Quase metade da floresta amazônica pode estar exposta a fatores de degradação que levariam a Amazônia a um ponto de não retorno até 2050. É o que mostra um estudo publicado na revista científica Nature, nesta quarta-feira (14). Ao atingir essa marca, segundo os pesquisadores, a Amazônia passaria por transformações significativas, com implicações para a biodiversidade e alteração na disponibilidade de recursos.
O levantamento mapeou quais são os principais fatores de estresse e como os diferentes tipos de degradação ao bioma interagem entre si. Com base nesses dados, o estudo feito por Bernardo Flores, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceira com a pesquisadora Marina Hirota, também da UFSC, estima que entre 10% e 47% da floresta amazônica estarão expostos a ameaças graves nos próximos 26 anos.
Uma área três vezes maior do que a cidade de São Paulo está sob risco alto, muito alto ou médio de desmatamento na Amazônia em 2024. São 4,6 mil km², o que equivaleria à derrubada de mais de mil campos de futebol por dia de floresta. É isso que aponta a PrevisIA, plataforma que utiliza a inteligência artificial para indicar áreas sob risco de desmatamento na Amazônia e que tem assertividade de 70% na estimativa para 2023.
Levando em conta também as áreas apontadas pela ferramenta de estarem sob ameaça de destruição baixa ou muito baixa, a previsão total para 2024 é de 10.190 km² desmatados na Amazônia. Se isso se concretizar, equivalerá a quase sete cidades de São Paulo ou 3 mil campos de futebol por dia.
A previsão da plataforma leva em conta o calendário de desmatamento, que por causa do período de chuvas na Amazônia vai de agosto de um ano até julho do ano seguinte, assim como a taxa anual do governo, o Prodes. Apesar da ferramenta ter estimado uma redução na devastação em relação ao previsto para o calendário de 2023, o de 2024 ainda deve apresentar grandes desafios para as políticas de combate à derrubada na Amazônia Legal em municípios e áreas protegidas criticamente ameaçadas.
“As reduções no desmatamento que estamos observando nos monitoramentos mensais são muito positivas e mostram os primeiros resultados da reestruturação das políticas ambientais, principalmente em órgãos importantes para a proteção da Amazônia como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). No entanto, elas precisam ser ainda maiores para que a derrubada da floresta volte ao patamar de 2012, quando tivemos menos de 5 mil km² destruídos, e possa chegar ao prometido e necessário desmatamento zero em 2030”, afirma Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon e coordenador técnico da PrevisIA.
Ainda de acordo com o cientista, essa intensificação das ações de proteção à floresta é necessária principalmente devido ao ritmo de desmatamento seguir em grandes áreas amazônicas e por contar com fatores agravantes como as queimadas e as secas extremas. “Com isso, florestas que não seriam desmatadas podem virar cinzas”, alerta.
A notícia positiva, contudo, é que ainda é possível evitar 94% do desmatamento estimado para o calendário do ano vigente. Isso porque em seu primeiro mês, agosto do ano passado, o monitoramento do Imazon detectou “apenas” 568 km² de florestas devastadas. “Nós queremos errar essa previsão para 2024, porque criamos a PrevisIA justamente para que ela identifique as áreas sob maior risco e ações sejam tomadas para protegê-las, as mantendo em pé”, acrescenta o pesquisador.
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