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Bolsonarismo cria raízes e Brasil repete experiência de Hungria e EUA

Mas já sabemos que, em parte, vai governar: a extrema direita que, no país, leva o nome de bolsonarismo.
Foto: Divulgação

Começamos esta semana semana sem saber quem será o próximo presidente do Brasil. Mas já sabemos que, em parte, vai governar: a extrema direita que, no país, leva o nome de bolsonarismo.

Com senadores eleitos, deputados e governadores estaduais, o bloco ultraconservador chega a um patamar importante de votos, revelando que nem a pandemia que matou 700 mil pessoas, nem a fome que voltou, nem a crise social e nem os abjetos comentários do presidente Jair Bolsonaro são suficientes para desencorajar um segmento da população. Para além dos eleitos, o Brasil revelou que 50 milhões de cidadãos dizem: ele sim.

Assim como ocorreu na Hungria, uma vez no poder, a extrema direita dificilmente é derrotada apenas com a repetição de lógicas eleitorais tradicionais. E quanto mais permanecem no poder, mais enraizado fica. Basta perguntar para Viktor Orban.

Como ocorreu na Hungria, a estratégia bolsonarista é a de deslegitimar a imprensa, a sociedade civil, ativistas e qualquer tipo de controle externo. E, em seu lugar, criar canais supostamente diretos com a população para veicular mentiras. Sem contestação, sem perguntas.

No Brasil, a estratégia também funcionou. Eduardo Pazuello foi eleito, depois de ter cruzado os braços diante da pandemia. O país elegeu uma ex-ministra dos Direitos Humanos que desmontou os mecanismos de controle de tortura e tantos outros instrumentos de promoção da dignidade. Elegeu um ex-ministro do Meio Ambiente negacionista. E tantos outros que, para chegar à vitória, não colocaram um limite para a desinformação. Agora, poderão fazer o mesmo com imunidade de oito anos, em alguns dos casos.

Ao longo deste dia de domingo, vivi em primeira mão o resultado da mentira. Em Genebra, enquanto os votos ainda eram contados, eleitores bolsonaristas recebiam em seus grupos alertas de que o presidente tinha vencido e que, se não fosse o caso, a culpa era de manipulações de fiscais infiltrados pelo PT.

Quando o resultado foi publicado e Luiz Inácio Lula da Silva venceu, a única reação do grupo de bolsonaristas que estava diante da seção foi a de que o resultado tinha sido roubado e que “não fazia sentido” perder. A mentira tinha vencido, uma vez mais.

As sequelas da desinformação são de longo prazo e estamos descobrindo isso. Mas responsabilizar a eleição de todas as principais figuras do bolsonarismo à mentira é contar meias verdades.

Assim como nos EUA, milhões de eleitores – muitos deles ressentidos – não se identificam com pautas que lhes parecem distantes. Lula ainda pode vencer, como Joe Biden venceu. Mas o impressionante resultado do bolsonarismo em votações regionais e no Legislativo revela que a capilaridade é real.

Como diz a escritora brasileira Juliana Monteiro, a oposição não pode mais ler uma carta pela democracia apenas nos salões nobres da escola da elite paulistana. Por mais que tenha sido fundamental, não é e não será suficiente.

Soma-se a tudo isso a herança que temos de uma sociedade intolerante, racista, incapaz de ver o estado e essencialmente individualista.

Com esse cenário, o Brasil desembarca em 2023 com um bolsonarismo enraizado. E com forças progressistas divididas e incapazes de dialogar de forma suficiente com o eleitor.

Se Luiz Inácio Lula da Silva vencer no segundo turno, terá de governar diante de uma provável recessão internacional, de uma guerra, de uma ameaça nuclear e de um colapso climático. Mas, acima de tudo, com um Poder Legislativo que irá se transformar na nova trincheira da extrema direita no Brasil.

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