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‘Mercado não vê diferenças entre Lula e Bolsonaro’, diz economista

Neste ano, desde o início oficial da campanha eleitoral, no dia 16 de agosto, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil,
Imagem: Ricardo Stuckert Clauber e Cleber Caetano/PR

A poucos dias do primeiro turno das eleições, a Bolsa está relativamente calma. No passado, qualquer fala dos principais candidatos sobre a política fazia a Bolsa subir ou cair muito em um mesmo dia. Neste ano, desde o início oficial da campanha eleitoral, no dia 16 de agosto, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil, caiu 2,2%.

Para explicar esse cenário, o UOL ouviu cinco especialistas, estrategistas e sócios de corretoras.

Para eles, essa aparente calmaria vem do fato de que os dois principais candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, já são conhecidos. “Em pesquisas, o mercado não está vendo grandes diferenças entre Lula e Bolsonaro”, diz o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Outro motivo para a estabilidade da Bolsa é o capital estrangeiro. “O gringo não enxerga muita diferença entre um candidato e outro. A Bolsa está barata, e o gringo está comprando”, afirma Renato Breia, sócio e fundador da Nord Research.

Para os especialistas, ainda há duas grandes incertezas no horizonte: quem irá compor a equipe econômica de Lula ou Bolsonaro, caso ganhem, e como cada um irá lidar com os gastos do governo em um eventual mandato.

Teria o mercado perdido o receio de um eventual governo do PT? Há visões diferentes. Breia afirma que o mercado “tem muito medo” de Lula.

Sérgio Zanini, sócio e gestor de fundos líquidos da Galápagos Capital, diz que o mercado é “pragmático, não interessa se o governo é do PT ou do Bolsonaro, a preocupação é com o modelo econômico”.

Confira as entrevistas abaixo.

O que o mercado espera do próximo presidente? Entre projetos e propostas dos candidatos, quais são os mais cruciais para a economia brasileira?

Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management: Em tese, o mercado esperaria que o próximo presidente mantivesse a agenda de reformas, com especial atenção para as mais pesadas, como a administrativa, além da tributária, inadiável por se tratar de uma que torna o ambiente de negócios mais salutar, menos tóxico.

Há de observar o esforço do PT de agradar a classe média, falando na isenção de IR até R$ 3.900 e socorro às famílias endividadas. O PT reage muito à necessidade de privatização de algumas estatais, verdadeiras “vacas sagradas” do modelo estatista, como os Correios e a Petrobras. Por outro, fala muito em aprofundar os programas de transferência ou inclusão social.

Pelo lado do bolsonarismo, fala-se em desmembrar o Ministério da Economia e criar o do Planejamento e o da Indústria e Comércio. Claro que isso é uma demanda do Centrão. Bolsonaro fala também em fatiar a Petrobras e manter os programas de concessão.

Marcelo Citadin Oliveira, assessor de investimentos na GT Capital: O mercado espera que o próximo governo seja o menos intervencionista possível nas empresas estatais listadas em Bolsa, que mantenha uma política de controle da inflação para o ano que vem, e mantenha o teto de gastos.

Renato Breia, sócio e fundador da Nord Research: O Estado está muito grande, gasta muito e já está no limite de gastos. A taxa de juros está alta, assim como a dívida. Se você não mostra para o mercado que haverá responsabilidade fiscal, ocorrerá uma trajetória de alta de juros e dívida explosiva, um ciclo muito ruim para o Brasil.

Ficou muito claro que pelo menos um dos candidatos, o Lula, tem um discurso que vai contra tudo isso, que eu acho que são as âncoras de um bom governo daqui para frente. Ele diz que não tem problema aumentar gastos se for para investimentos, que o teto de gastos é um absurdo.

Eleições costumam ser um momento de instabilidade para o mercado. Por que, até agora, não vemos grande volatilidade na Bolsa com as eleições presidenciais?

Julio Hegedus Netto: Na visão de muitos, será voto útil contra um ou contra outro. Ganhará o “menos pior”. Contra Lula, estão as várias acusações da Lava Jato. Contra Bolsonaro, o desastre absoluto na sua comunicação com a sociedade.

Marcelo Citadin Oliveira: O fato de dois candidatos possuírem a maioria das intenções de votos e já serem figuras conhecidas dos investidores traz de certa forma um alívio de incertezas ao mercado em relação à última eleição de 2018.

Outro motivo também é que nos últimos três anos o Brasil aprovou leis importantes para o pleno funcionamento do mercado de capitais, a exemplo da lei de autonomia do Banco Central.

Sérgio Zanini, sócio e gestor de fundos líquidos da Galápagos Capital: Existe alguma apreensão em saber quais vão ser as equipes econômicas e qual será o planejamento para fazer os ajustes fiscais. Além disso, nossa Bolsa está muito barata em relação a outras Bolsas de países emergentes e em relação à média histórica. Uma Bolsa muito barata acaba sofrendo menos.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos: Entendo que a volatilidade está menor esse ano. Em pesquisas, o mercado não está vendo grandes diferenças entre Lula e Bolsonaro É bem diferente do que foi em 2018, em que se viam cenários muito diferentes entre Haddad e Bolsonaro para mercado, Bolsa e câmbio.

