Mirando um eleitorado para além do tradicional da esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a modular as críticas a adversários nos estados, adotando uma linha “paz e amor” que mira eleitores que optam por adversários do PT localmente, mas cogitam votar no petista.
Nas últimas semanas, Lula intensificou o ritmo de viagens para tentar manter sua dianteira na briga com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e também para turbinar seus aliados estaduais. Mas, de modo geral, o discurso do petista prioriza exaltar os correligionários em vez de fustigar os rivais deles.
A estratégia envolve vários cálculos, que passam pelo esforço de Lula para assegurar votos cruzados e não melindrar siglas que eventualmente estejam com o PT na esfera nacional ou em outros estados.
De forma geral, o ex-presidente tem dado mais atenção à eleição do Congresso do que às disputas pelos governos. Com frequência pede aos eleitores que votem em deputados federais e senadores alinhados com ele para que consiga aprovar projetos com maior facilidade e ter governabilidade.
Ciente das dificuldades que enfrentará caso vença, Lula também tem acenado com um discurso de pacificação aos governadores que serão eleitos em outubro. Repete que pretende reunir todos eles, independentemente de partido, no início de 2023, para traçar uma agenda comum para o país.
Um exemplo desse comportamento foi a entrevista que Lula deu nesta sexta-feira (1º) à rádio Metrópole, na Bahia. Questionado sobre o pleito local, o ex-presidente disse que o petista Jerônimo Rodrigues é seu candidato ao governo baiano.
Na sequência, contudo, pontuou que terá relação institucional com quem quer que seja eleito, seja “de esquerda, direita ou centro”. E citou como exemplo a relação que teve com o ex-governador Paulo Souto, então no PFL, que comandou a Bahia durante o primeiro mandato de Lula, entre 2003 e 2006.
“Eu vou conversar com as pessoas, discutir com as pessoas. Vou dizer que tenho candidato a governador, mas que eu quero fazer uma campanha civilizada. Não quero agredir ninguém, não quero falar mal de ninguém. Eu quero falar bem das coisas que eu pretendo fazer”, afirmou.
No caso baiano, o discurso vai ao encontro da estratégia adotada pelo pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil), que busca desnacionalizar a campanha e também evita críticas ao ex-presidente, que tem alta popularidade no estado.
O tom ameno de Lula contrasta com o de campanhas eleitorais anteriores, nas quais ficava evidente o histórico de conflitos com adversários locais.
Na eleição de 2006, por exemplo, Lula chegou a chamar ACM Neto de “nanico e baixinho” e o então senador Antônio Carlos Magalhães (1937-2007), avô do hoje pré-candidato a governador, de “hamster do Nordeste”. ACM retrucou chamando Lula de “rato gordo e etílico”.
O ex-prefeito de Salvador também fez dura oposição aos governos do PT no período em que foi deputado federal e em 2005 chegou a ameaçar “dar uma surra” em Lula. Hoje, minimiza o episódio e diz que lhe faltou maturidade.
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