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José Melo

Rugido e Poder : Quando o chihuahua cutuca o pitbull

No entanto, comprar uma briga com a maior economia do planeta — e segundo maior comprador dos nossos produtos — não é inteligente.

Em 7 de fevereiro deste ano, escrevi uma matéria intitulada: “Rugido e Poder: a ascensão dos bravateiros globais”. O texto tratava das bravatas de líderes como Trump, Lula, Putin e Kim Jong-un.

Hoje, volto ao tema motivado pela nova tarifa imposta pelo presidente americano aos produtos importados do Brasil: 50%. A medida veio como resposta às declarações provocativas do presidente brasileiro durante a reunião dos BRICS.

Não concordo com interferências externas em nossa soberania, nem com afrontas aos nossos poderes constituídos. No entanto, comprar uma briga com a maior economia do planeta — e segundo maior comprador dos nossos produtos — não é inteligente.

Por trás dessa disputa, estão China e Estados Unidos, travando uma guerra por hegemonia geopolítica e comercial. É uma briga de pitbulls — e qualquer chihuahua que se meter, por mais adorável que seja, corre sérios riscos.

O presidente Lula entrou nessa disputa, cutucou a onça com vara curta, e as consequências poderão ser desastrosas para a economia brasileira.

É hora de agir com prudência e sabedoria diplomática. Afinal, os EUA são grandes importadores de produtos-chave do Brasil: petróleo, aço, café, carnes. Uma tarifa de 50% nesses itens altera toda a cadeia produtiva. Soma-se a isso os segmentos de ferro-gusa e celulose, também fortemente exportados para os americanos.

Ainda é cedo para mensurar os impactos dessa medida — Trump, afinal, é um jogador estratégico: ele aumenta tarifas para, depois, negociar. Porém, outros países que já enfrentaram tarifas semelhantes tiveram que rever suas projeções de crescimento, e para baixo.

Nesta guerra contra um governante arrogante, prepotente, frio e calculista — forjado nas esferas empresariais dos EUA, onde vale tudo para vencer — o melhor caminho é a prudência. E, com a China no pano de fundo, pensar como um leão pode ser um erro. O Brasil, apesar de fabuloso e rico, ainda não tem o rugido de um leão.

Os prejuízos podem, inclusive, atingir a Zona Franca de Manaus. Nosso parque industrial depende do consumo interno. Se a economia brasileira enfraquecer, o consumidor terá menos poder de compra. E isso afetará diretamente a ZFM. Em 2024, o faturamento da

Zona Franca ultrapassou os 200 bilhões de dólares, mas apenas um pouco mais de 10% foram fruto de exportações para os EUA.

A ZFM depende da saúde da economia brasileira. Sem mercado interno aquecido, não há produção que se sustente.

No fim das contas, como diz o velho ditado:

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Texto: Professor José Melo

Ex-Governador do Estado do Amazonas

 

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