Adélio Bispo de Oliveira, homem que esfaqueou o então candidato Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial em 6 de setembro de 2018, afirma que a prisão em que se encontra, a Penitenciária Federal de Campo Grande, é um lugar satânico.
A coluna teve acesso a uma carta escrita por Adélio, em agosto de 2019, e endereçada ao juiz-corregedor da 5ª Vara Federal de Campo Grande, Dalton Igor Kita Conrado. O preso pede transferência para o sistema prisional de Minas Gerais, de preferência para uma unidade de Montes Claros.
Outros pedidos foram feitos pela defesa de Adélio, mas acabaram negados pela Justiça Federal.
Adélio alega que tem muitas razões para não querer ficar no presídio federal e diz que uma delas é por causa do “maçônico satanismo” na penitenciária de Campo Grande. Ele afirma que o “prédio foi construído com essa finalidade, projetado maçonicamente, para adoração ao Diabo”.
Por ser portador de transtorno delirante persistente, o autor da facada em Jair Bolsonaro foi considerado inimputável em 14 de junho de 2019 pelo juiz Bruno Savino da Matta, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora.
O juiz também determinou, por medida de segurança, a internação de Adélio em presídio federal por tempo indeterminado ou enquanto não for verificada a cessão da periculosidade dele.
Desde 8 de setembro de 2018, quando pisou pela primeira vez na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), o preso Adélio Bispo de Oliveira, 43, é tido como herói por integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Há relatos de hostilidades e agressões contra Adélio que seriam cometidas por funcionários da penitenciária.
Piloto confirma hostilidades
As hostilidades contra Adélio foram confirmadas à reportagem pelo piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, 35, acusado de ter prestado serviços para narcotraficantes ligados ao PCC. Ambos ficaram recolhidos na Ala D do presídio federal e tomavam banho de sol juntos.
Felipe já está em liberdade. À coluna, ele disse ontem que era o melhor amigo de Adélio na prisão. O piloto contou que os dois costumavam jogar damas. Segundo Felipe, Adélio teve o pé quebrado por agentes penitenciários porque não queria ir para o banho de sol e foi levado à força.
Mas de acordo com a direção do presídio, em 8 de outubro de 2019, durante revista para o banho de sol, Adélio não colaborou com os agentes, desobedeceu às ordens, jogou roupas no chão, chutou a porta da cela e teve de ser imobilizado e conduzido à força para o isolamento de 10 dias.
A penitenciária abriu na ocasião Procedimento Disciplinar Interno para apurar o caso. Adélio, por sua vez, foi ouvido na sindicância e disse que logo após o almoço, o agente foi à cela dele e, com tom de voz alto e agressivo, bateu na porta e com rispidez perguntou se ele iria para o banho de sol.
Funcionário bolsonarista
Segundo Adélio, o agente fazia isso só com ele e certa vez jogou até a comida dele no chão da cela. Na sindicância foi dito que o servidor é bolsonarista e costumava dizer que “quem vota no Lula é vagabundo e que Bolsonaro é um homem de Deus”.
O piloto foi ouvido na sindicância e afirmou que desde que Adélio ingressou na unidade prisional passou a ser perseguido pelo agente pelo fato de ter cometido atentado à vida de Jair Bolsonaro. Por ter testemunhado a favor do colega preso, Felipe também sofreu hostilidades do mesmo funcionário.
Ainda segundo Felipe, os federais iam com frequência no presídio e sempre o chamavam para conversar. Os policiais queriam saber se Adélio havia dito se agiu sozinho no atentado contra Bolsonaro ou se alguém o teria ajudado no planejamento e execução do crime.
Reportagem do jornalista Marcelo Rocha, publicada na Folha de S. Paulo no último dia 5, informa que a Polícia Federal escolheu o delegado Martin Bottaro Purper, 43, que já investigou o PCC, para dar continuidade ao inquérito que investiga as circunstâncias do atentado contra Bolsonaro.
Fim da amizade
A amizade de Adélio e Felipe não durou muito tempo. O piloto brigou com o vizinho de ala porque o preso gritava muito na cela, fazia barulho e o irritava bastante, chamando-o de “maçom”. O esfaqueador de Bolsonaro enxergava maçonaria em tudo.
Por ser inimputável, Adélio não foi punido da sindicância aberta contra ele em outubro de 2019.
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