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Avanço do PCC em Portugal coloca a Polícia Judiciária lusitana em alerta

Grandes narcotraficantes da Baixada Santista vinculados ao PCC são procurados pela Interpol, a Polícia Internacional.
Imagem: Divulgação

Reportagem publicada domingo (10) no “Expresso”, de Portugal, e assinada pelo jornalista Hugo Franco, informa que as autoridades policiais e judiciárias lusitanas estão preocupadas com a atuação e o avanço do PCC (Primeiro Comando da Capital) naquele país.

O texto diz que os primeiros indícios da presença do PCC em Portugal surgiram em 2009. Foi quando um relatório do Departamento de Estado norte-americano alertava sobre a atuação de integrantes da maior facção criminosa do Brasil no país europeu.

Mas as suspeitas mais recentes da PJ (Polícia Judiciária) portuguesa recaem sobre os brasileiros Dilermando Lisboa Mello, 53, Wilson Soares de Oliveira, 43, e Eber Wilson Carrera, 36. Os três cumprem pena por tráfico internacional de drogas no Estabelecimento Prisional de Setúbal.

Em 6 de abril de 2020, os brasileiros foram flagrados com duas toneladas de cocaína em um armazém em Palmela, região metropolitana de Lisboa. No dia 12 de maio deste ano, eles foram condenados pela juíza Belmira Raposo Felgueiras, do Tribunal de Setúbal.

Dilermando, apontado pela Policia Judiciária como o chefe da organização criminosa, é natural de Santos (SP). Ele pegou uma pena de 10 anos. Eber, também de Santos, e Wilson, da capital paulista, foram condenados a nove anos.

Os três começaram a ser investigados em 28 de fevereiro de 2020, quando a PJ recebeu a informação de que o navio MSC Branka atracaria no final do mês seguinte no porto de Sines, em Portugal, levando três contêineres com polpas de frutas – um deles carregado com drogas – importados pela RW Foods.

Agentes da PJ monitoraram os sócios e funcionários da empresa. E apuraram que dias antes da chegada do navio, Dilermando havia viajado para Portugal. As investigações concluíram que a droga foi introduzida em um dos contêineres em meio à mercadoria lícita declarada e saiu do porto de Santos.

O navio atracou no porto de Sines no dia 2 de abril de 2020. Os contêineres foram transportados para o armazém em Palmela quatro dias depois. Os brasileiros foram presos em flagrante. Wilson foi apontado como o dono da RW Foods e Eber como o responsável por toda a logística da empresa.

As autoridades lusitanas suspeitam que os três brasileiros atuavam em Portugal a serviço de narcotraficantes da Baixada Santista ligados ao PCC. Wilson e Eber tinham endereço fixo em Portugal. Ambos residiam em Barreiro, no distrito de Setúbal.

Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo e Polícia Federal, é pelo porto de Santos que o PCC envia mensalmente toneladas de cocaína para vários países europeus. Grandes narcotraficantes da Baixada Santista vinculados ao PCC são procurados pela Interpol, a Polícia Internacional.

Na lista de foragidos estão André Oliveira Macedo, o André do Rap, Suaélio Martins Lleda, Moacir Levi Correa, o Bi da Baixada, e Anderson Lacerda Pereira, o Gordão. A Polícia Judiciária portuguesa quer saber se há alguma relação entre esses criminosos e os brasileiros presos em Setúbal.

Dilermando foi denunciado à Justiça Federal de Santos, em agosto de 2013, por envolvimento com narcotraficantes. Ele agia com uma quadrilha de africanos, responsável pela remessa de cocaína para a Europa e África do Sul, usando “mulas”, via aeroporto internacional de São Paulo, em Cumbica.

O brasileiro foi contratado como “mula” e recebeu dos traficantes uma mala com 6,1 kg de cocaína e uma passagem no voo SS225 da African Airways com destino a Windhoek, na Namíbia. No dia do embarque, Dilermando desistiu da viagem e ainda avisou a Polícia Federal. Três pessoas foram presas. A partir de 2019, ele deu um salto no mundo crime e tornou-se megatraficante.

Brasileira presa em Lisboa

Outro forte indício da atuação e do crescimento do PCC em território português ganhou mais força após a prisão da brasileira Nelma Mitsue Penasso Kodoma, 55, a primeira delatora da Operação Lava Jato. A doleira foi detida em abril deste ano em um hotel de luxo em Lisboa.

Segundo a Polícia Federal do Brasil, Nelma Kodoma se aliou a Marcelo Mendonça de Lemos, 47, conhecido como Marcelo Grandão ou Marcelo Infraero, apontado pela PF como integrante do alto escalão do PCC, para enviar cocaína à Europa, como divulgou esta coluna em 22 de abril deste ano.

Investigações da PF mostraram que era de Nelma e Marcelo os 580 kg de cocaína encontrados na fuselagem de um jato da empresa portuguesa Omini Aviação e Tecnologia em 9 de fevereiro de 2021 no aeroporto internacional de Salvador (BA). A aeronave havia sido fretada em Cascais, em Portugal.

O Relatório Anual de Segurança Interna de Portugal, divulgado em 2020, mesmo ano em que os três brasileiros foram presos em Setúbal, revela que somente naquele ano, as autoridades portuguesas fizeram 54 apreensões de cocaína no país, procedentes do Brasil, totalizando 6,5 toneladas da droga.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Dilermando Lisboa Mello, Eber Carrera, Wilson Soares da Silva e Marcelo Mendonça de Lemos, mas publicará a versão dos defensores assim que houver um posicionamento.

A defesa de Nelma Kodoma diz acreditar na Justiça e espera que em breve tudo será resolvido em favor dela. Um Tribunal de Lisboa autorizou a extradição da doleira para o Brasil.

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