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Campos Neto nega ter proposto aumento da meta de inflação e defende aproximação com Lula

Em meio a sucessivas críticas de Lula à atuação da autoridade monetária e ao nível dos juros no país, Campos Neto disse entender a pressa do mandatário, mas argumentou que reduções na taxa Selic só surtem efeito prático sobre os ...
REUTERS/Adriano Machado

O Banco Central não propôs ao governo um aumento da meta de inflação para ganhar flexibilidade na política monetária, mas tem sugestões de aprimoramento do mecanismo, disse nesta segunda-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, defendendo também uma aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem tem recebido uma série de críticas.

“Acho que é importante dizer que nós não estudamos mudança de metas. Nós não entendemos que a meta é um instrumento de política monetária, (mas) existem, obviamente, aprimoramentos para se fazer”, afirmou Campos Neto no programa Roda Viva ao ser questionado se teria proposto aumentar a meta, sem detalhar esses aperfeiçoamentos.

“Em nenhum momento a gente defendeu simplesmente aumentar a meta no sentido de ganhar flexibilidade, mesmo porque não é nossa crença”, acrescentou, ressaltando que cabe ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, encaminhar eventuais propostas de mudanças da regra ao Conselho Monetário Nacional.

Em meio a sucessivas críticas de Lula à atuação da autoridade monetária e ao nível dos juros no país, Campos Neto disse entender a pressa do mandatário, mas argumentou que reduções na taxa Selic só surtem efeito prático sobre os juros no país se as decisões tiverem credibilidade.

“O Banco Central não gosta de juros altos, é óbvio que a gente quer fazer o melhor possível para ter o juro baixo, para ter o crescimento sustentável”, afirmou, acrescentando que a agenda da autarquia é muito voltada para o social.

“A gente acredita que é possível fazer fiscal junto com bem-estar social, mas a gente acredita que é muito difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada”.

Convidado do programa da TV Cultura, o presidente do BC afirmou, em entrevista gravada, que tem dialogado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e argumentou ser importante reconhecer a boa vontade e o esforço fiscal do governo Lula. Para ele, porém, não é razoável esperar que o novo governo chegue e “faça um mega ajuste na despesa”.

Segundo o presidente do BC, se ficar mais claro qual será o arcabouço fiscal do governo e reformas avançarem, é possível que o país retorne “em breve” ao cenário do fim do ano passado, quando a autarquia previa ser possível cortar a taxa básica de juros já a partir de meados de 2023 e atingir as metas.

Lula intensificou nas últimas semanas a artilharia contra o BC e a condução da política monetária. Em declarações distintas, classificou a autonomia formal do banco como “bobagem”, fez críticas ao elevado nível dos juros básicos no país, hoje em 13,75% ao ano, e reclamou do nível da meta de inflação, argumentando que o objetivo muito baixo força um arrocho da economia.

O movimento abriu especulações sobre o interesse do governo, e da abertura do próprio Campos Neto, em elevar as metas com o objetivo de viabilizar um afrouxamento da política monetária, gerando uma compressão menor da atividade.

Na entrevista, o presidente do BC afirmou que se alinha à ala de economistas que acreditam que uma simples flexibilização nas metas de inflação gerariam efeito contrário, ampliando riscos, desancorando ainda mais as expectativas e forçando um endurecimento da política monetária.

O CMN, composto por Haddad, Campos Neto e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, é responsável por fixar as metas de inflação. O conselho terá sua primeira reunião no governo Lula na quinta-feira.

ACENO A LULA

Instigado a deixar uma mensagem a Lula, Campos Neto disse que gostaria de ter mais reuniões com o presidente, explicar a política de juros do BC e o motivo de o país ter juros altos, além de outras iniciativas.

“É importante a gente trabalhar junto, eu gostaria de ter mais tempo para explicar a agenda do Banco Central, principalmente a agenda social”, disse. “O BC precisa trabalhar com o governo e o ambiente colaborativo é o melhor ambiente para a sociedade”, disse.

Os ataques recentes de Lula ao BC estimularam falas no mesmo sentido de ministro do governo e de parlamentares aliados. Nesta segunda-feira, o Diretório Nacional do PT decidiu apoiar uma convocação de Campos Neto ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre a política monetária.

Questionado sobre essa iniciativa, o presidente do BC disse fazer parte de seu dever prestar esclarecimentos ao Legislativo, acrescentando ter se colocado à disposição para comparecer às comissões do Congresso.

As críticas de Lula também levantaram questionamentos sobre as próximas indicações para diretorias do Banco Central. O presidente da República continua sendo o responsável por escolher os nomes, que precisam passar por análise e aprovação do Senado.

No fim de fevereiro, serão encerrados os mandatos dos diretores de Política Monetária, Bruno Serra, e de Fiscalização, Paulo Souza. Após afirmar que quer sempre estar mais próximo do governo, Campos Neto disse que a prerrogativa de escolha dos diretores é de Lula, mas afirmou estar disponível para ajudar e apresentar sugestões. Ele ressaltou que um BC independente naturalmente vai se tornando mais diverso ao longo do tempo, com maior divergência entre diretores.

Sobre eventuais pressões para que deixe o cargo, o presidente do BC disse que sua permanência é para deixar claro que a instituição autônoma é um ganho para a sociedade.

“A minha figura é irrelevante”, disse, defendendo que as decisões do BC são técnicas e não mudariam se ele deixasse o posto.

Na entrevista, Campos Neto afirmou, ainda, que o BC acompanha o caso do problema financeiro das Lojas Americanas, mantendo contato com bancos e observando a evolução de dados de crédito. Ele disse que o caso afeta pouco o sistema de crédito e não se trata de um problema estrutural.

O presidente do BC também defendeu uma mudança na legislação sobre a venda de ouro no país para ampliar a transparência dos negócios, em meio a questionamentos sobre o comércio ilegal do produto no país.

 

 

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