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Análise: Lula fez aposta arriscada ao lançar todas as suas fichas na economia

Travado no Congresso e sem marcas fortes na gestão, presidente se agarra aos poucos sinais de melhora em indicadores econômicos para conter o desânimo de seu próprio governo
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Divulgação

Foi-se um ano e meio de governo deste terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o clima no Palácio do Planalto é de melancolia. No discurso, o Planalto computa conquistas. Mas muito do que se previa para este momento ficou pelo caminho.

Antes de tomar posse, Lula costumava explicar aos auxiliares mais próximos que seu plano para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro bem longe do Palácio do Planalto dependia de um elemento principal: a retomada da Economia. Ninguém ali menosprezava o tamanho do desafio. Mas o otimismo era suficiente para que Lula escolhesse para a missão seu sucessor natural no Palácio do Planalto.

Fernando Haddad sentou-se na cadeira do Ministério da Fazenda a contragosto do mercado e até mesmo de grande parte de seu próprio partido. E se tornou a expressão máxima da prioridade que o governo daria à agenda econômica.

Ele fez a lição de casa, deu passos importantes para o ajuste fiscal e vestiu um figurino de articulador político. Ganhou confiança a ponto de prometer uma meta de déficit zero.

Desde a largada, os esforços do governo foram dirigidos com prioridade total para a Economia. Lula sacrificou a pauta histórica da esquerda, deixou promessas de campanha em segundo plano e frustrou as expectativas de movimentos sociais e aliados históricos com a volta do PT ao Planalto. Tudo para fazer andar a agenda que seria tocada por Haddad.

Não havia como prever parte do cenário que se desenharia nos meses seguintes. O ambiente externo jogou mais pressão sobre os juros, com direito a guerras e embates diplomáticos.

Também não se imaginava que o governo teria de se deparar com uma tragédia sem precedentes, como a que atingiu o Rio Grande do Sul.

Não é à toa que o presidente agora se agarra aos mínimos sinais da tão almejada recuperação. Nesta semana, ele foi para cima daqueles que descreve como “negacionistas”.

Exaltou a alta de 0,8% no PIB do primeiro trimestre como se fosse a prova cabal de que sua aposta estava certa.

Mas a conta não é tão simples e Lula sabe disso. O primeiro trimestre contou com a injeção de recursos na Economia que não terão paralelo nos próximos meses.

Houve reajuste real do  salário-mínimo e foram pagos R$ 90 bilhões em precatórios, contribuindo para movimentar o consumo. E com os juros e gastos do governo ainda altos, o déficit nominal já se assemelha ao que se viu na pandemia.

No entorno do presidente, é sensível o clima de preocupação. Entre aliados mais próximos de Lula, começam a surgir cobranças para que o governo volte sua atenção a medidas com potencial de garantir um projeto de reeleição. E que o faça sem medidas impopulares para aumentar a arrecadação. Muito disso demanda mais gasto público.

E uma consequente pressão fiscal para um governo que já não tem margem de segurança no esforço para encontrar um equilíbrio nas contas públicas.

 

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