando a escassez de água potável se torna mais crítica.

Degradação da floresta em Tefé

Tefé vem sofrendo pequenas queimadas, desmatamento e degradação da floresta, o que intensifica o aquecimento global. A cidade amanheceu encoberta por uma massa cinzenta, no dia 19 de junho. O fato está ocorrendo  por possíveis desmatamentos e pequenas queimas, no bairro Colônia Ventura, zona Oeste da cidade.

Na manhã desta quarta-feira, 28/08, a cidade amanheceu encoberta por fumaça, com péssimo ar para respirar. Momento difícil aos tefeenses que estão passando por uma epidemia de gripe.

Monitorando – Ibama

Conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o monitoramento de queimadas em imagens de satélites é útil para grande áreas e regiões remotas, sem intensivos de acompanhamentos.

O Ibama explica que entre os satélites utilizados para sensores ópticos operando na faixa termal-média de 4um e que o INPE consegue receber, se utilizam do Satélite referência. Diante disto, é o satélite onde os dados diários de focos são identificados, contudo, queimadas muito extensas são detectadas.

“Mesmo no satélite referência, a relação foco x queimada não é direta nas imagens de satélite. Um foco indica a existência de fogo em um elemento de resolução da imagem (píxel), que varia de 1 km x 1 km até 5 km x 4 km. Neste píxel pode haver uma ou várias queimadas distintas que a indicação será de um único foco. E se uma queimada for muito extensa, ela será detectada em alguns píxeis vizinhos, ou seja, vários focos estarão associados a uma única grande queimada. Ainda, é comum uma mesma queimada ser detectada por vários satélites”, apontou o IBAMA.

Os moradores do bairro do Abial e da Colônia Ventura, destacam que o desmatamento existe na localidade é causado frequentemente por conta de invasões. A população tefeense está desconfortável com a queima.

O Portal  Em Pauta Online (EPO) entrou em contato com o Instituto Mamirauá, que por meio da Assessoria de Comunicação, informou que não saiu nada oficial até o momento, porém, Tefé amanheceu cinza na quarta-feira, 19/06.

Desmatamento

O ambientalista Carlos Durigan destaca que o desmatamento na Amazônia tem se constituído um grande problema pela degradação ambiental que causa, ameaçando a biodiversidade e, ainda, afetando o clima global, contribuindo para o aquecimento do planeta, vivente nos dias atuais.

“Este cenário negativo afeta tanto a todos nós atualmente, e ainda devem afetar a qualidade de vida das futuras gerações. Nosso modelo de viver e produzir tem se constituído como o principal vetor dessas mudanças, uma vez que, o aumento da população e a ampliação de frentes de produção agropecuária é feita de forma indiscriminada e afetando drasticamente nossos ambientes naturais”, disse o  ambientalista.

Segundo Durigan, o grande desafio que se coloca a sociedade é o de buscarmos formas de produzir reduzindo os impactos. “Esforços são feitos, neste sentido, estabelecendo políticas e normas de proteção de florestas, mas, ainda precisamos evoluir para construir um modelo de desenvolvimento em que consigamos reduzir o desmatamento”,  afirmou Durigan.

Mudanças climáticas e seca em 2023

Com as mudanças climáticas extremas causam os períodos de seca, o que afetou a agricultura, os ribeirinhos, criação dos animais terrestres e os mamíferos aquáticos, como, por exemplo, os botos. Estes prejuízos são consequências das ações do homem no planeta. 

Dos 62 municípios do Amazonas, a terra da Castanha, Tefé-Amazonas, a 522 quilômetros de Manaus, entrou para história, em 2023, com a grande seca, onde seu lago chegou a 40 °C, o que provocou a morte de diversos botos-vermelhos e tucuxis. A ex-princesinha do Rio Solimões tornou-se assunto nacional.

Os ribeirinhos das comunidades de Tefé foram prejudicados com a seca de 2023, onde apenas barcos pequenos com muita dificuldade  navegavam na região. Na época, o Instituto Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) realizou resgates com apoio de outras instituições, e orientou a população tefeense como tratar a água em casa durante a seca.

Seca em Tefé 

Em 2023, a seca em Tefé-AM foi marcada pela morte de mais de 200 botos-vermelhos e tucuxis (mamíferos aquáticos da região amazônica), no lago de Tefé, por conta da elevada temperatura, conforme o registro do Instituto Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).

Além dos mamíferos aquáticos, os ribeirinhos, agricultores que trabalham em comunidades distantes da cidade, pescadores, trabalhadores da educação, saúde, e  a economia também foram afetados pela seca de 2023, e tiveram que passar por momentos desafiadores e improvisos pela sobrevivência.

*Alessandra Aline Martins – Bacharela em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo no Centro Universitário do Norte (UNINORTE). bacharelanda em Direito no Centro Universitário do Norte (UNINORTE). Pós-graduada em Ciências Políticas e Gestão Pública na FACUMINAS. Lattes: https://lattes.cnpq.br/6931496007481752 E-mail: alessandraaline.martinss@gmail.com

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