A pobreza é a condição natural da humanidade. Uma das maiores falácias ideológicas é o mito romântico da existência de um suposto “bom selvagem”, que teria vivido em uma era de ouro, imune à escassez, em um idílico estado de natureza marcado pela fartura. De acordo com a descrição de Thomas Hobbes (1588-1679), na obra Leviatã, de 1651, a vida humana antes do estabelecimento da sociedade era “solitária, miserável, sórdida, brutal e curta”. Nesse sentido, a narrativa bíblica acerca do Jardim do Éden não deve ser utilizada como meio para negar a premissa da escassez, pois o livro de Gênesis afirma que, devido ao pecado original, a Terra foi amaldiçoada e o homem foi condenado por Deus a tirar do solo, por intermédio de “trabalhos penosos”, o próprio sustento todos os dias de sua vida, sendo obrigado a comer o pão com o suor do próprio rosto até morrer (Gn 3,17-19). Logo, os cristãos têm a obrigação moral de rejeitar as premissas econômicas do socialismo.
Em uma perspectiva não religiosa ou não filosófica, uma simples análise histórica das condições materiais existentes nas sociedades que se organizaram ao longo dos mais de seis mil anos de história da civilização demonstra que, até o século XVIII, a maior parte das pessoas vivia numa terrível condição de miséria, sendo a fome responsável pela morte de parcela significativa da população. Apenas devido à Revolução Industrial, com o advento do sistema econômico que se convencionou denominar de capitalismo, tal quadro foi revertido. No próprio Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) reconheceram que o sistema capitalista, em menos de cem anos, criou as “forças produtivas mais maciças e mais colossais que todas as gerações precedentes juntas”.
O surgimento da Ciência Econômica está relacionado ao significativo aumento de riquezas durante a Revolução Industrial na Inglaterra. Ao investigar a natureza das causas que levam as sociedades a alcançar a prosperidade em um ambiente marcado pela pobreza, em seu livro A Riqueza das Nações, de 1776, o filósofo moral Adam Smith (1723-1790) definiu o objeto, os métodos, os problemas e uma série de leis da Economia, que passou a ser um campo de pesquisas autônomo em relação à Ética, ao Direito e à Política.
Desde o seu estabelecimento no paradigma do método newtoniano por Adam Smith até os nossos dias, a Ciência Econômica lida, essencialmente, com problemas relacionados à escassez de meios em face a fins ilimitados. Estes ocorrem quando meios escassos são postos diante de fins alternativos, de modo que a utilização de recursos para determinados fins acarreta necessariamente o sacrifício dos demais fins com a renúncia de oportunidades alternativas. Em linhas gerais, os problemas econômicos se dividem em quatro grupos distintos, a saber: 1º) Problemas do lado da procura, cujo objetivo é responder quais bens e serviços devem ser produzidos e em que quantidades; 2º) Problemas do lado da oferta, isto é, como os bens devem ser produzidos; 3º) Problemas de distribuição, ou seja, para quem e em que quantidade os bens e serviços devem ser distribuídos; 4º) Problemas de crescimento, que tentam solucionar como aumentar a produção per capita no tempo.
A mera vontade humana não é suficiente para abolir as leis econômicas decorrentes desses problemas. Uma revolta voluntarista contra as leis econômicas, mesmo que pautada por corretos princípios éticos, é ato irracional com desastrosas consequências piores do que as falhas que busca corrigir. Diferentemente do que apregoam os socialistas e outros
intervencionistas, a solução para as possíveis falhas éticas nos mercados não está na busca por mudanças estruturais nas relações econômicas, na socialização dos meios de produção ou no uso do controle estatal, mas na adesão das pessoas aos princípios da moral, que deverão nortear as escolhas dos produtores e consumidores na economia real. Além disso, tanto fundado em princípios teóricos quanto em dados empíricos, é possível afirmar que o livre mercado possibilita um maior grau de responsabilidade dos agentes em suas escolhas do que o intervencionismo econômico.
Sobre a FLE
A Fundação da Liberdade Econômica (FLE) é um centro de pensamento, produção de conhecimento e formação de lideranças políticas. É baseada nos pilares da defesa do liberalismo econômico e do conservadorismo como forma de gestão. Criada em 2018, a entidade defende fomentar o crescimento econômico, dando oportunidades a todos. Nesse sentido, investe em programas para a formação acadêmica, como centro de pensamento e desenvolvimento de ideias. Ao mesmo tempo, atua como instituição de treinamento para capacitar brasileiros ao debate e à disputa política.
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