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Política

Doações internacionais de vacinas não vão dar prioridade ao Brasil

 

O Brasil deve ficar de fora da lista de prioridades de doações de vacinas contra a covid-19 por parte de países ricos, ainda que possa ser beneficiado de forma pontual por gestos de certos governos.

Neste fim de semana, líderes do G7 fecharam um pacto para que, até final de 2022, 870 milhões de doses possam chegar diretamente aos países em desenvolvimento. Contando todas as promessas desde o começo de 2021, os governos do bloco apontam que isso significaria 1 bilhão de doses. Mas não houve um esclarecimento sobre quem forneceria essa diferença de 170 milhões de doses.

 

Num comunicado emitido pela Covax Facility após o encontro, o consórcio criado pela OMS para garantir uma transferência de vacinas pelo mundo indicou que grande parte das doações será canalizada por meio do mecanismo internacional de distribuição.

Mas fontes nas agências confirmaram à coluna que o plano prevê que as doses sejam distribuídas a dois grupos de países mais pobres, com cerca de 92 deles fazendo parte dessa lista. O Brasil não está nesses grupos e, nas Américas, apenas Haiti, El Salvador, Bolívia, Honduras e Nicaragua fazem parte dos locais que poderão ser beneficiados com prioridade.

O próprio governo de Joe Biden, ao anunciar a doação de 500 milhões de doses, já deixou claro que países como o Brasil não estavam na lista de destinos prioritários.

Tanto em Washington como nas agências da ONU, a percepção é de que o governo brasileiro tem como pagar por vacinas e que, portanto, uma doação neste momento significaria que outros países em situação mais dramática fiquem sem qualquer tipo de abastecimento.

Na OMS, ainda assim, a estimativa é de que a doação ajudará a liberar outras doses que, a partir da disponibilidade do mercado, serão destinadas ao Brasil e a outros países pelo mundo. Mas esse seria apenas um efeito indireto.

Brasil pode ser beneficiado por “gestos pontuais”

Não se exclui que o Brasil possa ser beneficiado por algum envio pontual e, de fato, conversas estão ocorrendo neste sentido. A esperança do governo é o de garantir que, no momento em que a imunidade de rebanho seja obtida na Europa, EUA e outros locais, doses possam ser redistribuídas pelo mundo.

Mas, por enquanto, as primeiras indicações já apontam que o país não poderá depender desse fluxo para acelerar a campanha de imunização. Nos EUA, a Casa Branca indicou que destinará 6 milhões de doses de vacinas que terão de ser distribuídas por doze países, entre eles o Brasil. O resultado é um número pequeno de doses para as necessidades nacionais e, ainda assim, por meio da Covax.

Outro fato que pesa: por mais que governos ricos anunciem a doação de vacinas, o Brasil comprou apenas 43 milhões de doses da Covax, o equivalente a 10% de sua população. Portanto, mesmo que o mecanismo seja inundado por doações nos próximos meses, a prioridade será a de atender em primeiro lugar aos contratos já assinados.

Ou seja: se países africanos ou asiáticos solicitaram 20%, 30% ou 40% de cobertura de suas populações, o abastecimento de doses primeiro irá preencher esses compromissos. Só depois dessa etapa é que haveria espaço para renegociar acordos.

Fontes na OMS ainda confirmaram que, desde que tomou posse, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a falar com membros da agência sobre a possibilidade de o governo ampliar suas compras da Covax. Mas, com a atual escassez e a prioridade sendo a de garantir doses a quase outros cem países, qualquer renovação de contrato para 2022 terá de esperar.

O alto escalão da OMS estima ainda que, apesar da crise aguda no Brasil, o país será abastecido acima de tudo por sua produção local de vacinas. Na entidade, a percepção é de que poucos são os locais no mundo em desenvolvimento com uma fabricação e, portanto, o foco no caso brasileiro não pode ser a espera por doações estrangeiras.

Para Bruce Aylward, um dos principais nomes da entidade na organização da Covax, o país está fazendo um “grande trabalho” na produção doméstica e será essa fabricação será muito superior a qualquer expectativa de doações internacionais.

Insuficiente

Em uníssono, porém, dirigentes internacionais e entidades criticaram abertamente o anúncio do G7 de que irá garantir 1 bilhão de doses até o final de 2022. Para a OMS, Unicef e outras instituições, o volume é insuficiente e chega tarde. Também houve uma onda de questionamentos diante da falta de um plano claro e cronograma sobre quando tais vacinas chegariam aos países mais pobres.

Apesar de o mundo já ter administrado mais de 2,3 bilhões de doses, dezenas de países continuam a viver uma escassez profunda. No Iraque, apenas 1% da população foi vacinada, contra 1,9% na Guatemala, 1,1% na Costa do Marfim e Quênia.

A taxa cai para menos de 0,5% em países como Mali, Níger, Zâmbia, Mauritânia, Camarões e uma dezena de outros. Hoje, apenas 16 países entre os 193 membros da ONU conseguiram vacinar mais de 40% de suas populações.

