Os partidos que apoiam a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começaram a procurar outras legendas para debater um plano de pacificação da campanha eleitoral. O objetivo é unir pré-candidatos e instituições em torno de uma iniciativa contra a violência política, que vá além da frente ampla de Lula, formada por PV, PCdoB, PSB, Rede, PSOL e Solidariedade.
Só há um problema: nem os petistas, que fazem a proposta, nem os aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) acreditam que este adotará um tom mais ameno a ponto de desestimular a radicalização. A reação de Bolsonaro ao assassinato de um petista em Foz do Iguaçu (PR) foi a de lembrar Adélio Bispo sem prestar condolências às famílias envolvidas no episódio, o que incomodou até mesmo integrantes da campanha do atual presidente.
O possível movimento amplo em prol da pacificação das eleições com adesão de outros pré-candidatos foi debatido ontem (11) pela coordenação da campanha de Lula em uma reunião em São Paulo.
A iniciativa se dá após uma escalada de violência em atos petistas, como o ataque com bomba no Rio de Janeiro e o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR), no último sábado (9).
O plano do PT é se reunir ainda hoje com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para cobrar dispositivos institucionais que evitem a escalada da violência durante a campanha, além de pedir federalização do caso à PGR (Procuradoria-Geral da República).
A aliança pretende levar um dossiê com quase 20 atentados políticos contra a oposição desde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018, no Rio de Janeiro, até o de Arruda. O documento aponta ao menos sete ocorrências neste ano, em período pré-eleitoral.
Na reunião, Lula pediu cautela aos presidentes dos sete partidos da aliança e indicou que o discurso deve ser focado na linha da paz, e não numa tentativa de aumentar o clima de tensão. Por outro lado, a campanha petista descarta parar de sair nas ruas.
A morte de Marcelo Arruda foi considerada por petistas como uma espécie de “última fronteira”. Eles entenderam ser preciso agir o quanto antes para evitar novos casos. Marcelo Arruda foi assassinado a tiros na noite de sábado enquanto comemorava seu aniversário de 50 anos com a temática do PT, usando bandeiras, cores do partido e fotos de Lula.
Os disparos foram feitos pelo agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, que está internado —autoridades divergem sobre seu estado de saúde. Segundo o boletim de ocorrência, ao invadir a festa, Guaranho gritou “aqui é Bolsonaro”.
O caso levantou uma nova questão para a classe política. Não basta reforçar apenas a segurança dos pré-candidatos —o que já vem sendo feito, com a Polícia Federal, por exemplo, acompanhando a caravana de Lula com até 27 homens. É preciso pensar em uma forma de evitar que a violência se espalhe pela sociedade.
Sob esses argumentos, o PT pretende também convencer siglas de fora da aliança, como o MDB da senadora Simone Tebet, o PDT do ex-ministro Ciro Gomes e o União Brasil do deputado federal Luciano Bivar, mas não conta com o PL de Bolsonaro.
“Isso [contar com compromisso de Bolsonaro] seria ridículo, porque é a campanha dele que está fazendo todo o movimento de ódio, é ele que está instalando isso”, declarou a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, à imprensa ontem.
“O que o Bolsonaro fez até hoje foi incentivar a violência, o armamento. De uma hora para outra, ele vai mudar a posição dele?”, questionou o deputado Paulinho da Força (SD-SP), presidente do Solidariedade, que também faz parte da aliança do PT.
Paulinho disse ter conversado com pessoas muito próximas a Bolsonaro para debater um estímulo a uma campanha mais pacífica, mas a hipótese foi tratada como remota. “Um deles falou: ‘Não vai imaginar que de um dia pro outro vai ter ‘Bolsonarinho paz e amor'”, contou.
Bolsonaro segue ‘frustrando’ a campanha
A reação imediata de Bolsonaro no final de semana, quando tentou apenas se desvincular do assassino, seu apoiador, não agradou nem aos aliados mais próximos. Além da demora, de quase 24 horas para se manifestar, a linha defendida era de “mais empatia”.
Para a campanha do presidente, ele deve, sim, tentar se desvincular da imagem de Guaranho, mas o tom tem que ser de forma pacífica. Interlocutores avaliam que não era o momento de mais uma vez lembrar Adélio Bispo, responsável pela facada contra ele em 2018, mas de prestar condolências às famílias —algo que o presidente não fez.
Integrantes da campanha chegaram a defender que Bolsonaro adotasse uma atitude mais institucional e reagisse ao caso “como presidente da República e não como candidato à reeleição”.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi estimulado por aliados políticos a pedir para que o presidente se mostre “acima das disputas políticas”. Apesar disso, o episódio já está entrando na conta das reiteradas vezes que Bolsonaro adota uma linha diferente do que defende sua ala política.
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