Avanço na PEC da Transição
A resistência do Congresso em negociar a PEC vinha deixando nervosos os articuladores da transição, mas o clima mudou nesta semana, com a entrada de Lula em campo. Um dos membros da transição, o deputado federal eleito Lindbergh Farias (PT-RJ), disse na quinta-feira (1º/12) que a chegada do presidente a Brasília “mudou tudo” e devolveu ao governo eleito o protagonismo na negociação.
Com sinalizações de líderes partidários e dos presidentes das duas Casas do Congresso, vai ficando mais claro que está se construindo um consenso para que o governo Lula tenha permissão de financiar o Bolsa Família fora do teto de gastos por dois anos – metade do que o partido pediu – e que o montante a ser autorizado por ano para esse gasto fique em torno dos R$ 150 bilhões. “Se aprovar alguma coisa com menos de R$ 150 bilhões, irá acontecer o que está acontecendo, com universidades [públicas] parando”, avaliou ainda Lindbergh.
Anúncios extraoficiais de ministros
A demora de Lula em confirmar os nomes dos ministros também serve para que os cotados sejam digeridos por políticos e agentes do mercado financeiro. É o que está acontecendo, por exemplo, com o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que é o nome mais falado para o Ministério da Fazenda.
Sem confirmar nem negar que colocará o aliado para comandar a área econômica, Lula já consegue medir como o nome seria digerido pelos diferentes atores sociais. Quem cobra do futuro governo um compromisso mais claro com a responsabilidade fiscal, por exemplo, gostaria de ver anunciado para o cargo um nome de perfil mais liberal na economia e “menos petista”, mas o passar das semanas sem que outros cotados sejam citados vai fazendo com que o nome de Haddad seja “precificado”.
Nem os aliados mais próximos de Lula, porém, garantem que alguma decisão já esteja tomada pelo petista. Não há dúvidas de que Haddad estará no governo, mas também há chances que, se não conseguir convencer o mercado de que será um bom ministro da Fazenda, ele acabe em outra pasta, como a das Relações Exteriores.
Como em 2002
A demora em definir sua equipe é uma tática já utilizada por Lula. Quando foi eleito pela primeira vez para a Presidência da República, em 2002, ele também atormentou o mercado e o mundo político, e só começou a anunciar ministros no meio de dezembro. A lista completa dos ocupantes da Esplanada dos Ministérios foi informada aos brasileiros na antevéspera do Natal daquele ano, a pouco mais de uma semana para a posse.
Vinte anos depois, o petista, mais uma vez, joga com a expectativa.
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