Nas eleições passadas as propostas econômicas foram apresentadas e eram bem distintas. Desta vez, poucas propostas foram mostradas. Um exemplo é o Auxílio Brasil. Lula vai a público e fala que, se fosse presidente, daria um auxílio de R$ 600. Logo em seguida, Bolsonaro coloca o auxílio em R$ 600 e fala que, se for reeleito, serão R$ 800. Ou seja, poucas contas e muitas promessas.

Mesmo assim, o próximo presidente deve ter boa recepção do mercado. Lula tem a questão ambiental que pode fazer preço. Investidores estrangeiros podem voltar a trazer recursos para o Brasil. Caso Bolsonaro vença, irá defender a reforma tributária e administrativa.

Renato Breia, sócio e fundador da Nord Research: Acredito que a causa para a instabilidade menor sejam os investidores estrangeiros. Temos um fluxo externo de investimento estrangeiro bem alto neste ano. O investidor estrangeiro não enxerga muita diferença entre um candidato e outro. A Bolsa está barata, e o gringo está comprando.

Marcelo Citadin Oliveira: As pesquisas eleitorais, que apontam Lula e Bolsonaro com grande maioria das intenções de voto, trazem de certa forma um alívio para os investidores. O mercado odeia trabalhar com incertezas no horizonte.

Com o apoio do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao ex-presidente Lula, o que muda na corrida eleitoral na visão do mercado?

Julio Hegedus Netto: A participação de Henrique Meirelles em evento de apoio à candidatura do ex-presidente Lula da Silva foi bem vista pelo mercado. Meirelles, inclusive, já veio com uma agenda pesada, falando em reforçar a ancoragem fiscal, com uma ampla e dolorosa reforma administrativa, um extenso programa de venda de ativos, dentre outros.

Marcelo Citadin Oliveira: O apoio de figuras como a do ex-ministro Henrique Meirelles é de certa forma sempre bem visto pelos investidores. Soa como um aceno do ex-presidente Lula ao mercado, podendo fazer a candidatura do petista ganhar espaço entre os investidores do mercado financeiro.

Sérgio Zanini: O mercado gostaria de ter mais certeza em relação a quem seria a equipe econômica que o governo Lula traria caso ganhe. Lógico que trazer o Meirelles dá ao mercado a expectativa de que a parte econômica do eventual governo Lula vai ser tocada por especialistas. É uma pessoa que já tem histórico de credibilidade, respeitado pelo mercado e criador do teto de gastos.

Gustavo Cruz: Se Meirelles fizer parte da equipe de Lula, ótimo, porque ele é criador do teto de gastos. Como ministro do Lula, vai ser difícil para ele engolir uma troca do teto de gastos por uma regra muito frouxa. Nesse caso, já começaria o governo com crise, porque Meirelles assumiria e já sairia. Queremos ver se esse eventual governo vai trabalhar junto.

Renato Breia: O mercado vê o teto de gastos como um dos fatores mais importantes e decisivos dos próximos anos. Já vimos Lula dizendo que não vai cumprir o teto, que é absurdo e prejudica os pobres e que o governo deveria, sim, gastar mais se for para investimento. Com Lula e Meirelles, vemos duas pessoas que discordam frontalmente se unindo.

Há 20 anos, o ex-presidente Lula escreveu a Carta ao Povo Brasileiro, para firmar um compromisso com o setor econômico e financeiro. Hoje, o mercado já perdeu o receio de um governo do PT?

Marcelo Citadin Oliveira: A grande parte dos investidores tem uma memória muito recente dos dois últimos mandatos petistas da ex-presidente Dilma Rousseff, nos quais o Brasil enfrentou uma crise bem acentuada. Creio que desta vez, em uma eventual eleição de Lula, não será tão fácil de apaziguar os ânimos do mercado como foi em 2003.

Sérgio Zanini: O mercado é pragmático. Não interessa se o governo é do PT ou do Bolsonaro. Seja quem for, o mercado tem uma preocupação muito grande com o modelo econômico brasileiro. Até porque o mercado conviveu com o governo PT que deu certo por um tempo e com um governo PT que deu muito errado em outro tempo.

Gustavo Cruz: Não. Mas temos hoje uma situação mais favorável, que não tínhamos em 2014 quando a Dilma ganhou de novo, que era uma economia que estava para colapsar. Agora a situação é delicada na parte fiscal, mas tem espaço. O país está com a taxa de desemprego em queda, vai crescer acima de 3%, e a pior fase de aperto monetário já passou.

Renato Breia: Não concordo. O mercado tem, sim, muito medo do que seria o governo Lula, por todas as coisas que ele já falou em palanque. O mercado vê o Lula, sim, como algo bem ruim e negativo. O que tem sustentado um pouco o juro, o câmbio e a Bolsa no Brasil é a condição mundial. Com nosso juro altíssimo, há muito interesse de investidores de comprar juros no Brasil. No mundo, temos Bolsas com preços muito altos e aqui temos uma das Bolsas mais baratas dos últimos 10 anos. O investidor gringo, que olha mais para o longo prazo, enxerga oportunidade. Isso de alguma forma amortece a Bolsa.

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