O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), morreu às 8h20 deste domingo (16), aos 41 anos, vítima de câncer. Desde 2019, Covas enfrentava a doença, inicialmente descoberta no trato digestivo, mas que se espalhou para o fígado e para os ossos. A notícia da morte foi confirmada em nota hoje divulgada pela assessoria do prefeito.
O quadro de saúde do prefeito era considerado irreversível, desde sexta-feira (14), pela equipe de médicos do Hospital Sírio-Libanês, onde estebe internado desde 2 de maio.
O prefeito, que era divorciado, deixa um filho, Tomás Covas, de 15 anos.
O tucano Bruno Covas tornou-se prefeito de São Paulo em 2018, após a renúncia de João Doria (PSDB), de quem era vice. Em 2020, foi reeleito no segundo turno com 3.169.121 votos, o equivalente a 59,38% dos votos válidos. O atual vice-prefeito, Ricardo Nunes (MDB), assumirá o comando da cidade.
Covas já estava licenciado do cargo desde o início de maio, quando houve piora do quadro. Nunes assumiu como prefeito em exercício em 3 de maio.
Em outubro de 2019, Covas descobriu ter um câncer ao ser internado no hospital Sírio-Libanês para tratar inicialmente uma erisipela nas pernas, que, mais tarde, revelou-se uma trombose venosa.
Em outra bateria de exames foi constatado, além do tromboembolismo pulmonar, um tumor maligno no trato digestivo com metástase no fígado. O prefeito foi submetido a diversas sessões de quimioterapia e as encerrou em fevereiro deste ano.
Com boa evolução médica, os tumores de Covas chegaram a desaparecer dias após o encerramento da última sessão de quimioterapia. De acordo com os médicos, o político teve “uma reação excepcional” ao tratamento. Uma biópsia para analisar os linfonodos localizados ao lado do fígado, que também apresentava lesões, foi solicitada na época para confirmar o desaparecimento.
Durante o período de tratamento, o prefeito não se afastou do cargo e despachou com auxiliares no próprio hospital.
Em abril de 2021, já como prefeito reeleito de São Paulo, médicos descobriram novos pontos de câncer em Covas, sendo que o fígado e os ossos foram atingidos. O tucano foi então submetido a novo tratamento quimioterápico e também à imunoterapia. Dias depois, a equipe médica responsável pelo tratamento do prefeito informou que Covas apresentou acúmulo de líquidos nos pulmões e no fígado.
O santista Bruno Covas não passou um ano sequer de sua vida sem que a política estivesse presente em sua casa. Quando nasceu em 1980, seu avô, o ex-governador Mário Covas (PSDB), naquela época deputado federal, era uma das principais lideranças do então MDB, único partido de oposição à Ditadura Militar.
Desde então, o sobrenome que inaugurou em 1995 uma sequência de governos tucanos que dura até hoje no estado de São Paulo nunca mais o abandonou. Apesar do envolvimento precoce com a política — aos oito anos participava do “Clube dos Tucaninhos” e, aos 18, filiou-se ao PSDB — o epíteto “neto de Covas” seguiu Bruno mesmo quando ele já era parlamentar.
Sua posse como prefeito de São Paulo, cargo que o avô também ocupou entre 1983 e 1985, ficou cada vez mais óbvia na medida em que João Doria projetava voos mais altos após assumir o Executivo municipal em 2017.
Indicado para a disputa municipal em um ruidoso processo de prévias internas, Doria não contou com o apoio de Bruno em um primeiro momento, mas tinha como fiador o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), mais bem-sucedido herdeiro do espólio eleitoral de Mário Covas, vítima de câncer em 2001, de quem Alckmin foi vice.
A escolha de Bruno Covas para compor a chapa foi vista como um gesto de pacificação por parte de Doria, que era visto internamente como um estranho no ninho.
Depois de pouco mais de um ano de mandato, Doria renunciou ao cargo para concorrer ao governo estadual, em um processo que deixou fissuras no PSDB paulista, incluindo a saída do partido de Mário Covas Neto, tio de Bruno e filho do ex-governador, hoje no Podemos.
Incentivado pelo prefeito Doria, Bruno Covas passou por uma mudança que incluiu a perda de 15 quilos, a adoção de uma rotina de exercícios físicos e de um estilo mais despojado. De cabelos raspados e usando barba, ele ainda dispensou o paletó e a gravata — uma imagem mais adequada para um jovem potencial candidato à reeleição.
Bruno Covas nunca fez muito esforço para negar o apelido de “baladeiro”: seu aniversário de 38 anos, já à frente do Executivo, foi comemorado no Villa Country, movimentada casa sertaneja da Barra Funda, bairro da Zona Oeste onde o prefeito morava. Nas redes sociais, o tucano compartilhava fotos de corridas no Ibirapuera, jogos do Santos ao lado do filho Tomás e, claro, homenagens ao avô.
Adepto de uma rotina de exercícios, Bruno Covas chegou a aprovar a instalação de uma academia no terceiro andar da sede da prefeitura de São Paulo, a que todos os servidores têm acesso fora do horário de expediente. O prefeito, entretanto, não chegou a usar o espaço.
