Três dias antes do general Júlio César Arruda, então comandante do Exército nos primeiros dias do governo Lula, ser demitido, o também general Tomás Paiva, que acabou o substituindo na força terrestre, deu declarações nas quais acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de promover interferências políticas nas Forças Armadas, durante uma reunião com subordinados no Comando Militar do Sudeste, onde era comandante até o petista o nomeá-lo para chefia da principal Organização Militar da República.
A conversa, que foi gravada sem que Paiva soubesse, foi divulgada pelo podcast Roteirices e mostra que o hoje comandante do Exército já vinha com uma postura crítica aos arroubos ideológicos que Bolsonaro enfiava goela abaixo das tropas nos quartéis brasileiros.
“Algumas interferências do governo, diretas, na área militar. ‘As novas motociatas do presidente Bolsonaro serão na Aman’, isso foi noticiado. Não ocorreu porque os nossos comandantes, nossos generais, conseguiram convencer o presidente que não era uma coisa adequada ter uma motociata, que é um ato político de apoio ao presidente, dentro da academia militar… No governo passado tivemos uma coisa pouco usual que foram as três mudanças de comandante de Força. Passamos pelo general Pujol, depois o general Paulo Sérgio e depois o general Freire Gomes. Não deu para completar o tempo de quatro anos, que tinha sido normal em todos os governos. Esse é o contexto que estou mostrando para vocês do que ocorreu”, disparou o general Tomás Paiva para outros oficiais do Comando Militar do Sudeste, em reunião a portas fechadas, em 18 de janeiro deste ano.
“Eu estou colocando (essas informações) porque houve diversos pontos de interferência política dentro de temas que são militares… O comandante (Paulo Sérgio Nogueira, à época) resolveu entregar o FATD (Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar), o general respondeu e o pessoal considerou que a transgressão estava justificada. É muito difícil para um comandante criticar a decisão dele. Eu posso até falar para ele o que eu penso, mas a decisão está tomada”, afirmou Paiva em relação ao absurdo “perdão” dado por Paulo Sérgio à participação do então general Eduardo Pazuello num ato político de Bolsonaro quando ele ainda estava na ativa e já tinha ocupado o Ministério da Saúde.
“A gente tem que perdoar o pecador, mas tem que mostrar que o pecado aconteceu. Não pode aceitar o pecado, o erro. O erro aconteceu”, completou Tomás, criticando o ambiente de conivência com transgressões disciplinares e com a atmosfera política promovidos pelo ex-presidente de extrema direita.
O general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva chegou ao comando do Exército Brasileiro após a demissão prematura do general Júlio César Arruda, nomeado por Lula assim que iniciou seu terceiro mandato como presidente da República. Arruda teria interferido no andamento das operações para pôr fim ao acampamento dos terroristas bolsonaristas que foi instalado numa área militar do entorno do QG da instituição, em Brasília. Depois, Arruda ainda teria se negado a cumprir uma ordem do presidente Lula e do ministro da Defesa, José Múcio, que o mandaram suspender uma nomeação do antigo ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro César Cid.
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