Eu gosto de Lula porque ele é previsível. Se eu fosse mais organizado, daria para deixar dez artigos previamente agendados para publicação, comentando o que ele fez ou disse, e bastaria publicá-los no devido tempo e com poucas atualizações factuais. Um exemplo desta semana da previsibilidade presidencial: a decisão de dar dinheiro dos trabalhadores e pagadores de impostos, via BNDES, aos amigos da esquerda latino-americana. Lula fez, Lula faz.
Outra bola cantada é a tentativa de limitar a liberdade de expressão, a pretexto de coibir a difusão de fake news. O que Lula não conseguiu levar adiante no seu primeiro mandato, com a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, para “fiscalizar” a imprensa independente, ele está fazendo agora, ao instituir por decreto uma certa Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, ligada à Advocacia Geral da União (AGU). Ela atuará em casos de “ameaça à integridade da nação” e para combater “a desinformação sobre políticas públicas”.
É tranquilizador saber que a AGU petista, dirigida por Jorge Messias, o popular Bessias, vai defender a integridade da nação, passando por cima da Constituição. Para tanto, ela tirou da sua cartola de boas intenções a tipificação de desinformação, sem previsão legal. É “mentira voluntária, dolosa, com o objetivo claro de prejudicar a correta execução das políticas públicas com prejuízo à sociedade e com o objetivo de promover ataques deliberados aos membros dos Poderes com mentiras que efetivamente embaracem o exercício de suas funções públicas”. Explico: a AGU petista quer tirar do ar opiniões e notícias das quais o governo não goste. Muito justo, ué. Para regulamentar essa boa intenção, dando-lhe ares de legitimidade, Bessias convidou associações de jornalistas para participar de um grupo de trabalho, juntamente com advogados, juízes e procuradores. Desenho: o Conselho Federal de Jornalismo foi criado sem precisar ser criado.
É de se perguntar se a AGU petista tiraria do ar uma desinformação que o ministro da Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, publicou no Twitter: a de que “não existe risco de calote” nos financiamentos do BNDES aos governos caloteiros que são amigos de Lula. Espero que perguntar ainda não ofenda. Paulo Pimenta é muito criativo, entendo. Ele inventou na Secom, veja só, um Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão, para fazer o contrário do que diz o seu nome. Pimenta mais leve, em todo caso, do que o “Pacote da Democracia” que Flávio Dino se prepara para jogar nas nossas cabeças.
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