Após assumir, Bruno Covas fez questão de pontuar diferenças de seu estilo ao de João Doria, que tinha como um de seus slogans se definir como gestor, não político. Apoiado na força do sobrenome, Bruno, ao contrário, alardeava suas origens, seu currículo e sua capacidade de articulação.
Carreira
A relação com Mário Covas não se resumia à política. Quando criança, Bruno acompanhava o então senador em eventos e viagens a Brasília. Aos 15, foi morar no Palácio dos Bandeirantes com o recém-eleito governador, onde permaneceu até a morte do avô.
Neste período morando na residência oficial do governo de São Paulo, Bruno Covas formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), em 2002, e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2005. Além da formação acadêmica, o outro pé na política era mantido com a presidência da Juventude Tucana, que ocupou até 2011.
Em suas redes sociais, Bruno demonstrava frequentemente a sua relação com o avô. “06.03.01 foi um dos dias mais tristes da minha vida. Perdi meu avô, minha referência. Divido com todos a responsabilidade de levar adiante o seu legado”, escreveu o neto ao relembrar foto de sua infância com o ex-governador.
A primeira incursão eleitoral se deu em 2004, quando Bruno Covas tinha 24 anos e foi candidato a vice-prefeito de sua cidade natal em uma chapa encabeçada por Raul Christiano — que não se elegeu. No ano seguinte, tornou-se assessor da liderança do PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde, contou à revista Piauí, decorou o regimento interno e tornou-se referência para os parlamentares.
Bruno Covas passou a dar expediente na Alesp como deputado estadual depois de ser eleito em 2006 com 122 mil votos. Em 2010, praticamente dobrou sua preferência entre os eleitores (239 mil votos) e reelegeu-se como o candidato mais votado para o cargo no estado naquele ano.
O tucano, entretanto, afastou-se de seu segundo mandato na assembleia estadual para assumir a secretaria do Meio Ambiente do estado na gestão de Geraldo Alckmin. No Executivo estadual, Bruno chegou a ensaiar uma candidatura à prefeitura da capital para as eleições municipais de 2012 e transferiu seu título de Santos para São Paulo.
Com sua pré-candidatura anunciada (José Serra acabaria sendo o indicado do partido para o pleito de 2012), Bruno Covas envolveu-se em uma polêmica ao contar, em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ter recusado uma oferta de propina de um prefeito por ter aprovado uma emenda parlamentar. Convidado pela oposição a prestar esclarecimentos na Comissão de Ética, disse ter sido mal interpretado e que a questão se resumiu a um exemplo hipotético do que era correto a ser feito.
Eleito deputado federal em 2014 com 352.708 votos, Bruno Covas teve uma breve passagem pela Câmara Federal, em Brasília, já que em 2016 foi eleito vice-prefeito na chapa de João Doria, que superou, em primeiro turno, o então prefeito petista Fernando Haddad, em uma eleição marcada pelos efeitos do impeachment de Dilma Rousseff (PT) — pelo qual Bruno votou a favor enquanto parlamentar.
Já na prefeitura, acumulou o cargo de secretário das Prefeituras Regionais, mas depois foi realocado para a Casa Civil após mudanças promovidas por João Doria. Após 15 meses de trabalho, o então prefeito deixou o cargo para disputar candidatura pelo governo do Estado de São Paulo nas eleições de 2018. Covas assumiu a cadeira em seguida, com intuito de concluir o governo de seu antecessor.
Reeleição
A pandemia da Covid-19 mudou de forma significativa a perspectiva para as eleições municipais de 2020. Governadores e prefeitos, como Covas, ganharam projeção diária nos veículos de imprensa com as medidas adotadas para conter a propagação do novo coronavírus.
O prefeito articulou a sua candidatura à reeleição pelo PSDB centrado no discurso de que a cidade deveria apostar na manutenção da administração como melhor estratégia para a contenção da pandemia.
Conseguiu transformar a ampla base na Câmara Municipal em chapa para a disputa eleitoral. Empresário e vereador em segundo mandato, um dos mais influentes do legislativo paulistano, Ricardo Nunes (MDB) foi convertido em candidato a vice-prefeito e defendido por Covas mesmo diante de retomadas antigas acusações de violência doméstica por parte do emedebista, que nega.
Bruno Covas ainda ressuscitou uma antiga e controversa aliança do avô. Em 1998, quando Mário Covas enfrentou Paulo Maluf no segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, buscou e obteve o apoio do PT para derrotá-lo. Uma mão lavou a outra em 2000, quando Alckmin ficou fora do segundo turno para a Prefeitura e Covas endossou a vitória de Marta Suplicy (PT) contra o mesmo Maluf.
Já fora do PT, Marta se aproximou de Bruno Covas e se engajou em sua campanha, divulgando o prefeito em regiões onde segue popular, sobretudo na Zona Leste da cidade. Com Covas reeleito, a ex-prefeita se tornou secretária municipal de Relações Internacionais da capital paulista.
Conteúdo e Foto: CNN
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