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Trecho “rá-tim-bum” de “Parabéns pra Você” não é uma maldição, mas uma onomatopeia

Publicações de usuários no X (antes Twitter) comentam sobre a suposta relação desde, pelo menos, novembro de 2009. 

As publicações compartilham um vídeo que analisa a segunda estrofe da música “Parabéns pra Você”, cantada com um efeito de voz grave e distorcido. A narração é ilustrada por imagens de figuras encapuzadas e ambientes sombrios, em referência a símbolos tipicamente demoníacos. A sequência afirma que “rá-tim-bum” pode ser traduzido como “eu amaldiçoo você”, apesar de não mencionar qual seria o idioma original.

A correlação entre o trecho da música e significados ocultos não é recente. Publicações de usuários no X (antes Twitter) comentam sobre a suposta relação desde, pelo menos, novembro de 2009.

Algumas versões do boato fazem conexões com o programa infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, que foi ao ar de 1994 a 1997. Exibida pela TV Cultura, a história era protagonizada por feiticeiros e bruxas, e explorava temas fantasiosos e mágicos. Assim, alguns associam o enredo da produção ao fato de que seu nome seria traduzido, portanto, como “Castelo da Maldição”.

Outras publicações afirmam que a expressão seria proveniente de magias persas realizadas na Idade Média. Porém, de acordo com Thainan Noronha, doutorando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador sobre o esoterismo ocidental, essa hipótese não tem qualquer base histórica:

“A expressão não tem qualquer relação com a tradição mágica persa, sendo uma invenção tipicamente brasileira, motivo pelo qual ela só existe em português, não sendo rastreada a nenhum outro idioma.”

Noronha explica que, de fato, a antiga Pérsia era reconhecida na Antiguidade como a origem das práticas mágicas, com crenças que influenciaram diferentes religiões, “como nas doutrinas da angeologia [doutrina teológica que estuda os anjos], demonologia, o conceito de Messias e a ressurreição dos mortos”.

Apesar de, em sua origem, serem voltadas à felicidade coletiva e individual, ao longo do tempo, as práticas desempenhadas pelos sacerdotes de Zoroastro (suposto inventor da astrologia e da magia) passaram a ser vinculadas a percepções negativas e acusadas de charlatanismo e culto ao demônio.

Contudo, Noronha afirma que, mesmo dentro do zoroastrismo, maldições eram vistas como “uma forma impura e desprezível de magia, responsável pela corrupção e desordem no mundo”. Esta diferente forma de magia, portanto, era reconhecida como inferior e não era reverenciada pelos magos da época.

Tradução de  rá-tim-bum  não é  eu amaldiçoo você

Apesar dos especialistas descartarem qualquer ligação com magias e feitiços, a origem exata da palavra é incerta.

Beethoven Alvarez, professor de Latim e coordenador da área no Programa de Línguas Estrangeiras Modernas (PROLEM) da Universidade Federal Fluminense (UFF), assegurou à AFP que a expressão não provém do latim nem de nenhuma outra língua antiga de seu conhecimento.

Segundo o docente, “a origem mais aceita é a que explica a expressão como uma onomatopeia. Assim, o ‘rá-tim-bum’ imitaria o som de instrumentos musicais típicos de uma banda ou uma fanfarra: o ‘rá’ (talvez de ‘tará’) da caixa, o ‘tim’ dos pratos, e o ‘bum’ do bumbo”, explicou ao AFP Checamos.

Além disso, quando a AFP tentou traduzir a palavra utilizando o Google Tradutor, a ferramenta identificou que o idioma em questão seria latim e exibiu como tradução os termos “balanço patrimonial”. No sentido contrário, ao traduzir “eu amaldiçoo você” para o latim o resultado sugerido foi “Maledico tibi”.

Uma explicação alternativa, apesar de menos consagrada, é vista no relato de Eduardo Marchi, ex-diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (SP), à Revista Fapesp.

Especialista em Direito Privado Romano, ele conta que “rá-tim-bum” deriva-se de um rajá indiano chamado Timbum que visitou a Universidade de São Paulo (USP) e ficou famoso entre os estudantes, que o incorporaram a seus gritos de guerra e canções universitárias.

Conforme Marchi recordou em seu discurso de posse como diretor da faculdade, em 2002, esses mesmos estudantes eram chamados para animar festas de aniversário, nas quais entoavam seus hinos. A partir dessa junção, a expressão “rá-tim-bum” teria se enraizado na canção do parabéns até hoje.

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