No último domingo (29), Dia do Pescador, as agendas públicas dos deputados estaduais João Luiz (Republicanos) e Comandante Dan Câmara (Podemos) evidenciaram uma crescente disputa política em torno das comunidades pesqueiras do Amazonas. O setor, historicamente negligenciado por políticas públicas efetivas, agora se torna ponto estratégico para parlamentares que buscam ampliar sua base eleitoral nas regiões ribeirinhas.
Apesar de adotarem estratégias diferentes, ambos os deputados têm direcionado esforços significativos para o setor, que reúne milhares de trabalhadores em todo o estado. Enquanto João Luiz aposta na articulação institucional e no envio de recursos, Dan Câmara intensifica sua presença nas comunidades e adota um discurso de enfrentamento e defesa direta das pautas dos pescadores.
João Luiz mira estrutura e políticas públicas
Com um perfil voltado à articulação com o Executivo, João Luiz destacou ter destinado mais de R$ 2,7 milhões em emendas parlamentares ao setor pesqueiro. Os recursos já resultaram na entrega de kits de pesca, caminhões, motores rabetas, lanchas, mobílias e até aparelhos de ar-condicionado para sedes de colônias e associações.
Além disso, o deputado propôs a criação da Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura (Sepa), com o objetivo de consolidar uma estrutura permanente para o setor. Outra iniciativa de destaque é o anteprojeto da “Bolsa Estiagem”, que visa garantir auxílio financeiro a pescadores e extrativistas afetados por períodos de seca extrema.
“Pulsa nas minhas veias a defesa dos pescadores”, afirmou o parlamentar, agradecendo ao governador Wilson Lima pela execução das emendas e indicativos apresentados à Assembleia Legislativa.
Dan Câmara aposta na base e no embate político
Com um estilo mais combativo, o deputado Comandante Dan tem centrado suas ações na escuta direta das comunidades. Neste Dia do Pescador, esteve em municípios do Alto Solimões — como Atalaia do Norte e Benjamin Constant — onde reforçou sua atuação em prol do segmento. Ele é o autor da Lei nº 6.485/2023, que instituiu oficialmente a data comemorativa no calendário estadual.
Dan criticou a ausência de infraestrutura básica para a atividade pesqueira, como o funcionamento de geleiras nos portos do interior, e comparou a vulnerabilidade dos pescadores ao avanço da pesca predatória patrocinada por facções criminosas. “Enquanto o narconegócio tem acesso a gelo e logística, nossos pescadores lutam para conservar o peixe”, apontou.
O deputado também chamou atenção para os impactos de demarcações de terras indígenas na região de Barcelos, onde a pesca esportiva sustenta parte significativa da economia local. Para ele, é preciso encontrar equilíbrio entre os direitos originários e o desenvolvimento econômico sustentável.
Eleitorado em disputa
As movimentações paralelas de João Luiz e Comandante Dan indicam uma disputa velada por protagonismo dentro de um mesmo espaço eleitoral: o das populações ribeirinhas e comunidades ligadas à pesca artesanal e esportiva. Com abordagens distintas — o primeiro com perfil técnico e institucional, o segundo com apelo social e comunitário — ambos parecem mirar o mesmo objetivo: consolidar apoio político em um segmento até então periférico nas disputas eleitorais.
Com a aproximação do ciclo eleitoral de 2026, o setor pesqueiro começa a se consolidar como novo campo de batalha política no estado. A presença simultânea de dois parlamentares com atuação intensa no segmento sugere que, mais do que um nicho econômico e social, os pescadores passaram a ser um ativo estratégico no tabuleiro político do Amazonas.

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