O Projeto de Lei 2896/2022, que muda a Lei nº 13.303/2016, foi protocolado pelo governo de transição em dezembro e aprovado pela Câmara dos Deputados. No entanto, a proposta se encontra travada no Senado. Na época, o objetivo era facilitar a nomeação do atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

O ex-ministro da gestão da ex-presidente Dilma Rousseff tinha atividades político-partidárias no PT pouco antes de ser nomeado para o cargo, o que, em teoria, era vedado pela lei. Ele era presidente da Fundação Perseu Abramo, entidade ligada ao PT. No entanto, um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) abriu caminho para Mercadante assumir o cargo no BNDES.

A flexibilização da Lei das Estatais é um risco em potencial, pois não há evidências até o momento de que seja usada para apontar gestores da Petrobras.

A reabilitação das empresas condenadas por corrupção na Lava Jato, como Odebrecht (atual Novonor), Andrade Gutierrez e UTC é outro ponto de desconfiança sobre a nova gestão da petroleira. De acordo com a estatal, as empresas passaram a constar na lista de fornecedores pré-qualificados.

O resultado de nove meses da nova gestão da petroleira foi anunciado no início de agosto: queda de 47% do lucro neste segundo trimestre em comparação ao mesmo período de 2022. O lucro líquido saiu de R$ 54,3 bilhões para R$ 28,78 bilhões.

Nesse ínterim, a mudança na Diretoria de Governança e Conformidade também gera preocupações sobre os rumos da companhia. Em maio, Prates nomeou o especialista em compliance regulatório Mario Spinelli para a diretoria. Ele substituiu Salvador Dahan, que teve o mandato encerrado em maio.

Para o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e que chegou a ser cotado para assumir a presidência da companhia no ano passado, o risco de uma esquema de corrupção – a exemplo do “petrolão” – ainda existe.

“O risco existe. Agora, a sociedade precisa estar mais atenta. Não podemos deixar de explorar petróleo por conta do risco de corrupção. Mas os ingredientes estão aí. O atual governo não se livra dos erros do passado e Lula quer voltar a comandar o setor de petróleo pelo retrovisor. À medida que você estuda a exploração de petróleo na margem equatorial, você tem todos os elementos para volta à situação de lá de trás”, disse.

“Acho que o PT precisar entender que o Brasil mudou. Temos que ficar atentos. A Petrobras teve a maior dívida corporativa do mundo e esteve nas páginas policiais”, disse o economista.

Ele disse que a Petrobras deveria manter o acordo que fez com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pelo qual deveria vender refinarias para controlar apenas metade da capacidade de refino atual.

“A Petrobras precisa focar em explorar petróleo e gás, porque você tem margem de lucros muito mais altos. Refinar, por outro lado, é uma atividade industrial, onde a margem não é grande. Não faz sentido a Petrobras ter 80% da capacidade de refino do Brasil. O modelo da concessão, da partilha, não é ruim. Mas a tradição do PT é usar a Petrobras para segurar a inflação e ajudar os “amigos do rei””, disse.

O advogado Rodolfo Viana, especialista em compliance, destaca que o Brasil possui um histórico marcante relacionado à corrupção, o que nos coloca em uma posição desfavorável no cenário internacional e explica escândalos como o do “petrolão”.

“Se pegarmos, por exemplo, o Índice de Percepção da Corrupção (IPC), vemos que o Brasil segue uma linha histórica em que o nível de pontuação é muito ruim. O Brasil atinge menos de 40 pontos, historicamente, em um índice de até 100 pontos. Isso mostra que, em termos gerais e em termos comparados, o Brasil é, sim, um local em que há um risco de corrupção alto”, disse o advogado.

Por outro lado, ele afirma que a Petrobras mudou, o que dificultaria novos esquemas de corrupção semelhantes ao “petrolão”.

“Não há dúvida de que a Petrobras hoje não é a mesma Petrobras da época do “petrolão”. Ela instituiu práticas de compliance, práticas de governança que não existiam anteriormente. Em termos gerais, os controles sobre práticas de corrupção são mais fortes do que eram antes de ocorrer o escândalo do “petrolão”.

A reportagem entrou em contato com a Petrobras sobre as questões levantadas na matéria, mas não houve retorno da empresa até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para manifestações.