A inflação quebrou a barreira de dois dígitos em 12 meses no mês de setembro, após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subir 1,16% no mês passado, superior aos 0,87% do mês de agosto. Num país apavorado pelos ecos passados da hiperinflação, o aumento do índice oficial marcou a maior variação mensal para um mês de setembro desde 1994, ano zero do Plano Real, quando o dragão foi finalmente debelado após literais séculos de tortura com os preços dos supermercados. Era o tempo dos remarcadores de preços, a maquininha de etiquetas que colava os preços reajustados a cada movimento, quase diários, de alta.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que calcula o índice, faz a pesquisa dividida em 9 grupos. Oito deles registraram alta, com destaque para Habitação, que contempla os custos de moradia dos brasileiros. Pesou a mão o aumento da energia elétrica, que registrou alta de 6,47%, quando passou a valer a bandeira de escassez hídrica. Também subiu o custo da água e esgoto no índice, depois da alta de 11,93% em Recife e 9,07% em uma concessionária de Porto Alegre. Também o aumento do gás em algumas capitais acentuou o custo de moradia no país.
Mas o aumento foi praticamente generalizado em todos os itens de consumo. A alta dos combustíveis (2,43%), por exemplo, impactou o grupo de Transportes, assim como o aumento das passagens aéreas (28,19%, após queda de 10,69% em agosto), refletindo uma retomada do turismo que chega com o avanço da vacinação.
A pesquisa de preços do IBGE foi realizada entre os dias 28 de agosto de 28 de setembro, comparados com os preços de um mês antes, com abrangência de 10 capitais. Tudo indica que a inflação não dará trégua até o final do ano. Nesta sexta, a Petrobras anunciou um novo aumento, de 7,2%, na gasolina e no gás de cozinha. Na semana passada, o diesel já havia subido 8,9%. O aumento acontece num momento em que a renda média dos brasileiros cai, enquanto o desemprego cede lentamente —há mais de 14 milhões de desempregados. Enquanto o país ensaia recuperação da economia depois da pandemia de covid-19, o comércio, por exemplo, sente o impacto da inflação.
Dados divulgados nesta quinta mostraram uma queda de 3,1% nas vendas em agosto.
Conteúdo e foto El País
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