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No G7, Lula terá dificuldade em se posicionar sobre o fim da guerra na Ucrânia, dizem especialistas

Cúpula dos países mais desenvolvidos com nações convidadas ocorrerá no Japão; presidente chegará na noite desta quinta (18)
RICARDO STUCKERT/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai utilizar a Cúpula do G7, que será realizada neste fim de semana no Japão, para colocar o Brasil de volta na agenda internacional com os países mais desenvolvidos do mundo, segundo especialistas em relações internacionais ouvidos pelo R7. Com relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, eles avaliam que Lula terá dificuldades em implementar suas posições para o fim do conflito. O presidente embarcou nessa quarta-feira (17) e deve chegar ao país asiático na noite desta quinta (18).

Na cúpula, que vai ocorrer nos dias 19 e 21 em Hiroshima, o presidente vai tentar retomar o papel do país diante do cenário internacional, mas deverá ter pouca influência no grupo, uma vez que é convidado e não membro. Segundo fontes, essa posição impede, por exemplo, o direito ao voto nas reuniões.

A professora de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP) Maristela Basso avalia que o Brasil vai levar adiante a proposta da formação de países-amigos para mediar o fim do conflito iniciado pelos russos, mas que o país não deve se apresentar como principal interlocutor do grupo em razões das polêmicas declarações feitas por Lula.

Ele [Lula] já cometeu várias gafes nesse sentido, então, o Brasil já não é mais um país capaz de liderar o grupo de paz. Ele até poderá participar, mas perdeu a oportunidade de liderar. Isso se dá na medida em que perdeu a neutralidade e fez declarações desarrazoadas, fora de contexto e equivocadas.

“E, depois das declarações, se desmentiu. O desmentido é pior do que o erro. O G7 vai discutir o fim da guerra e possíveis mecanismos de pacificação, sim, mas acredito que o Brasil deverá ser coadjuvante nessa discussão da cúpula após essas situações”, completa.

Há a previsão de duas resoluções oriundas da cúpula: uma apenas do G7 (Japão, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido) e outra envolvendo também os países convidados para o evento. Nos bastidores, a diplomacia brasileira trabalha para que o texto mais global não se torne uma medida mais enfática contra a Rússia.

Uma das solicitações brasileiras deverá ser a negociação de uma linguagem que seja compatível com a posição de todos os países envolvidos na cúpula, com neutralidade e ênfase na segurança alimentar, impactada pelo conflito localizado no leste europeu.

“A nossa visão, e isso tem sido negociado no texto, é de que esse documento deve ser sobre a segurança alimentar, uma vez que esse deve ser o tema principal a ser discutido entre os países. Nesse aspecto, são documentos bastante diferentes — o do G7 e o do G7 com os países convidados”, afirmou o secretário de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio.

Neste caso, especialistas apontam obstáculos para a diplomacia brasileira.

Há a perspectiva de que busquem ampliar ainda mais as sanções [contra a Rússia] e fazer, de fato, um documento mais duro. A tendência, portanto, é ter uma pressão em prol da Ucrânia. E como o Brasil é convidado, tem menos influência na redação da resolução.

“Tem ainda uma grande desconfiança com relação à posição brasileira, por causa das declarações de Lula”, acrescenta Holzhacke. Recentemente, o presidente brasileiro chegou a dizer que os Estados Unidos e países da União Europeia contribuem para o prolongamento do conflito, uma vez que enviaram armamentos e munições para a Ucrânia.

Fundo Amazônia

As ações de combate às mudanças climáticas estarão em pauta durante a Cúpula do G7, e o governo brasileiro vai buscar medidas e recursos para o Fundo Amazônia. “Dois grandes temas serão explorados: recursos e a ampliação de compensações para países que têm florestas. Por isso, a reunião com a Indonésia, que também defende o pleito”, informa a professora da ESPM.

“Ele [Lula] pode declarar boas intenções e compromissos, usando a figura representativa de Marina Silva [ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], mas vai ter que mostrar que há uma governança internacional. Inclusive, uma sugestão é a criação de um mecanismo multilateral que tenha influência e poder nas tomadas de decisões ambientais. Isso perpassa a questão de soberania, claro, e que Lula defende. Mas não vai ser fácil adquirir recursos de outros países sem que haja contrapartidas”, pontua a professora da USP.

G20

Até o momento, estão previstas reuniões bilaterais de Lula com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, com o presidente da Indonésia, Joko Widodo, e com o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida. Outros encontros foram solicitados e estão em negociação.

Especialistas argumentam que a agenda de Lula sinaliza uma disposição em torno do G20, uma vez que o país vai sediar a cúpula dos chefes de estado das 20 principais economias do mundo, em novembro de 2024, no Rio de Janeiro. Neste ano, a presidência do G20 é da Índia, que vai receber os presidentes dos respectivos países nos dias 9 e 10 de setembro.

“Com a Índia e a Indonésia, o Brasil deve ter uma agenda mais concreta, como apresentar o país como sede do grupo no próximo ano. E com esse núcleo será possível discutir temas dos países emergentes, como distribuição da riqueza mundial, o pagamento de recursos ambientais e acesso à tecnologia”, diz a professora da USP.

As aproximações ocorrem ainda no contexto de críticas feitas por Lula ao uso do dólar em diversas transações mundiais e a defesa de uma moeda comum única entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A posição do petista é vista como uma forma de oposição à tradição do comércio mundial, que tem o dólar como moeda corrente, e que mantém a influência dos Estados Unidos no cenário internacional.

 

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