Insatisfação com sistemas previdenciário e de educação e dificuldade de ascensão social impulsionaram a vitória do novo presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, na corrida eleitoral de 2021. O “cansaço” dos jovens com as perspectivas oferecidas pelos modelos políticos e econômicos anteriores, inclusive os de centro esquerda, viabilizou a conquista do deputado ao principal cargo do País. A opinião é do cientista político, pesquisador da Fundação da Liberdade Econômica (FLE) Paulo Kramer.
“Agora, precisamos ver para onde essa guinada a uma esquerda mais radical irá levar a nação chilena. Candidatos deste lugar do espectro político tendem a prometer mundos e fundos para o cidadão. Mas ele por acaso sabe que o leite vem da vaca e não da geladeira? O Chile é o país mais desenvolvido da América do Sul, com os melhores indicadores socioeconômicos, que enfrentou no próprio governo da Bachelet protestos muito intensos contra a concentração de renda e a desigualdade de oportunidades, mas que manteve uma trajetória econômica muito bem sucedida”, explicou o especialista.
De acordo com Kramer, o novo presidente terá o desafio de dar continuidade a essa linha de crescimento do País, focando em reformas que ampliem a justiça social, sem destruir o dinamismo das alavancas produtivas do País. Boric, que tem 35 anos, já sinalizou que irá centrar esforços especialmente no combate à desigualdade social, no enfrentamento do tráfico de drogas e da violência urbana e na proposição de um sistema público de previdência sem as administradoras privadas de fundo de pensão. O novo chefe de Estado também está prometendo diálogo amplo com outros partidos com o objetivo de ampliar a força no Congresso.
“Se analisarmos de perto, o modelo econômico liberal adotado pelo general Pinochet era tão bem sucedido que durante muitos anos, muitas gerações, nenhum presidente, de esquerda ou direita, concertação, democrata cristão ou socialista ousou mexer. Agora, temos um grupo interessado em questionar esse modelo”, complementou.
Na visão do analista, outro cuidado deve estar justamente com os discursos elevados aos extremos, como ocorre no Brasil. Depois da ditadura de Augusto Pinochet, o Chile vem caminhando lentamente para os discursos mais radicais. No início, foi governado por um longo período pela Concertação, um acordo entre a Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista, ambos moderados. Na sequência, o País foi assumido pela socialista Michelle Bachelet, que cedeu espaço para Sebastián Pinheira, um empresário de Direita.
“E agora, finalmente, dois extremos. No segundo tudo, o José Antônio Castro, candidato da direita, se anunciava como um Bolsonaro chileno. E isso liga um sinal de interrogação, de perigo. Principalmente porque certas candidaturas podem vir com tintas de radicalismo que não interessam ao desenvolvimento do País”, concluiu.
Sobre a FLE
A Fundação da Liberdade Econômica (FLE) é um centro de pensamento, produção de conhecimento e formação de lideranças políticas. É baseada nos pilares da defesa do liberalismo econômico e do conservadorismo como forma de gestão. Criada em 2018, a entidade defende fomentar o crescimento econômico, dando oportunidades a todos. Nesse sentido, investe em programas para a formação acadêmica, como centro de pensamento e desenvolvimento de ideias. Ao mesmo tempo, atua como instituição de treinamento para capacitar brasileiros ao debate e à disputa política.

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