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Seca na Amazônia: uma crise que não acabou

Em muitas comunidades ribeirinhas, os rios secaram ou diminuíram tanto que não é mais possível utilizá-los como fonte de água.
Foto: Michael Dantas / AFP

A seca na Amazônia é um fenômeno complexo que é causado por uma combinação de fatores, incluindo o desmatamento, as queimadas e as mudanças climáticas. O desmatamento, por exemplo, reduz a capacidade da floresta de absorver água, o que contribui para a seca.

E um dos principais impactos da seca é a dificuldade de acesso à água potável. Em muitas comunidades ribeirinhas, os rios secaram ou diminuíram tanto que não é mais possível utilizá-los como fonte de água. Isso tem obrigado as pessoas a buscar água em poços ou nascentes, que muitas vezes estão contaminados.

Wilson Sabino, professor do Instituto de Saúde Coletiva (Isco) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, explica que, nas comunidades ribeirinhas do oeste paraense, os sistemas utilizados para suprir a necessidade de água potável, no período de estiagem, não são monitorados pelo poder público, o que significa que não é possível garantir que a água esteja apropriada para consumo.

“A insuficiência de água potável chega a ser uma situação contraditória na região amazônica. Embora o recurso seja uma das principais características do cenário amazônico, o acesso à água encanada, na maioria dos lares das comunidades, ocorre através de um sistema de captação subterrânea. Entretanto, não é possível afirmar que ela esteja dentro dos parâmetros aceitáveis para o consumo humano, dada a ausência de estudos sobre a questão e monitoramento do poder público”, diz o professor.

A falta de água potável, causada pela seca extrema, é um problema sério que afeta a saúde e a qualidade de vida da população amazônica, trazendo diversas consequências para comunidades que já se encontram em vulnerabilidade, como destacou Wilson.

“Por conta da seca extrema que estamos passando, moradores contam que as doenças infecciosas, que estavam de certa maneira sob controle, ressurgiram com muita rapidez nessas comunidades vulnerabilizadas. Falta de medicamento e, em alguns momentos, deve-se dividir entre comprar o remédio ou o alimento. Nessa situação, tem começado a faltar material de higiene e isso amplia as doenças já existentes”, salienta.

 

Outro impacto da seca é a perda de biodiversidade. Com a redução dos níveis dos rios, muitos peixes morreram ou migraram para outras áreas. Isso prejudica a pesca, que é uma importante fonte de renda para muitas famílias da região.

A pesca na Amazônia está intrinsecamente ligada às flutuações nos níveis de água dos rios, que alternam entre períodos de cheias e vazantes. Durante as cheias, os peixes encontram mais alimentos e abrigo, o que favorece a reprodução e o crescimento das populações. Durante as vazantes, os peixes concentram-se em áreas menores, o que facilita a sua captura.

A seca, por sua vez, reduz os níveis de água dos rios, dificultando a reprodução e o crescimento dos peixes. Além disso, a seca também elevou a temperatura da água, o que reduziu a quantidade de oxigênio disponível, levando à mortalidade natural dos peixes em diversos municípios paraenses e amazonenses entre agosto e novembro de 2023.

E os impactos da seca ainda são sentidos nas comunidades pesqueiras da região, afetando as atividades e consequentemente a economia, como conta Josana Pinto, integrante do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) de Óbidos no oeste do Pará. “O período de estiagem foi muito doloroso para nós aqui na Amazônia. E aí, olhando a realidade, a gente ainda sente que tem muitos rios que ainda estão baixos, muitos lagos ainda não recuperaram a sua capacidade de água. Os peixes ainda não estão transitando, mesmo sendo um período de piracema, um período de reprodução das espécies. Tem muitas baixas que ainda permanecem secas e outras com pouquíssima água. Então isso ainda causa uma série de dificuldades. Tem comunidades que permanecem praticamente isoladas, e isso causa de certa forma um prejuízo na economia”.

A integrante do MPP também relata redução significativa na quantidade de peixes capturados. Isso tem impactado a renda das famílias e a segurança alimentar da população, já que o peixe é uma importante fonte de proteína na dieta da região. “Nós estamos inseguros porque a gente sabe que a grande mortandade de peixes pode causar uma séria consequência na nossa soberania alimentar. Tanto na soberania alimentar das comunidades ribeirinhas da Amazônia como na própria comercialização do nosso pescado. Nós não somos criadores de peixe, nós somos extrativistas. A gente extrai da natureza aquilo que a natureza cria”, reforça Josana.

Leia mas aqui

https://diplomatique.org.br/seca-amazonia/

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