Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Jair Bolsonaro gastaram a maior parte de sua munição no primeiro debate do segundo turno mirando nas principais fragilidades do adversário, com o petista criticando a atuação do presidente na pandemia de Covid-19 e o candidato à reeleição criticando a corrupção na Petrobras nos governos petistas.
“Sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem, quando mais da metade poderia ter sido salva. Você debochava da vacina, disse que iria virar jacaré, imitou pessoas sem ar. Brincou com a pandemia”, disse Lula no primeiro bloco do encontro –realizado no domingo em pool pela Band TV, jornal Folha de S.Paulo, TV Cultura e portal UOL–, quando deixou o presidente boa parte do tempo na defensiva.
O formato do debate privilegiava o confronto direto livre. Os candidatos podiam escolher os temas da maioria das perguntas e tinham de demonstrar tanto desenvoltura no estúdio –era permitido se deslocar– como um bom manejo de tempo.
Se no primeiro bloco Lula dominou o programa, no último foi a vez de Bolsonaro deixar o petista mais na defensiva, a ponto de Lula ter feito uma má administração do tempo e deixado o presidente falando sozinho, quando repetiu seu costumeiro discurso de campanha, com críticas a líderes autoritários de esquerda, a quem chama de amigos de Lula.
O petista repetiu o que já disse outras vezes que o fato de algumas pessoas terem confessado seus crimes confirma que houve corrupção, mas “não precisava quebrar as empresas, você não precisava fechar as empresas”, citando casos de países como Coreia do Sul e Alemanha.
SEM NOCAUTE
Para o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) João Feres, o embate direto era mais importante para Bolsonaro, que está atrás nas pesquisas, do que para Lula, que venceu o primeiro turno com uma vantagem de 6,2 milhões de votos e que deveria focar em evitar grandes erros.
O atual mandatário, no entanto, não soube aproveitar as oportunidades que teve, disse Feres, especialmente quando pôde falar livremente por vários minutos, mas usou o tempo para vincular Lula ao governo de Daniel Ortega, na Nicarágua, criticado por organismos internacionais por perseguir a oposição e a Igreja Católica, por exemplo.
“Quem não votou no Bolsonaro no primeiro turno com esse discurso, não vai votar agora. Ele falou questões que são do ‘core’ do bolsonarismo, mais do que elementos para atrair pessoas indecisas”, disse ele, que coordena o Laboratório de Estudos da Mídia e da Esfera Pública (Lemep).
Na campanha de Bolsonaro, segundo duas fontes, a avaliação foi que o candidato à reeleição teve o seu melhor desempenho em debates até o momento durante a corrida eleitoral. Ainda assim, as fontes ainda não sabiam avaliar se a atuação do presidente será capaz de conquistar votos para encurtar a vantagem de Lula.
Já para Edinho Silva, coordenador de comunicação da campanha do Lula, o ex-presidente se saiu bem e não caiu na armadilha de Bolsonaro puxá-lo para um debate ideológico.
“Eu penso que Lula se saiu muito bem na sua proposta, que foi primeiro não entrar na armadilha proposta pelo Bolsonaro. Segundo, debater a vida do povo brasileiro, debater a fome, a pobreza, a miséria”, avaliou.
A Quaest monitorou as reações nas redes sociais durante o debate e, de acordo com os números, Bolsonaro foi se recuperando ao longo do programa. O presidente teve o seu pior desempenho nos primeiros dois blocos –no segundo, chegou a ter 66% de menções negativas. No terceiro, no entanto, teve 51% de menções positivas, contra 39% de Lula.
Já a AtlasIntel fez uma pesquisa qualitativa com 100 eleitores que não votaram nem em Lula nem em Bolsonaro. No grupo, 54% consideraram que Lula ganhou o debate, enquanto 32% acharam que Bolsonaro teve o melhor desempenho –14% não souberam responder.
CASO DAS VENEZUELANAS
O debate aconteceu em meio a um dos momentos mais críticos para Bolsonaro na campanha. Ele usou o programa para mais uma vez tentar desfazer os estragos de uma declaração sua numa entrevista a um podcast na sexta-feira que viralizou na internet no fim de semana.
Na longa entrevista que deu para o Paparazzo Rubro-Negro, após as costumeiras críticas ao regime venezuelano e às condições do povo lá que gerou um forte fluxo migratório no Brasil, Bolsonaro disse que “pintou um clima” em uma visita a meninas venezuelanas na periferia de Brasília e chegou a insinuar que menores de idade daquele país estariam se arrumando para se prostituir.
Poucas horas antes do debate, Moraes determinou a remoção de vídeos com essa declaração de Bolsonaro das plataformas e proibiu Lula de tocar no assunto no embate entre os dois. O petista foi ao debate com um broche na lapela do combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
“Lula se você não mentisse, não seria você. Você me chama o tempo todo de genocida, miliciano, canibal… E a última, o seu programa, influenciado por Gleisi Hoffmann (presidente do PT), me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado: defesa da família brasileira, defesa das crianças”, disse Bolsonaro.
A campanha do presidente tem destacado seus principais apoiadores para tentar aplacar o impacto das declarações sobre as imigrantes. Já a campanha de Lula recorreu da decisão do TSE que proíbe o petista de mencionar o caso.
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