Flávio Nascimento Mateus é engenheiro e diretor do Instituto da Qualidade Automotiva (IQA)
Por Flávio Nascimento Mateus
É bastante comum a indústria receber entre os candidatos a operadores para o estágio inicial da categoria pessoas que possuem ensino médio completo, mas que demonstram ter dificuldades para ler, escrever e entender textos, assim como realizar as quatro operações básicas da matemática. Diante deste cenário, a empresa logicamente precisa complementar o conhecimento básico antes de oferecer uma qualificação técnica ao recém-contratado, afinal como ensinar controle e estatística de processo, que exigem o domínio de algumas contas, para uma pessoa que precisa operar um maquinário de R$ 2 milhões, se ela não sabe somar, subtrair, dividir e multiplicar?
Assim, em vez de investir em eficiência de produção, por exemplo, com a modernização de seu parque de máquinas, a empresa retira parcela disso para proporcionar conhecimentos básicos de matemática e língua portuguesa, com o objetivo de preparar minimamente aquele profissional que irá trabalhar na indústria, o que reflete no aumento do custo de mão de obra. Significa ir ao sentido oposto: ter despesa onde deveria haver investimento.
Assim como no passado o Brasil já desenvolveu iniciativas voltadas para os ensinos técnico e superior, que foram muito importantes, o País precisa investir no ensino básico, do fundamental ao médio, para realmente oferecer uma base de ensino que habilite os jovens a progredirem para a educação mais avançada. Esta é também uma condição para se desenvolver a qualidade na indústria, a bandeira do Instituto da Qualidade Automotiva (IQA).
Países desenvolvidos, como a Alemanha e o Japão, ensinam noções de estatística para os estudantes mais novos porque possuem escolas bem estruturadas em diversos aspectos, como formação do professor, infraestrutura de instalações e até alimentação. É fundamental oferecer cedo a oportunidade de conhecer as diversas disciplinas e seus desdobramentos, porque as crianças despertam o interesse pelas áreas humanas, exatas ou biológicas até os 10 anos de idade. Não adianta, por exemplo, tentar ensinar arte para um jovem no final da adolescência e início da idade adulta, caso ele não tenha tido contato com informações e opções básicas desta área, no período antes dos 10 anos. O mesmo vale para as áreas de humanas e exatas.
Seria interessante o Brasil se inspirar na história da Coreia do Sul, que iniciou uma revolução educacional nos anos 1960, com prioridade de investimentos no ensino básico, e obteve excelentes resultados, deixando para trás aquela nação com baixos índices de desenvolvimento social ao final da década de 1950. O Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático, que era inferior ao do Brasil à época do início da revolução educacional coreana, é três vezes maior na atualidade.
Certamente, os resultados não são imediatos, mas o primeiro passo precisa ser dado para que os efeitos apareçam daqui a 30 ou 40 anos na direção do aumento de produtividade, qualidade e eficiência do Brasil. Mas isso somente será realidade se houver melhor capacitação da matéria-prima humana, que suporte a indústria nacional a acompanhar a velocidade do desenvolvimento de outras economias.
Foto: Divulgação Internet
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