A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, disse nesta segunda-feira, 18, que a projeção da Secretaria de Política Econômica (SPE) para crescimento de 3,2% do PIB em 2023 é otimista, e que a pasta não prevê estagnação nos próximos trimestres, ainda que o crescimento ocorra em um ritmo menor.
“O crescimento de 3,2% é uma estimativa otimista. A gente não está prevendo estagnação da atividade nos próximos trimestres. Estamos esperando nova aceleração do ritmo de crescimento do quarto trimestre, após essa desaceleração do terceiro trimestre”, disse Raquel em entrevista coletiva.
Ela justificou que a revisão do PIB de 2,5% para 3,2% se deveu majoritariamente à divulgação do PIB do segundo trimestre, que veio acima das expectativas da secretaria e do mercado. “Com o resultado do segundo trimestre, o carregamento estatístico para 2023 passou a ser de 3,1%”, pontuou.
A secretária pontuou que a perspectiva de crescimento para o terceiro trimestre de 2023 é de 0,1% da atividade na margem, um ritmo inferior à alta de 0,9% mensurada no segundo trimestre do ano. “Nosso modelo está dizendo, portanto, que a economia vai continuar crescendo neste trimestre, mas em um ritmo menor”, disse.
No caso deste trimestre, o setor agropecuário deve recuar novamente, como reflexo da menor contribuição da soja neste período. No entanto, ainda há avanço na produção e colheita de cana de açúcar, milho 2ª safra e algodão e perspectivas positivas para o abate.
Há estimativa de avanços nos setores de indústria e serviços. No caso da indústria, as expectativas são de impulso adicional na indústria extrativa, com aumento de gasto com infraestrutura, e a retomada do mercado imobiliário na China. A retomada do Minha Casa, Minha Vida também trará impactos na construção.
Inflação
A subsecretária de Política Macroeconômica da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda disse ainda que a manutenção da projeção do IPCA para 2023 em 4,85%, próxima do teto da meta (4,75%), reflete a desaceleração dos preços livres, principalmente a deflação para alimentação, que compensou a alta dos preços monitorados, como combustíveis.
Ela justificou que a inflação acumulada em 12 meses subiu em julho e agosto, e deve repetir o padrão em setembro, pela dinâmica dos preços monitorados, já que sai da base de cálculo a deflação provocada pela desoneração de combustíveis e energia em 2022. Esses efeitos são compensados pela dinâmica benigna de serviços e alimentação, mais sensíveis à política monetária.
No caso da alimentação em domicílio, Nadal ressaltou a deflação no acumulado em 12 meses e citou a queda de 9,8% nos preços da carne, de 10,3% nos preços de leite e derivados e mais de 20% em produtos derivados da soja.
“Em outubro o processo de desinflação deve voltar a ser observado. Os preços monitorados vão deixar de acelerar e preços livres vão continuar desacelerando, refletindo maior deflação de alimentação e menor inflação de serviços e bens industriais. Essa dinâmica positiva dos preços livres, e mesmo com a alta nos preços de combustíveis em meados de agosto, as projeções do IPCA do ano não mudaram e seguimos em 4,85%, próxima ao intervalo de teto”, argumentou.
A secretária reforçou que as projeções da SPE para a média dos cinco principais núcleos de inflação, também monitorados pelo Banco Central, caiu de 4,9% para 4,6%, reflexo de uma desaceleração mais acentuada de serviços subjacentes. Ela destacou que a métrica da inflação que é mais sensível e reagente à política monetária deverá fechar o ano dentro do intervalo da meta.
Em relação às projeções de inflação para 2023, Nadal destacou a queda na estimativa do INPC, que passou de 4,48% para 4,36%. “O INPC caiu pelos preços de alimentação, que vêm apresentando deflação acentuada, e têm um peso maior no INPC que no IPCA”, disse, pontuando que o INPC também sofre menos com o peso de preços monitorados.
Já as projeções de inflação para 2024 – que subiram no IPCA, INPC e IGP-DI – tiveram elevações marginais provocadas pela variação de preço do petróleo, o câmbio e questões climáticas, afirmou.
Cenário de preços internacional
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que o cenário internacional de preços registrou uma piora “marginal”, mas ainda é benigno, uma vez que processo de desinflação provavelmente continuará a ser observado nos países centrais, mesmo que de forma mais gradual.
Entre os itens que chamam atenção por exercerem mais pressão inflacionária está a cotação do petróleo, que começou a subir, e também os efeitos de eventos climáticos extremos. “Com os efeitos do El Nino, e dos impactos dos extremos ambientais que estamos vivendo sobre os preços das commodities. Então, petróleo e impacto das anomalias climáticas ainda podem pressionar a inflação”, disse Mello na coletiva de imprensa sobre o novo Boletim Macrofiscal.
O relatório da SPE manteve a projeção inflacionária para 2024, no patamar de 4,85%. O secretário de Política Econômica ressaltou que, embora existam fatores que pressionam a inflação, os índices de pressão nas cadeias globais apontam algum alívio, o que é relevante para o patamar de preços brasileiros. “Isso pressionou por algum tempo a inflação doméstica, mas parece estar arrefecendo”, destacou Mello.
Sobre a economia norte-americana, o secretário apontou que sinais mistos da atividade e desaceleração da economia dos Estados Unidos indicam uma probabilidade maior da manutenção da taxa de juros no país, com uma “discussão não encerrada” sobre o futuro dessa taxa. “Apesar de que hoje ainda prevalece a ideia de que a pausa do ciclo monetário contracionista possa permanecer por mais tempo”, disse Mello, ponderando que, embora a inflação nos EUA mostre alguma desaceleração, os núcleos ainda estão “um pouco resistentes”. “Essa desaceleração reflete na desaceleração no nível de atividade e no mercado de trabalho”, afirmou o secretário.
Na zona do euro, a taxa de inflação está mais pressionada, com núcleos mais resistentes, e, apesar disso, a principal perspectiva é de fim do ciclo de aperto monetário pelo Banco Central Europeu, disse. “Então tanto no EUA quanto Europa temos cenários que indicam, se não o fim, uma pausa no ciclo contratação monetária, no entanto sem indicar, principalmente no caso americano, uma recessão, apesar de isso estar presente em alguns países europeus”, comentou.
Sobre a China, Mello afirmou que o cenário econômico pode ter apresentado a maior surpresa do novo Boletim Macrofiscal, uma vez que as perspectivas para o gigante asiático melhoraram em relação ao último relatório da SPE.
De acordo com Mello, esse cenário está ligado ao aumento de volume de títulos soberanos no país e da alta de investimentos governamentais – uma vez que antes os estímulos estavam mais presentes pela via monetária.
O secretário da SPE destacou que isso é positivo para as perspectivas brasileiras, uma vez que a reaceleração da economia chinesa tem impacto sobre as exportações do Brasil. “Apesar da frustração de expectativa em alguns indicadores recentes, mesmo a inflação, caminhando um pouco no campo negativo, as perspectivas hoje para o crescimento chinês melhoraram”, disse.
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