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BR-319: a pavimentação do colapso civilizacional do Brasil e da Amazônia

O asfaltamento da rodovia afetará os serviços ecossistêmicos amazônicos e o regime de chuvas no Brasil, levando o bioma à morte e a mudanças no abastecimento das regiões Sul e Sudeste, alerta o pesquisador
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Divulgação

Brasil se tornou o vilão da crise climática. Desmatamento, queimadas e negligência transformaram a maior floresta tropical do mundo na principal emissora de gases do efeito estufa em setembro. Com a devastação da Amazônia alcançando quase o tamanho da Colômbia, os prognósticos e as possibilidades de uma mudança de rumo das políticas ambientais parecem uma miríade.

Próxima de colapsar, após atingir o limite de desmatamento tolerado, o bioma amazônico deve alcançar o ponto de não retorno já em 2025, piorando ainda mais o cenário de eventos climáticos extremos. O fim da Amazônia terá consequências devastadoras ao redor do planeta. As inundações que tomaram conta do Rio Grande Sul em maio passado são o prenúncio do futuro que nos aguarda. Por isso, o biólogo Lucas Ferrante é enfático: “ou adotamos uma política de desmatamento zero este ano – 2030 é muito tarde – e um processo de restauração da Amazônia, ou, de fato, ano que vem vamos atingir esse ponto de não retorno”.

Amazônia está nesse ponto de não retorno do desmatamento tolerado por conta da crise climática. Nós vemos um turnover positivo de cada vez mais seca na Amazônia fomentando mais esses incêndios. Esse é um marco novo na Amazônia e mostra como o desmonte ambiental, que tem sido continuado pelo governo Lula, tem impactado esse bioma tão importante para o planeta”, explica o pesquisador em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

A obsessão desenvolvimentista do governo federal pode resultar em nada menos do que no colapso civilizacional. “O que nós estamos falando é de ondas de calor que podem matar a população, do surgimento de novas doenças e do aumento da fumaça, que deve se tornar perene e consolidada na Amazônia central com o asfaltamento da rodovia BR-319. Manaus deve virar um dos piores lugares do mundo para morar, se tiver capacidade de abrigar a vida humana daqui a 50 anos. Basicamente, o asfaltamento dessa rodovia é a morte de Manaus e do desenvolvimento da Amazônia central”, alerta Ferrante.

Lucas Ferrante (Foto: Alberto César Araújo | Amazônia Real)

Lucas Ferrante de Faria é pesquisador da Universidade de São Paulo – USP e da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. É formado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Mestre em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Doutor em Biologia (Ecologia) também pelo INPA. Desenvolve pesquisas e ações de popularização da ciência sobre a influência das atividades humanas na estrutura, dinâmicas, clima e biodiversidade da Amazônia, além do impacto sobre as populações tradicionais que vivem na floresta.

Confira a entrevista.

IHU – O senhor reside em Manaus. Para que o leitor possa compreender, gostaríamos que o senhor começasse contando a situação de hoje, 9 de outubro, na cidade.

Lucas Ferrante – Manaus tem ficado sempre com fumaça ao fundo. O ar de Manaus tem sido insalubre, principalmente em se tratando de uma cidade no coração da maior floresta tropical do mundo. Nós não vemos o contorno da cidade por conta da fumaça, em alguns picos. Principalmente no ano passado, mal se viam os carros no trânsito tamanho era a fumaça das queimadas na área da rodovia BR-319.

Além disso, vemos picos de calor intenso, Manaus tem batido recordes de calor, com um aumento da seca e da fumaça. As pessoas voltaram a usar máscaras em alguns picos de fumaça como foi na pandemia de covid-19. Manaus está registrando cada vez mais recordes: já estamos chegando à temperatura de sensação térmica próxima de 42ºC em algumas áreas da cidade e perda de umidade inferior a 50%, o que, para a Amazônia central, é algo muito absurdo.

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