Oito meses depois de o Supremo decidir, por 8 a 3, anular as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva — tornando-o elegível —, duas das mais respeitadas pesquisas do país apontam que, se a eleição fosse hoje, o petista seria eleito no primeiro turno.
A extrema direita “bolsomorista” não gosta de Lula, mas a maioria dos eleitores gosta. Na quarta, o Ipec trouxe os números favoráveis ao petista. Ontem foi a vez do Datafolha.
Os adversários do ex-presidente e os que se ajoelham no altar da análise “nem-nem” podem tentar olhar para o outro lado, mas o fato inequívoco é que, também no Datafolha, aumentou a adesão a seu nome. Em suma, as más notícias da pesquisa são endereçadas a seus adversários.
O PRIMEIRO CENÁRIO
O primeiro cenário é o mais plausível deles, a saber:
– Lula (PT): 47%
– Bolsonaro (PL): 22%
– Sérgio Moro (Podemos): 9%
– Ciro Gomes (PDT): 7%
– João Dória (PSDB): 4%
– Em branco/Nulo/ Nenhum: 8%
– Não sabe: 2%
Notem: em setembro, houve simulação muito parecida. Luiz Henrique Mandetta (DEM) era testado em lugar Moro. Ficou com apenas 4%. Lula tinha 44%. Bolsonaro estava melhorzinho: 26%; Ciro marcava 9%, e Doria, os mesmos 4%. Votos em branco/nulo/nenhum eram 11%, e os que não sabiam, os mesmos 2%. Prestem atenção! O cenário de agora, em tese, seria mais adverso para Lula em razão da entrada de Moro, vendido por parte da imprensa como um furacão eleitoral. E, mesmo assim, o petista saltou de 44% para 47%.
O SEGUNDO CENÁRIO
O Datafolha testou um cenário dois, com muitos candidatos, que me parece implausível.
– Lula: 47%
– Bolsonaro: 21%
– Moro: 9%
– Ciro: 7%
– Doria: 3%
– Simone Tebet (MDB): 1%
– Rodrigo Pacheco (PSD): 1%
– Embranco/nulo/nenhum: 8%
– Não sabe: 2%
– Aldo Rebelo (sem partido), Alessandro Vieira (Cidadania) e Felipe D’Ávila (Novo) não pontuaram.
Em setembro, o instituto havia feito simulação parecida. Não constava o nome de D’Ávila. Lá estava Luiz Datena, com 4% — agora não aparece. Os demais números: Lula (42%), Bolsonaro (24%), Ciro (10%), Doria (5%), Simone Tebet (2%), Aldo (1%), Pacheco (1%) e Vieira (0%). “Em nenhum/branco/nulo” eram 10%, e 2% não sabiam.
Assim, também na hipótese em que os candidatos se multiplicam, a preferência pelo nome de Lula cresce, passando de 42% para 47%.
VOTOS ESPONTÂNEOS
“Ah, só cenários rigorosamente iguais são comparáveis”. Sim, sei disso. Mas que não se use esse fundamento para tentar negar que os números indicam que aumentou a densidade eleitoral de Lula de setembro para cá. Também o indicam os votos espontâneos. Abaixo, seguem os números de agora com os da pesquisa passada entre parênteses:
– Lula: 32% (27%)
– Bolsonaro: 18% (20%)
– Ciro: 2% (2%)
– Outros: 2% (3%)
– Ciro: 2%
Como se percebe, o petista avançou, em três meses, cinco pontos percentuais.
SEGUNDO TURNO
Lula bate todos os seus adversários. Vejam os números cotejados com os de setembro (entre parênteses):
Lula 59% X 30% Bolsonaro (56% a 31%);
Lula 60% X 20% Doria (55% a 23%)
Lula 56% X 26% Ciro (51% a 29%)
Lula 57% X 31% Moro (não se testou em setembro)
Perceberam? Também o segundo turno aponta o robustecimento da candidatura petista. Cresceu a diferença a seu favor em todos os cenários testados. A menor se dá no confronto com Moro, sem simulação em setembro. Ainda assim, no cotejo com a disputa Lula-Bolsonaro, a diferença se situa na margem de erro.
Se Lula vence a todos, Bolsonaro segue perdendo para todos:
– Ciro 53% X 32% Bolsonaro (52% a 33%)
– Doria 46% X 34% Bolsonaro (46% a 34%)
– Moro 48% X 30% (não se testou em setembro)
Como se nota, sem Lula no segundo turno, o que é improvável, qualquer dos candidatos derrota Bolsonaro, inclusive seu ex-ministro da Justiça e rival no terreno da extrema direita.
REJEIÇÃO
O presidente Jair Bolsonaro segue sendo, de longe, o campeão da rejeição também no Datafolha. Vejam os números (entre parênteses, os de setembro):
– Bolsonaro: 60% (59%)
– Lula: 34% (38%)
– Doria: 34% (37%)
– Moro: 30% (sem teste)
– Ciro: 26% (30%)
– Pacheco: 17% (17%)
– Aldo Rebelo: 16% (15%)
– Alessandro: 15% (14%)
– Simone Tebet: 15% (14%)
– Luiz Felipe D’Ávila: 15% (sem teste)
– Rejeita todos: 3% (2%)
Exceção feita a Bolsonaro, caiu a rejeição a todos os candidatos que mais pontuam. Os números de Bolsonaro são verdadeiramente fabulosos: seu saldo negativo, em relação ao seu melhor desempenho, é gigantesco: 38 pontos.
Na verdade, Lula é o único que tem um percentual de adesão muito maior do que o de rejeição: 48% a 34% no melhor cenário. Todos os outros ficam no vermelho, a exemplo de Bolsonaro: Doria (-30); Moro (-21); Ciro (-19) e Pacheco (-16).
ENTÃO TUDO ESTÁ DEFINIDO?
É claro que não! Ainda há muito tempo pela frente, mas não se disputam eleições no vácuo. Escrevo na coluna de hoje na Folha que minhas análises não contemplam, por exemplo, prisões arbitrárias e facadas à margem da história que fazem história. Considero um cenário de normalidade.
A perspectiva na economia não é nada auspiciosa para os pobres, mesmo com o tal Auxílio Brasil — que é o Bolsa Família submetido a uma expropriação política. Os realistas falam em possível recessão de 0,5% ou em estagnação em 2022. Os muito otimistas, num crescimento abaixo de 1%. O desemprego e o subemprego continuarão avassaladores.
Informa a Folha, com base em dados do Datafolha:
“Em termos de perfil de eleitorado, poucas mudanças ante pesquisas anteriores. Lula segue com melhor desempenho entre os mais jovens (54% no cenário A, 53% no B), menos escolarizados (56% em A e B) e mais pobres (56% e 55%, respectivamente, sendo que Lula tem 40 pontos de vantagem sobre Bolsonaro entre a população de renda mais baixa). Esse último dado é particularmente importante: 51% da amostra do Datafolha é de pessoas que ganham até 2 salários mínimos.”
Sabem por que 51% da amostra do Datafolha tem esse perfil? Porque essa é a realidade do eleitorado. Sim, vem campanha eleitoral pela frente. O PT enfrentará artilharia pesada. Mas é importante lembrar que também sabe bater.
A eleição não está definida. Ignorar, no entanto, que Lula é o franco favorito é burrice ou má-fé ideológica.
A estupidez reacionária sustenta que é o STF que pode eleger o petista. Se acontecer, será o povo. Ocorre que essa gente gostaria que aparecesse um outro juiz para cassar a vontade das urnas.
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