Executiva da Systax entende que a transição tributária pode ser uma oportunidade para as empresas transformarem a gestão fiscal em vantagem competitiva.
Em menos de quatro meses, terá início a primeira fase de implementação da Reforma Tributária. A partir de 1º de janeiro de 2026, o sistema fiscal brasileiro inicia um processo de mudança histórica: os cinco tributos atuais sobre o consumo, PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS, darão espaço, de forma gradual, a um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de natureza dual, composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal, e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), compartilhado entre estados e municípios. Embora o discurso oficial destaque a simplificação e o ganho de competitividade, o caminho até lá exigirá preparo, adaptação tecnológica e coordenação entre empresas e governos.
Segundo Thais Borges, diretora comercial da Systax, uma das maiores empresas de tecnologia fiscal e tributária do país, o período de transição (2026 a 2032) tem tudo para se confirmar como o mais complexo da história fiscal brasileira. “As empresas terão que lidar com dois sistemas em paralelo, operando o atual (ICMS e ISS) e o novo (CBS e IBS), passando a conviver com altos riscos de erros, aumento nos custos de conformidade, paralisação da operação, além de autuações, caso não iniciem as adequações e implementações de sistemas e ERPs a partir deste ano”, avalia. “A tão prometida simplificação, só deve ser concretizada em 2033”, acrescenta.
Borges ainda reforça que o atraso na preparação é preocupante e pode custar caro. “Ainda encontramos empresas que não acreditam que a Reforma entrará em vigor no prazo estipulado. Quem começar a se organizar só em 2026 pode nem chegar a conviver com a simplicidade prometida para 2033”, indica.
Estudos recentes evidenciam as preocupações trazidas pela especialista. De acordo com uma pesquisa da Systax, 60% das empresas brasileiras acreditam que os novos tributos da Reforma Tributária, o CBS e o IBS terão um impacto direto em seus negócios. Além disso, ainda segundo o levantamento, ao avaliarem as consequências da Reforma, 28% das companhias acreditam que o principal impacto das mudanças tributárias será a atualização de novas tecnologias e sistemas.
E esse cenário de apreensão não é infundado. A executiva explica que o período de transição será dividido em quatro etapas principais, o que deve exigir um alto grau de planejamento por parte das empresas:
2026 – Fase de teste: CBS e IBS entram em vigor com alíquotas simbólicas, apenas para validar sistemas tecnológicos de empresas e do Fisco.
2027 – Primeiras mudanças efetivas: PIS e Cofins são extintos; a CBS passa a valer com alíquota cheia.
2029 a 2032 – Pico de complexidade: ICMS e ISS terão alíquotas reduzidas gradualmente, enquanto o IBS aumenta na mesma proporção.
2033 – Nova era tributária: ICMS e ISS deixam de existir. O sistema passa a ser regido exclusivamente por IBS, CBS e IPI residual.
“Ou seja, ano que vem se iniciam os primeiros testes operacionais, e já em 2027 teremos as primeiras mudanças efetivas na carga tributária, inaugurando um período de seis anos que tende a ser um dos mais desafiadores de nossa história”, sinaliza a diretora comercial da Systax. “O cronograma deve ser planejado e avaliado para dar tempo de adaptação, mas isso está longe de significar tranquilidade”, complementa.
Até por conta da magnitude das transformações, Borges ressalta que a Reforma Tributária não pode ser assunto restrito ao departamento fiscal, exigindo a revisão de processos operacionais de diversas áreas como fiscal, financeira, contábil, comercial, operações, compras, logística, além de, principalmente, a atualização de sistemas.
Em sua visão, empresas que não buscarem parceiros especialistas correm maior risco de inconformidade, autuações e perda de competitividade, sendo essencial modernizar suas estruturas para abrir espaço à inovação com tecnologias específicas de acompanhamento e cálculo de tributos, promovendo uma gestão fiscal mais estratégica. “Além disso, será fundamental realizar simulações quantitativas para entender o impacto da nova carga tributária sobre fluxo de caixa, margens e preços, exigindo também a reestruturação das cadeias de suprimento diante do fim de muitos incentivos fiscais ”, finaliza a diretora.
Nesse contexto, a executiva afirma que a transição também pode ser vista como uma oportunidade para revisar processos, custos e modelos de precificação. Ao invés de apenas reagir às exigências legais, as empresas podem usar a necessidade de adaptação como oportunidade para repensar a gestão como um todo. Com o apoio de tecnologia especializada, é possível transformar a revisão tributária em ganhos operacionais concretos, maior eficiência no uso de recursos e até em uma vantagem competitiva sustentável no mercado.
Em um ambiente cada vez mais competitivo, a forma como as empresas se comportarem nesse momento tão crucial, pode ser o divisor de águas entre as que apenas se ajustam para cumprir obrigações e aquelas que aproveitam a transição para acelerar sua modernização. Mais do que atender ao fisco, trata-se de preparar a organização para um novo ciclo de eficiência, transparência e inovação. A corrida já está em curso, e quem cruzar a linha de chegada na frente terá não só conformidade, mas também poderá ter uma posição fortalecida no mercado.

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