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Em 72 horas, MSF resgata 470 pessoas em botes à deriva no Mediterrâneo

Todas foram embarcadas no Geo Barents, navio de resgate da organização que opera no mar Mediterrâneo Central.
Foto: Divulgação

 

Organização aguarda permissão das autoridades para desembarcar migrantes em local seguro

No início da manhã de 9 de maio e nas 72 horas seguintes, uma equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) resgatou 470 pessoas de sete barcos em perigo nas zonas de busca e resgate da Líbia e de Malta. Todas foram embarcadas no Geo Barents, navio de resgate da organização que opera no mar Mediterrâneo Central.

Ao longo de três dias intensos, as embarcações em perigo foram avistadas após alertas recebidos da Alarm Phone, organização de monitoramento do Mediterrâneo, e com o apoio da Pilotes Volontaires, uma organização francesa sem fins lucrativos que faz monitoramento aéreo no Mediterrâneo Central. Nenhum dos barcos foi identificado pelos centros de coordenação de resgate marítimo relevantes.

Na manhã de 9 de maio, nossa equipe avistou dois botes de borracha em perigo, que carregavam um total de 204 pessoas. Entre elas estava um bebê de nove meses de idade chamado Mohammed, que foi cuidadosamente puxado da multidão pela equipe de MSF juntamente com sua mãe, e entregue a ela em segurança no convés do Geo Barents. Todos os sobreviventes foram transferidos para o navio da organização na sequência.

Pouco mais de 24 horas depois, MSF recebeu um alerta sobre outra embarcação de borracha superlotada, desta vez com 59 pessoas a bordo. O Geo Barents dirigiu-se à localização indicada com a orientação de um avião dos Pilotes Volontaires e realizou o resgate.

No final do dia 10 de maio, a organização recebeu dois novos alertas, indicando que mais dois barcos estavam em perigo nas proximidades. As lanchas de resgate do Geo Barents foram lançadas ao mar por volta das 21h e, após uma intensa busca de cinco horas no escuro, a equipe finalmente encontrou as duas embarcações à deriva perto de uma plataforma de petróleo. Os 111 sobreviventes foram resgatados por volta das 2 da manhã, terminando a operação de salvamento mais longa desde o início dos trabalhos com o navio da organização.

Em 11 de maio, outros alertas da Alarm Phone indicaram que mais barcos estavam em perigo, desta vez em águas internacionais sob a responsabilidade de busca e salvamento das autoridades de Malta. Novamente com a ajuda dos Pilotes Volontaires, o Geo Barents navegou até a localização exata do primeiro barco, onde a equipe de MSF encontrou 67 pessoas à deriva em um barco de madeira, todos parecendo aterrorizados, exaustos e desorientados.

“Quando os socorristas chegaram, eu estava quase inconsciente”, disse uma mulher de 26 anos da Síria. “Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Naquele momento, já estávamos pelo menos há 48 horas no mar. Eu tinha certeza de que morreria.”

O longo dia de resgates continuou com outro barco que transportava 29 pessoas à deriva na zona de busca e salvamento de Malta. Mais uma vez, as autoridades maltesas não tomaram nenhuma providência.

“É incompreensível que, após todos esses anos de viagens migratórias mortais no Mediterrâneo, organizações como a nossa tenham de assumir a maior parte da responsabilidade de salvar vidas no mar”, diz Juan Matias Gil, coordenador do projeto de busca e resgate de MSF. “Pelo menos 24 mil pessoas se afogaram ou foram declaradas oficialmente desaparecidas desde 2014, mas a Europa ainda fecha os olhos para o que está acontecendo em suas fronteiras ao sul.”

Gil continua: “Ficamos novamente chocados com a falta de ação das autoridades maltesas e italianas, enquanto quase 100 vidas estavam em risco. As Forças Armadas maltesas, que são as principais responsáveis pelos resgates na zona de busca e salvamento de Malta, foram informadas ao mesmo tempo que nós, mas permaneceram silenciosas e inativas, negligenciando sua obrigação legal de fornecer ou coordenar assistência. Eles também ignoraram nosso pedido para realizar o desembarque dos migrantes em um porto seguro.”

A maioria dos sobreviventes a bordo do Geo Barents sofreram abusos físicos de várias formas, incluindo violência sexual e trabalho forçado. Quatro embarcaram em sua jornada no Mediterrâneo com ossos fraturados, resultado de ferimentos infligidos durante seu tempo na Líbia.

Um sobrevivente, atualmente no Geo Barents, é diabético e dependente de insulina, mas estava sem sua medicação vital provavelmente há semanas. Outros dois sobreviventes sofreram episódios psicóticos a bordo. Todos os 470 sobreviventes, que estão no navio de MSF, encontram-se física ou mentalmente vulneráveis e precisam desembarcar em um local seguro o mais rápido possível.

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