O voto “Lulema” é ventilado no estado. Em um ato em Uberlândia (MG), há duas semanas, o petista evitou mencionar Zema a despeito de o governador ter adotado uma postura hostil ao ex-presidente.

Na ocasião da visita, o mineiro publicou em uma rede social que a cidade que receberia Lula teria “reforço policial para não dar brecha para bandido”, incluindo “ladrões dos cofres públicos”.

Em seu discurso, o petista não respondeu ao governador. Ao pedir apoio para Kalil, ele disse apenas que “Minas Gerais não pode se render a esse presidente”, o que foi entendido como alusão ao atual governador, que se elegeu na onda Bolsonaro em 2018 e tem histórico ambíguo com ele.

Em São Paulo, Lula tem se dedicado a exaltar o pré-candidato Fernando Haddad (PT), mas sem fustigar os adversários. O governador Rodrigo Garcia (PSDB) vai na mesma linha e, em uma estratégia de sobrevivência, atua para que a briga federal não seja replicada em São Paulo.

Os protagonistas da guerra ao Planalto têm representantes diretos no estado: além de Haddad, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputa o governo com o apoio de Bolsonaro.

O marketing de Garcia explora a mensagem de que ele quer ser “o governador que todo paulista merece ter”, seja o cidadão “de direita, de centro ou de esquerda”. Outro argumento do tucano é o de que na campanha devem ser discutidas questões do estado, e não do Brasil como um todo.

No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) também tem evitado críticas a Lula, apesar de ser do mesmo partido de Bolsonaro. Ele também liberou ex-secretários a fazerem campanha para o presidenciável que preferirem.

Por outro lado, aliados de Lula no estado, em especial ao presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), pré-candidato ao Senado, têm relação dúbia com Castro e evitam criticar o governador.

Para o cientista político Humberto Dantas, o PT e a esquerda em geral parecem priorizar neste ano a conquista do poder em nível federal. “Vemos Lula empenhado em não queimar pontes com partidos que eventualmente apoiem outras candidaturas no plano federal ou estejam com ele em outros estados”, diz.

Embora as disputas estaduais ainda não estejam tão presentes no radar do eleitor quanto a nacional, alguns sinais observados por analistas já dão o tom das campanhas nos estados.

Dantas, que é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, considera que elas tendem a ser marcadas por reeleição ou manutenção de grupos políticos, além de um favoritismo de candidatos com experiência política ou de gestão, rompendo com a onda de outsiders.

“Essas características [de reeleição e experiência] estão aparecendo independentemente de orientação ideológica. Entre os principais candidatos nos estados, não há nenhum com perfil de aventureiro.”

A cientista política Carolina de Paula, ligada à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), afirma que a tentativa de desnacionalização é arriscada, porque a conexão com o pleito nacional é muitas vezes incontornável, sobretudo com o cenário dicotômico entre Lula e Bolsonaro.

“A não ser que tenha um capital de votos muito grande, um candidato dificilmente escapa de ter que se posicionar. E parte do eleitorado gosta de saber em que lado ele está, acaba criando uma pressão, inclusive nesses momentos em que os presidenciáveis vão fazer campanha nos estados”, diz ela.

Carolina avalia que Lula deverá adotar postura mais incisivas em estados onde os rivais do PT forem bolsonaristas mais radicais, como Rondônia, mas ele tenderá a medir bem o risco de afugentar potenciais eleitores. “É uma conta óbvia: para um presidenciável, quanto mais voto, melhor.”