Os efeitos da estiagem no Amazonas são graves e exigem ação de várias esferas de governo. O estado vive uma das piores secas da série histórica iniciada em 1980, segundo dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Provocada pelo fenômeno climático El Niño e agravada pelo aquecimento global, a falta de chuvas tem baixado o nível de rios, dificultado o escoamento de produtos de comunidades ribeirinhas, prejudicado a operação de hidrelétricas e aumentado a preocupação com queimadas.
Até esta quinta-feira, 40 municípios haviam decretado situação de emergência, outros 19 de alerta. Juntas, as 59 cidades reúnem 200 mil habitantes. Em alguns rios, embarcações maiores não conseguem passar com segurança. Na quarta-feira, a linha de transmissão que conecta as usinas de Jirau e Santo Antônio ao Sudeste, a maior do país, foi desligada devido à baixa vazão.
Diante do quadro, foi acertada a ida a Manaus da comitiva de ministros chefiada pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. Ele fez promessas para garantir o transporte fluvial, afirmou que a dragagem do Rio Solimões deverá estar pronta em 45 dias e prometeu que até dezembro também serão dragados 12 quilômetros do Rio Madeira.
Para mitigar os danos à população, o governo federal antecipou o pagamento do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Pagará também auxílio a pescadores impedidos de exercer suas atividades, o seguro-defeso. Agricultores que perderem a produção receberão seguro integral. Para o município de Beruri, onde a erosão provocou o desabamento de 40 casas e três mortes, Alckmin disse estar disponível auxílio de R$ 400 por pessoa para pagar abrigo temporário. Por fim, determinou o envio de brigadistas para combater queimadas, garantiu terem sido tomadas medidas preventivas e que não faltará energia.
Na esfera estadual, o governo antecipou o pagamento de auxílio. Embora ainda não tenha estimativa do impacto na produção agrícola, encaminhou projeto de lei para anistiar produtores rurais com prejuízo. Num plano de longo prazo, pretende mapear até o ano que vem a população suscetível a impactos do aquecimento global.
Uma iniciativa mais controversa é o pleito para finalizar o asfaltamento da BR-319 entre Manaus e Porto Velho, sob o pretexto de a estrada oferecer alternativa de escoamento em momentos de seca. Por um lado, a abertura de estradas na Amazônia costuma vir acompanhada de desmatamento no entorno. Por outro, certas áreas não podem ficar isoladas. A questão merece ser analisada com cuidado, não sob o calor da estiagem.
Medidas emergenciais são necessárias e bem-vindas para socorrer os atingidos. Mas não bastam para lidar com um problema que só se agravará. A seca no Amazonas é mais um alerta, entre tantos, sobre os riscos e desafios trazidos pelas mudanças climáticas. Eles exigem do governo ação estrutural de longo prazo, do contrário estaremos sempre tentando empurrar morro acima a pedra que rolará morro abaixo.
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