Na Câmara, os líderes do governo, José Guimarães (PT-CE), e da oposição, Carlos Jordy (PL-RJ), estão entre os que apoiam a iniciativa.
Os deputados que assinaram em apoio à proposta são do PP, PL, PSD, União Brasil, Republicanos, PSDB, MDB, PV, Podemos, PSOL, Avante, PT e PDT. A PEC foi protocolada em 22 de março na Câmara dos Deputados.
Anistia aos partidos
A proposta, se aprovada, muda a Constituição para estabelecer que as legendas não poderão ser punidos com “sanções de qualquer natureza, inclusive de devolução e recolhimento de valores, multa ou suspensão do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, nas prestações de contas de exercício financeiro e eleitorais dos partidos políticos que se derem anteriormente à promulgação” do texto.
No ano passado, as siglas receberam quase R$ 5 bilhões dos cofres públicos para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, conhecido como Fundo Eleitoral.
Outro R$ 1 bilhão foi distribuído ao longo de 2022 para 24 partidos por meio do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos – o Fundo Partidário.
Outro ponto importante é que a PEC também anistia as legendas que descumpriram a cota mínima de recursos ou por não destinarem os valores mínimos para candidaturas de negros e mulheres nas eleições de 2022 para trás.
“Não serão aplicadas sanções de qualquer natureza, inclusive de devolução e recolhimento de valores, multa ou suspensão do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, aos partidos que não preencheram a cota mínima de recursos ou que não destinaram os valores mínimos em razão de sexo e raça nas eleições de 2022 e anteriores”, diz o texto.
Uma emenda constitucional promulgada em abril do ano passado — que essa nova PEC tenta mudar –, destaca que a anistia vale apenas para o período anterior à promulgação do texto. Portanto, hoje vale apenas para as eleições de 2020 e as anteriores a ela.
As cotas e os recursos mínimos a candidaturas de negros e mulheres foram estabelecidos após anos de discussões e implementação, para estimular a entrada destas parcelas da população na política.
Na justificativa da PEC, o deputado Paulo Magalhães diz que, nas últimas eleições, “muitos dos entes partidários tiveram dificuldade em se ajustar ao novo comando constitucional, em decorrência da inexistência de outra regra que apresentasse as balizas ou uma maior elucidação sobre a matéria pertinente à distribuição das referidas cotas”.
“Não se sabia ao certo, em meio ao processo eleitoral, se a contagem da regra teria sua abrangência federal ou se deveria ser cumprida pelos partidos em âmbito nacional”, ressaltou.
“Muitos partidos, agindo de boa-fé e com o maior esforço para que as regras fossem cumpridas, se viram inadequados após o período eleitoral, em virtude de muitas alterações de registro de candidatura em todo o país”, complementou.
Na avaliação de Gabriela Rollemberg, advogada, cientista política, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e cofundadora do movimento Quero Você Eleita, á preciso mais negociações antes da análise do texto.
“Se há dificuldade entre todos os partidos, vamos trazer a cota de cadeiras para valer na eleição municipal? Quais são as propostas para solução do problema? Qual a proposta do Congresso? Qual a proposta do governo? As mulheres se lembram muito bem em quem votaram na última eleição”, ponderou.
“É urgente a união das bancadas femininas da Câmara e do Senado nesse debate. Não é justo ou razoável pautar a PEC antes da eleição da bancada feminina da Câmara. Isso não é fair play, para usar um vocabulário masculino”, adicionou.
Mais uma mudança que a PEC propõe é a de se permitir a arrecadação de recursos de pessoas jurídicas pelos partidos políticos, em qualquer instância, para quitar dívidas contraídas com fornecedores ou assumidas até agosto de 2015.
Naquele ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a doação de empresas para o financiamento de campanhas eleitorais. Os partidos então passaram a depender de doações de pessoas físicas e do Fundo Eleitoral para bancar as campanhas.
Paulo Magalhães argumenta que a “finalidade da alteração se presta exclusivamente a garantir o adimplemento de dívidas contraídas na vigência da ordem normativa anterior à vedação, de modo que a um só tempo prioriza o cumprimento das obrigações estabelecidas, bem como preserva a estabilidade da ordem jurídica que se pretende resguardar”.
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