 

Conteúdo UOL

Foto: Divulgação

 

O Brasil deve ficar de fora da lista de prioridades de doações de vacinas contra a covid-19 por parte de países ricos, ainda que possa ser beneficiado de forma pontual por gestos de certos governos.

 

Neste fim de semana, líderes do G7 fecharam um pacto para que, até final de 2022, 870 milhões de doses possam chegar diretamente aos países em desenvolvimento. Contando todas as promessas desde o começo de 2021, os governos do bloco apontam que isso significaria 1 bilhão de doses. Mas não houve um esclarecimento sobre quem forneceria essa diferença de 170 milhões de doses.

 

 

 

 

Num comunicado emitido pela Covax Facility após o encontro, o consórcio criado pela OMS para garantir uma transferência de vacinas pelo mundo indicou que grande parte das doações será canalizada por meio do mecanismo internacional de distribuição.

 

Mas fontes nas agências confirmaram à coluna que o plano prevê que as doses sejam distribuídas a dois grupos de países mais pobres, com cerca de 92 deles fazendo parte dessa lista. O Brasil não está nesses grupos e, nas Américas, apenas Haiti, El Salvador, Bolívia, Honduras e Nicaragua fazem parte dos locais que poderão ser beneficiados com prioridade.

 

O próprio governo de Joe Biden, ao anunciar a doação de 500 milhões de doses, já deixou claro que países como o Brasil não estavam na lista de destinos prioritários.

 

Tanto em Washington como nas agências da ONU, a percepção é de que o governo brasileiro tem como pagar por vacinas e que, portanto, uma doação neste momento significaria que outros países em situação mais dramática fiquem sem qualquer tipo de abastecimento.

 

Na OMS, ainda assim, a estimativa é de que a doação ajudará a liberar outras doses que, a partir da disponibilidade do mercado, serão destinadas ao Brasil e a outros países pelo mundo. Mas esse seria apenas um efeito indireto.

 

Brasil pode ser beneficiado por “gestos pontuais”

 

Não se exclui que o Brasil possa ser beneficiado por algum envio pontual e, de fato, conversas estão ocorrendo neste sentido. A esperança do governo é o de garantir que, no momento em que a imunidade de rebanho seja obtida na Europa, EUA e outros locais, doses possam ser redistribuídas pelo mundo.

 

Mas, por enquanto, as primeiras indicações já apontam que o país não poderá depender desse fluxo para acelerar a campanha de imunização. Nos EUA, a Casa Branca indicou que destinará 6 milhões de doses de vacinas que terão de ser distribuídas por doze países, entre eles o Brasil. O resultado é um número pequeno de doses para as necessidades nacionais e, ainda assim, por meio da Covax.

 

Outro fato que pesa: por mais que governos ricos anunciem a doação de vacinas, o Brasil comprou apenas 43 milhões de doses da Covax, o equivalente a 10% de sua população. Portanto, mesmo que o mecanismo seja inundado por doações nos próximos meses, a prioridade será a de atender em primeiro lugar aos contratos já assinados.

 

Ou seja: se países africanos ou asiáticos solicitaram 20%, 30% ou 40% de cobertura de suas populações, o abastecimento de doses primeiro irá preencher esses compromissos. Só depois dessa etapa é que haveria espaço para renegociar acordos.

 

Fontes na OMS ainda confirmaram que, desde que tomou posse, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a falar com membros da agência sobre a possibilidade de o governo ampliar suas compras da Covax. Mas, com a atual escassez e a prioridade sendo a de garantir doses a quase outros cem países, qualquer renovação de contrato para 2022 terá de esperar.

 

O alto escalão da OMS estima ainda que, apesar da crise aguda no Brasil, o país será abastecido acima de tudo por sua produção local de vacinas. Na entidade, a percepção é de que poucos são os locais no mundo em desenvolvimento com uma fabricação e, portanto, o foco no caso brasileiro não pode ser a espera por doações estrangeiras.

 

Para Bruce Aylward, um dos principais nomes da entidade na organização da Covax, o país está fazendo um “grande trabalho” na produção doméstica e será essa fabricação será muito superior a qualquer expectativa de doações internacionais.

 

Insuficiente

 

Em uníssono, porém, dirigentes internacionais e entidades criticaram abertamente o anúncio do G7 de que irá garantir 1 bilhão de doses até o final de 2022. Para a OMS, Unicef e outras instituições, o volume é insuficiente e chega tarde. Também houve uma onda de questionamentos diante da falta de um plano claro e cronograma sobre quando tais vacinas chegariam aos países mais pobres.

 

Apesar de o mundo já ter administrado mais de 2,3 bilhões de doses, dezenas de países continuam a viver uma escassez profunda. No Iraque, apenas 1% da população foi vacinada, contra 1,9% na Guatemala, 1,1% na Costa do Marfim e Quênia.

 

A taxa cai para menos de 0,5% em países como Mali, Níger, Zâmbia, Mauritânia, Camarões e uma dezena de outros. Hoje, apenas 16 países entre os 193 membros da ONU conseguiram vacinar mais de 40% de suas populações.

 

 

 

 

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Foto: Divulgação

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